As ocasiões que causavam grandes ajuntamentos de pessoas como, por exemplo, as missas e concertos, foram reduzidas a streamings virtuais. Com os participantes forçados a assistir em casa, através de ecrãs, a quarentena e o distanciamento social são o novo normal. E isto pode afetar – e muito – a saúde mental.
Em declarações à CNN, a psicóloga Dana Garfin explica que os períodos prolongados de isolamento e o stress derivados da pandemia do coronavírus podem afetar todos de uma maneira diferente. A crise pode sobrecarregar as famílias, agravar situações de violência doméstica e fazer com que aqueles que vivem sozinhos se sintam particularmente isolados. Além disso, os desempregados podem começar a questionar o seu sentido de propósito.
Segundo Garfin, as famílias que passam a quarentena juntas em casa podem vir a tornar-se casos de trauma coletivo, que começa num ponto de impacto e é transmitido aos entes queridos dos afetados. A exposição prolongada aos traumas do coronavírus também pode ativar a reação de lutar ou fugir, também conhecida como reação de estresse agudo, o que, a longo prazo, pode levar a questões mais sérias, como problemas cardiovasculares, ansiedade, depressão e transtorno de stress pós-traumático.
Os especialistas também dizem que a falta de socialização em pessoa, especialmente para aqueles que estão habituados a isso, pode trazer à tona sentimentos de raiva, depressão, ansiedade e, em alguns casos, até de luto. “Existe um luto literal, como o de perder um ente querido,” afirma o Dr. Vaile Wright, da Sociedade Americana de Psicologia. “Mas também há um luto pelas experiências que estamos a perder neste momento. Pode parecer que há muita perda agora; perda de liberdade e de muitas coisas que tínhamos como garantidas”.
Wright sublinha a importância de ter consciência que apesar das circunstâncias, nada disto é culpa nossa. “Penso que temos de reconhecer que isto é algo totalmente sem precedentes, e estamos mesmo a fazer o melhor que podemos. E está tudo bem,” assegura, acrescentando que também é primordial criar uma nova rotina em casa que inclua tomar banho, vestir roupas que não sejam pijamas e fazer refeições em família, em vez de encarar a quarentena como uma espécie de férias. A instabilidade financeira durante a pandemia também cria stress adicional, lembra o Dr. Baruch Fischhoff, psicólogo na Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos.
Os três profissionais na área da saúde mental salientam que as redes sociais são uma ferramenta para para estar em contacto com o mundo, mas avisam que não devem ser procuradas para esclarecimentos sobre a COVID-19, uma vez que há muitas informações contraditórias.
Griffin sugere pensar na quarentena como um esforço de equipa, algo que estamos a viver coletivamente em todo o mundo. “Não estamos sozinhos nas nossas casas; estamos a fazer algo uns pelos outros e pela nossa comunidade. É um esforço partilhado, algo de que todos fazemos parte e algo para que estamos a contribuir. Vai ser difícil, mas não é permanente.”