Há uns tempos, a minha mãe encontrou uma antiga professora minha do secundário.
Ou, melhor, a professora é que foi falar com ela: “Fui professora de Física da sua filha.” Resposta da minha mãe, verdadeiro testemunho de orgulho maternal: “Ai não deve ter sido grande aluna…” Por acaso, quase fui para Física por causa daquela professora (o que teria sido, concordo, uma catástrofe pessoal e mundial). E fiquei a pensar na enorme influência que os bons (e maus…) professores podem ter no nosso destino.
Mas, afinal, o que é que faz um bom professor? É a pergunta da revista americana ‘The Atlantic’, que afirma: “Os pais sempre se preocuparam com a escola onde punham os filhos. Mas a escola não interessa tanto como o adulto que está à frente das crianças.”

“Que expliquem bem…”

Lembrando os adultos que durante anos estiveram à minha frente, a minha única exigência era: que explicassem bem. Ah, e que não fossem desaparafusados. Mas será que a nova geração tem as mesmas básicas aspirações? Nada melhor que perguntar à nova geração.
Liguei à filha da minha amiga Helena, a Maria, de 14 anos, e pus-lhe a questão: o que é para ti um bom professor? Adivinhem lá: “Um que explique bem…” Pelos vistos, as coisas não mudaram assim tanto.
Mas ela não se ficou por aí: “Um bom professor explica as coisas em vez de se limitar a ler do livro, mas ao mesmo tempo não dá tudo ao contrário. Conta factos divertidos de vez em quando, é culto, sabe do que fala.” Já agora, como é um mau? “Um mau dá sermões sem sentido em vez de dar aula, irrita-se por nada, e é chato, desorganizado e injusto.” Pois… E como é que se atura um mau professor? “Não lhe dando muita atenção. Pensa-se noutras coisas, chama-se nomes na cabeça, pensa-se que não é para sempre…
E para agradecermos a um bom professor? “Esforçamo-nos ao máximo para tirar boas notas, somos simpáticos, estamos com atenção, e quando ele sugere alguma coisa, participamos.” Procuro outra aluna, a Beatriz, com apenas 12 anos. “Pensa nas boas professoras que tiveste. Como eram?” A resposta vem de chofre: “Eram caladas.” Ó diabo.
É a minha vez de ficar, bem, calada. Acho que ouvi mal. “Eram caladas?”, repito.
Ela explica: “Eram reservadas. Eram amigas, mas não demasiado amigas. Eram simpáticas, mas não exageradamente.Eram tudo nas quantidades certas. Explicavam bem. Eram exigentes. Eu gosto que sejam exigentes comigo, se me tiverem explicado bem as coisas.”

Quem és tu?

Muita paixão por aquilo que faz. É, segundo Dila Sá, a base de todos os bons professores, agora e sempre. Reformada há pouco tempo, foi professora de português e francês de vários níveis durante 47 anos desde os anos 70, e recorda que, além da paixão, um bom professor tem de ter outra qualidade mais prosaica mas não menos preciosa: paciência de santo. “Um bom professor tem de gostar de estar com os alunos, tem de sentir prazer e às vezes fingir que não percebe uma provocação. Eles poem-nos à prova a todo o momento e se os levamos sempre a sério passamos a aula a resolver problemas. Temos que saber gerir os conflitos que surgem entre eles, porque os miúdos chegam hoje à escola a pensar que podem fazer tudo.”

O terceiro mandamento é ir ao encontro dos gostos de cada um. “Por exemplo, no princípio da aula eu jogava sempre com eles o jogo de ‘quem sou eu’, em que tentava perceber como cada um deles aprende melhor.” Quando começou a dar aulas, o que se usava era uma aula expositiva, em que o professor debitava a matéria. Mas Dila percebeu logo que isso na prática não resultava. “Agora o professor tem que se ser criativo e arranjar atividades para estar constantemente a interagir com os alunos. Por exemplo, há pouco tempo dei a ‘Viúva e o papagaio’ da Virginia Woolf, um livro que adoro, mas antes de começar, encorajava-os a fazerem pequenas pesquisas: onde era aquela terra, que rio passava por lá, e assim riava uma ligação à matéria.”

