Já passou mais de meio século desde a revolução sexual, mas muitas mulheres continuam ansiosas na cama porque temem não ter o tipo ‘certo’ de orgasmo.
Alguns terapeutas sexuais dizem que esta ansiedade é causada pela crença de que as mulheres podem ter diferentes tipos de orgasmos, incluindo os vaginais e os clitorianos. Os primeiros são vistos como mais desejáveis, porque supostamente são mais intensos e ocorrem durante o coito com um parceiro. Mas especialistas como a Dra. Vivienne Cass dizem que o conceito não passa de um mito.
“Não existe uma coisa separada chamada orgasmo vaginal”, afirma a sexóloga e autora, em declarações ao portal ABC Health & Wellbeing. “Eu diria que não existe um orgasmo vaginal ou um orgasmo clitoriano; existe fisiologicamente apenas uma resposta de orgasmo”, continua. “Mas há muitas maneiras diferentes de as mulheres vivenciarem isso — onde o sentem, o que sentem, o que sentem em relação a isso. E há mulheres que podem ter um orgasmo sem serem tocadas”.
A Professora Rosemary Coates, ex-presidente da Associação Mundial de Saúde Sexual, concorda e diz que nos últimos 47 anos sempre ensinou que os orgasmos são desencadeados pelo clitóris. “No entanto, há mudanças fisiológicas que ocorrem na vulva, incluindo a vagina e o útero. Algumas mulheres sentem espasmos rítmicos nessas áreas durante o orgasmo”, explica.
O clitóris é só a ponta do iceberg
O termo orgasmo vaginal tem sido usado para descrever o orgasmo que algumas mulheres têm quando recebem estimulação apenas através da penetração. Existem relatos de que esse pico de prazer é diferente daquele que é atingido com a estimulação direta da parte externa do clitóris, a glande, que fica um pouco acima da entrada da vagina.
Em tempos, acreditava-se que o chamado ‘botão mágico’, que contém entre seis mil a oito mil terminações nervosas, era o clitóris todo. Contudo, desde o final da década de 1990, sabe-se que, na verdade, o órgão é muito maior. A glande é apenas a ponta externa. Existe ainda uma grande parte interna, sendo que o comprimento total do clitóris humano é mais próximo do tamanho de um pénis do que do tamanho da ponta do mamilo.
O tecido clitoriano, que se estende mais profundamente no corpo e envolve a vagina e a uretra, também entra em jogo. As partes interna e externa do clitóris são feitas de um tecido erétil que incha com sangue durante a excitação sexual e, como tal, a capacidade de ter prazer com a penetração não exclui o envolvimento do clitóris.
O centro do prazer
A Dra. Vivienne Cass acredita que a vagina em si não é um órgão muito sensível e diz que o canal tem relativamente poucas terminações nervosas. Mas certas posições sexuais podem aumentar a estimulação clitoriana.
“Existem ligamentos curtos que unem o capuz clitoriano [a prega de pele que envolve a glande] à vulva. Portanto, quando a vulva é movida acidentalmente durante a penetração, isso estimula a glande do clitóris”.
A especialista acrescenta que algumas mulheres acham que a pressão da relação sexual, tanto nas paredes vaginais quanto nas paredes das partes internas do clitóris e de outros tecidos, talvez incluindo o colo do útero, é suficiente para levá-las ao orgasmo. “Mas quando falamos de estimulação do clitóris, geralmente, as pessoas estão a falar sobre tocar na parte externa do corpo e a verdade é que a maioria das mulheres precisa disso”.
Agora, muitos investigadores veem a distinção entre um orgasmo “vaginal” e um “clitoriano” como artificial e inútil.
“O mito do orgasmo vaginal foi baseado nas visões um tanto misóginas de Freud sobre a sexualidade das mulheres. Até a década de 1960, vários ‘especialistas’ presumiam que as mulheres que não atingiam o orgasmo durante a relação sexual vaginal eram imaturas”, partilha a Professora Rosemary Coates.
A ex-presidente da Associação Mundial de Saúde Sexual sublinha que quando a anatomia da vulva é claramente compreendida, juntamente com a biomecânica do ato sexual, particularmente na posição do missionário, “é possível ver com facilidade como é que a falta de estimulação apropriada do clitóris resultará em dificuldade em chegar ao orgasmo”.
Resumindo, de acordo com estas especialistas, devido ao tamanho e expansão reais do clitóris, a razão dos orgasmos vaginais (penetrativos é nada mais nada menos que este órgão erétil do aparelho genital feminino.