Atenção, pais: deixar que uma criança pequena passe muito tempo a usar tablets, smartphones e outros aparelhos eletrónicos com ecrãs pode atrasar o seu desenvolvimento de habilidades de linguagem e sociabilidade.
De acordo com um estudo, publicado na revista científica JAMA Pediatrics no final de janeiro, “mais tempo passado em frente a ecrãs aos 2 e 3 anos foi associado ao atraso das crianças em atingirem metas de desenvolvimento aos 3 e 5 anos, respectivamente.”
A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda que o uso deste tipo de dispositivos seja limitado a apenas uma hora diária de programação de alta qualidade para crianças com idades entre os 2 e os 5 anos.
“Em média, as crianças que participaram no nosso estudo estavam em frente a ecrãs durante três horas por dia. Isto significa que a maioria delas excedia as diretrizes pediátricas de não mais que uma hora diária de programação de qualidade, “explica Sheri Madigan, primeira autora do estudo. “Os pais têm de pensar nos ecrãs como dar comida de plástico aos seus filhos: em doses pequenas, não há problema. Mas em excesso, tem consequências,” acrescenta.
Para crianças mais velhas, os pais são encorajados a desenvolver planos personalizados. Contudo, a AAP sublinha que crianças e adolescentes precisam diariamente de, pelo menos, oito horas de sono, uma hora de atividades físicas e de passar algum tempo longe de tecnologias.
Este estudo inclui dados de 2,441 mães e filhos canadianos. As mulheres foram recrutadas quando estavam grávidas entre 2008 e 2010, e os dados recolhidos de 2011 a 2016.
As progenitoras preencheram questionários relacionados com a performance dos seus filhos em testes de desenvolvimento aos 24, 36 e 60 meses. Além disso, também relataram o tempo que as crianças passavam a usar aparelhos com ecrãs num dia típico de semana e de fim de semana.
Os investigadores concluíram que mais tempo de contacto aos 24 meses estava associado a uma pior performance nos testes de desenvolvimento aos 36 meses, e que mais tempo de contacto aos 36 meses estava associado a resultados mais baixos nos testes de desenvolvimento aos 60 meses.
É importante salientar que não está claro se uso de tecnologias é diretamente responsável por um atraso no desenvolvimento infantil, visto que há outros fatores a ter em conta, incluindo a forma como a criança é educada e as suas atividades no restante tempo de lazer.
“O nosso estudo identifica uma correlação entre as duas coisas, e isso não significa que uma cause a outra,” diz a cientista Sheri Madigan.
Quanto tempo em frente a ecrãs é considerado excessivo?
Estas sãos as diretrizes da Associação Americana de Pediatria:
– Para crianças com menos de 18 meses, evite o uso de ecrãs;
– Pais de crianças com idades entre 18 e 24 meses que desejam introduzir o uso de meios de comunicação digitais devem escolher uma programação de qualidade e assistir com os filhos, para ajudá-los a entender o que estão a ver;
– Para crianças com idades entre 2 e 5 anos, o uso aparelhos deve ser limitado a uma hora por dia e a programas de qualidade. Os pais devem assistir com os filhos;
– Para crianças com 6 anos e acima disso, imponha limites conscientes, garantindo que o tempo passado em frente a ecrãs não atrapalha o sono e a atividade física.
A Sociedade Canadiana de Pediatria vai além, dizendo que crianças com menos de 2 anos não devem ter acesso a dispositivos eletrónicos.
A entidade britânica Royal College of Paediatrics and Child Health (RCPCH) também divulgou um conjunto de orientações, mas não estabeleceu limites. Em vez disso, aconselha as famílias a perguntarem-se o seguinte:
– O tempo passado em frente a ecrãs na sua casa é controlado?
– Os ecrãs interferem no que a família quer fazer?
– Os ecrãs interferem no sono?
– Consegue controlar o que a criança come durante o tempo que esta passa em frente a ecrãs?
Se a família ficar satisfeita com as respostas, então é provável que esteja a sair-se bem nesta questão complexa, diz o RCPCH.
Como reduzir o tempo de tela?
A AAP aconselha que as famílias estabeleçam períodos em que os aparelhos não são usados, como refeições ou deslocações de carro, bem como locais da casa em que estes não são permitidos, como os quartos. O RCPCH, por sua vez, diz que os adultos devem analisar o seu próprio tempo de uso de ecrãs e dar um bom exemplo.
A maioria dos especialistas também recomenda que as crianças não tenham acesso a ecrãs uma hora antes de irem dormir, para que os seus cérebros tenham tempo de relaxar.