Dila Sá ficou conhecida como uma das professoras que mais crianças pôs a ler. Segredo? “Tinha um projeto conjunto com duas bibliotecas: durante um mês eles requisitavam livros, tinham de fazer publicidade ao livro, e depois faziam um pequeno trabalho mas não era uma ficha de leitura nem era obrigatório, eles faziam o que queriam, até podia ser um desenho. Às vezes esses pequenos trabalho ao gosto de cada um faziam a diferença entre o 3 e o 4, ou entre um 4 e um 5.” Cada vez mais, um professor é um entertainer? “É. Mas atenção, tudo em nome da matéria. Sei que fui uma boa professora, mas dá muuuuuuuuito trabaalho! Havia dias em que chegava a casa e não tinha capacidade para mais nada. Mas houve muitos alunos que ficaram meus amigos para sempre. E é muito bom saber que fizemos um trabalho bem feito.”

Um trabalho doido

Nem toda a gente tem uma Dila na sua vida, mas muitas vezes as pessoas mais gratas são… as mães dos alunos. Mãe de um rapaz de 17 anos que correu muitos professores, Teresa Portela responde imediatamente quando se lhe pergunta qual o melhor professor do filho: “O professor de Português, um homem fantástico, absolutamente dedicado. Não fazia testes mas trabalhos, e todas as semanas havia fichas. O João Pedro teve logo negativa, porque não estava habituado a trabalhar. Certo dia, a propósito do Holocausto, pô-los a ver o filme da Anne Frank, e todos os miúdos choraram desalmadamente… [ri] Tinha um trabalho doido. O que é facto é que todos os alunos gostavam dele. Ele dava o que vinha no programa e o que não vinha, estimulava os miúdos para não se deixarem adormecer à sombra da bananeira.”

O oposto também havia, pois havia: “Lembro-me de um que tinha o seguinte método: todas as semanas os alunos votavam no mais mal comportado, e esse era castigado! Era absolutamente pidesco! Entretanto, os miúdos, para se safarem, juntaram-se e, às tantas, a ‘vencedora’ foi a sossegadinha da turma, que não fazia mal a uma mosca. [ri] Coitadinha, deve ter sido a surpresa da vida dela!” E qual é o papel de uma mãe nestes casos? “Ainda lhes disse, juntem-se e recusem-se a votar, mas eles são muito desorganizados. Sou a mãe mais calada das reuniões de pais, mas aí fiz um escândalo tal que a coisa acabou.”

Ser professora não é ser mãe


E quando se é ao mesmo tempo mãe e professora? Ana Cristina, professora de Biologia, é mãe de cinco crianças entre os três e os 12 anos. Como é estar dos lados da barricada? “Penso que não me encaixo no tipo de mãe chata, não me intrometo no trabalho dos meus colegas, a não ser que haja alguma coisa que não esteja a correr bem.” O que é para ela, enquanto mãe, um bom professor? “Estabelece objectivos e deve ser compreensivo. Às vezes achamos que as duas coisas são contraditórias, que um professor exigente não pode ser meigo, mas para mim as duas coisas andam a par.” Isso é um bocado o que é ser mãe, não é? “Claro. É o saber dizer não, e também saber dar-lhes um elogio, que eles gostam tanto de ouvir.” Claro que uma das queixas, atualmente, é que os professores também têm de ser pais dos alunos… É mesmo verdade que os pais se demitem do papel de pais? “Muito. Educar faz parte de ensinar, mas uma coisa é a educação que a escola pode e deve dar, outra é a educação dada na família. Em vez de professores, querem que sejamos pais, mães, psicólogos…” O pior, quando não se gosta de um professor, é que a pessoa tem tendência para não gostar da disciplina. “O que eu aconselho é, não pensem nisso.
Aprendam a separar as águas. E, outras vezes, achamos que eles vão gostar de um professor e eles detestam. A minha filha tinha uma professora que dava as aulas baseada em powerpoints, e ela detestava! Muitas vezes, as novas tecnologias são menos importantes que o contacto humano.
Agora voltou a professora antiga, que fala com eles. Isso continua a ser o mais importante.”

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