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Limpar não tem de ser um inimigo. Quando chegar ao fim deste livro, quero que tenha alterado a sua relação com as limpezas.” Pareceu-nos uma boa ideia, esta de permitir que as pessoas tirem o maior proveito de limpezas e arrumações, numa altura em que passamos tanto tempo em casa. Ainda que, para mim, o simples título Cleanfulness me provoque uma imediata crise de urticária, tenho de reconhecer que o mundo está cheio de Marie Kondos. Conheço algumas, tenho uma cunhada que teria dificuldades em decidir entre sair para comer um gelado ou ficar em casa a arrumar o armário dos tupperwares. Tenho uma vizinha que encara qualquer limpeza que meta água uma autêntica bênção dos céus. Pois para mim é como cair o Carmo e a Trindade. Sofro do que a autora secreta (americana a viver na Escócia, dois filhos) de ‘The Little Book of Cleanfulness’ chama de ‘raiva de limpar’, ou seja, sou invadida por emoções negativas sempre que tenho de me agarrar ao aspirador, espanador ou qualquer outro utensílio que me roube tempo às muitas coisas que gosto de fazer. Claro que preferia acordar ao sábado extasiada por ir finalmente arrumar a gaveta dos panos da cozinha, mas confesso que só me apetece deitar a toalha ao chão.

Meditação de avental

Decidi, no entanto, ouvir o que me tinham para dizer sobre esta coisa de mindfulness adaptada às tarefas domésticas. A ideia é que há tarefas que nos podem ajudar a pôr em prática o conceito de ‘limpar no momento’, que vai buscar à filosofia de atenção plena a capacidade de nos concentrarmos no que estamos a fazer, sem pensar no que se passou antes ou no que vai acontecer a seguir (como, se tenho as melhores ideias a lavar a louça?!). “Encare-o como uma espécie de meditação. Isso funciona especialmente bem em áreas muito sujas ou desarrumadas, onde podemos ver transformações imediatas. No armário, por exemplo, que devemos arrumar passo-a-passo (e não fazer como eu, que tiro tudo cá para fora e meia hora depois, desesperada e assoberbada, volto a atirar tudo lá para dentro). Limpar vidros também pode assumir uma expressão poética. “Pense em como ver melhor através da janela está a tornar o seu dia mais luminoso.” Infelizmente a minha experiência é menos romântica: não só o meu dia fica mais negro com a perspetiva de ter de limpar as janelas, como fica literalmente mais escuro, tantas são as manchas que bloqueiam a entrada ao sol. Mas fica a técnica dos dois panos para me ajudar a encontrar a luz: passa-se primeiro um com produto e depois outro totalmente seco. O segredo para os vidros perfeitos parece tão trivial que me faz prometer trocar o treino de braços por uma sessão de limpeza, muito à laia da técnica que o professor Miyagi utilizou com Karatê Kid.

Limpeza intervalada de alta intensidade

“Desafio qualquer pessoa a ver um vídeo de alguém a limpar e não se sentir impelido a levantar-se e a fazer alguma coisa na sua própria casa.” Vá, também não vamos exagerar. Baby steps… Este incitamento faz parte de um capítulo que tem como objetivo levar-nos a redirecionar a nossa raiva e a motivar-nos para as incumbências do lar, com conselhos que vão desde encontrar um compincha das limpezas, que pode estar ao telefone enquanto limpamos, a tirar fotos do antes e depois, partilhando-as depois nas redes sociais, numa conta especialmente criada para o efeito e que pode ser anónima. Tenho dois preferidos, uma preferência irónica que é pedir ajuda aos outros, tornando o tema num desbloqueador de conversa (já me imagino num bar: ‘então, o que usas para limpar a sanita?’), e outro genuinamente favorito chamado delegar.

Tenho de admitir que gostei da ideia da limpeza inspirada no treino intervalado, não preferisse mil vezes fazer 100 abdominais a tirar a loiça da máquina. Portanto, programamos num timer 15 ou 30 minutos e limpamos o mais vigorosamente que pudermos nesse espaço de tempo. “Ficará surpreendida com a quantidade de trabalho que conseguimos fazer num curto e pré-determinado intervalo de tempo.” Não mais do que fico quando vejo que muito menos demoram os meus filhos a lançar novamente o caos.

Good girl!

“Depois de atingir os seus objetivos, veja a sua série preferida, beba uma chávena de chá, vá dar um passeio…” Olho para os biscoitos do cão, enquanto me recrimino por fazer isso tudo independentemente do ajuntamento de pratos que reclamam banho na cozinha. Noutros pontos, revejo-me plenamente, quando a misteriosa entusiasta das limpezas diz que, mais do que a perfeição, o que importa aqui é o progresso, embora seja uma ideia que me custe pôr em prática. Ou seja, o mar de desorganização é por vezes tão grande que na minha mente não vale a pena tratar das pequenas poças. “Não espere até ter o produto perfeito, a caixa de arrumação perfeita ou um dia inteiro para gastar. Isso é só o seu cérebro a procrastinar uma tarefa que não quer fazer. Comece antes de estar preparada, mas comece em pequena escala. O seu objetivo é o progresso, não a perfeição. Cuidado com a limpeza impossível. A sua casa é um lar, não uma rubrica de revista – não pode estar sempre perfeitamente limpa.” Agradeço do fundo do coração por me ter livrado da culpa exacerbada provocada pelos enquadramentos impecáveis que vemos no Instagram, os cantos minimalistas com a decoração perfeita – e agora a moda das deusas da bricolage em tempos de confinamento?! Parece que para este mal também há solução, que quando se consegue atingir um objetivo, por pequeno que seja, vamos querer continuar, graças às hormonas do bem-estar. É a tal teoria dos resultados motivadores que também se aplica ao exercício e à dieta, mas temo que na limpeza esses resultados sejam tão efémeros que não cheguem a produzir efeito, especialmente numa casa confinada de quatros pessoas e um cão. É tudo uma questão de bons hábitos, já sabemos, e o livro traz alguns conselhos nesse sentido, como ir limpando as portas dos armários enquanto se faz o jantar (e beber um copo de vinho – dica extra, não têm que agradecer) ou passar um pano no frigorífico antes de ir às compras.

É bonito e prometo esforçar-me, mas dificilmente me verão a contar os dias para arrumar a gaveta dos tarecos. Se o fizer, é mau sinal. Como naquele texto que, durante a pandemia, circulou nas redes sociais, em que uma pessoa, enlouquecida pelo confinamento, começa a falar com os eletrodomésticos e conclui: “Valha-me o ferro que me acalmou dizendo que ‘tudo vai passar’.”

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