Todos os dias atendem pessoas com dúvidas, depressões, sofrimentos vários, ou simplesmente a precisar de alguma orientação. Fomos à procura de 7 especialistas em felicidade e ouvimos muitas ideias que podem mudar a nossa vida.
1 LIMITAR O TELEMÓVEL
“O primeiro conselho é parar de procurar uma receita mágica para viver melhor. Hoje, queremos ser felizes já, e de preferência sem dar trabalho. E queremos tudo perfeito: os filhos não podem ter um ‘satisfaz’, a casa tem de estar impecável, a pessoa com quem estamos tem de ser a ideal. E portanto queremos sempre mais e vivemos numa insatisfação constante.
Há coisas que ajudam: comece por desacelerar. Parar um bocadinho e tentar tirar carga dos ombros. Recebo cada vez mais pessoas que se queixam de ansiedade, de pressão social, profissional, pessoal. Claro que as pessoas não podem deixar os empregos, mas podem estar atentas. E não estar sempre com o telemóvel ligado, a ter notificações sempre a ‘pingar’. Se estamos sempre a desligar para ver o que se passa, acabamos por demorar o dobro do tempo a fazer o que quer que seja, e temos o cérebro constantemente em alerta. Muitas vezes não nos apercebemos disso, mas é uma das maiores razões para o nosso stresse permanente, que é altamente oxidativo e nos envenena a vida. Quando isto acontece continuadamente, temos níveis de cortisol constantemente a disparar, o que aumenta a probabilidade de doenças (inclusive oncológicas). Portanto, não podemos continuar assim. Mas as medidas de ataque são tão simples que a maioria das pessoas as despreza: dar um passeio, apanhar ar, estar com as pessoas de quem gosta. são estas as ‘soluções mágicas’.
Conselho de bónus: não se esqueça de comer melhor. Nunca pensamos na alimentação como estando relacionada com a saúde mental, e está. Hoje em dia não ingerimos alimentos suficientemente variados, faltam-nos nutrientes essenciais, e esta ementa rica em produtos processados e açúcar pode aumentar em 30% o risco de depressão, o que é espantoso. Tudo isto é uma bola de neve.”
ALEXANDRA BARROS, psicanalista especializada em crianças e adolescentes
2 VALORIZAR O ESFORÇO
“As pessoas dizem-me muito que não têm tempo para fazer nada, mas não têm é motivação. Por exemplo, não vão dar um passeio no parque, mas se tiverem companhia já vão. Assim, perceba o que é importante para si e esforce-se para o alcançar. Por exemplo, sei que fazer desporto me faz bem, mas muitas vezes não me apetece ir ao ginásio. Portanto, temos de valorizar o esforço e dar um compasso de espera para que as coisas aconteçam.
Para mim, o bem-estar é uma coisa tranquila, serena. Mas muitas vezes para atingir essa paz temos de fazer algum esforço.
Por exemplo, eu posso achar que vivo muito bem no sofá. Mas uma coisa é fazer isso todos os dias sem pensar, porque não tenho alternativa, outra é abrir uma garrafinha de vinho e relaxar depois de um dia de trabalho. Quantas vezes não me apetece tornar a sair para jantar com os amigos? Mas vou, porque sei que depois me vou divertir.
No outro dia fui fazer uma massagem ayurvédica. E aquilo custou-me imenso. Mas depois, ao longo do dia, senti-me muito bem. Portanto, temos de encontrar a nossa motivação para fazer um esforço.
Pode apetecer-me ir passear em vez de ir trabalhar. Não posso deixar o trabalho… Mas posso dizer: ‘Hoje não posso, mas se no domingo estiver este tempo vou dar o meu passeio.’ Não tem companhia? Vá sozinho. Na nossa cultura não valorizamos o tempo que passamos connosco. ‘Então, mas vais sozinho?’ Não, vou com o meu melhora amigo: eu. É bom sair com outros, e é bom estar sozinho; podemos fazer aquilo de que gostamos e estamos muito mais atentos, porque não nos centramos nas necessidades do outro.”
TIAGO LOPES LINO, psicólogo e sexólogo
3 ACEITAR QUE NÃO PODEMOS FAZER TUDO
“Nas primeiras consultas, digo às pessoas que não lhe posso tirar o medo nem a ansiedade, porque são emoções úteis, têm uma função. O importante é saber que não podemos apagar os defeitos que não dão jeito, e devemos aprender a conviver mais saudavelmente com as nossas imperfeições, as nossas incoerências, as nossas dúvidas, os nossos limites. Porque é isso que faz a nossa complexidade como seres humanos. E estando conscientes disso, podemos regular-nos de forma mais eficaz.
Somos demasiado exigentes connosco e como não conseguimos controlar tudo, sentimos que falhámos. Aceitar os meus limites não significa deixar de tentar atingir aquilo que quero, mas passamos a ter um conhecimento mais abrangente de nós. Outras vezes não tentamos mudar-nos apenas a nós, mas mudar também os outros, e somos igualmente exigentes com eles, porque a perfeição utópica que cobramos a nós também exigimos ao mundo. Não posso mudar a outra pessoa, só posso mudar a minha forma de comunicar com ela.
Podemos ‘flexibilizar’ a idea de perfeição e gerir melhor os nossos limites para podermos evoluir de maneira construtiva, connosco e com os outros.”
MARTA SANNINO, psicóloga clínica e psicoterapeuta pela Sociedade Portuguesa de Psicoterapias Construtivistas
4 PASSAR CINCO MINUTOS A DANÇAR
“Vezes sem conta ouvimos dizer que a vida é difícil. Mas será que arriscamos torná-la melhor? O medo e o preconceito são por vezes os grandes obstáculos, superá-los é o desafio para apreciarmos e desfrutarmos desta jornada. Viver melhor é possível, e por vezes pequenas decisões transformam completamente o modo como vivemos.
Algumas sugestões: dance mais confie na linguagem do movimento, do corpo como forma de autoconhecimento e transformação. Tem dez minutos? Vá para o quarto e dance. Adote um animal e descubra uma dimensão invulgar de compreensão, responsabilidade, fidelidade e amor incondicional. Faça amigos apenas entre as pessoas que querem o melhor para si. Poderemos não mudar o mundo de imediato, mas estaremos a dar um valioso contributo.”
MARGARIDA CASIMIRO, psicoterapeuta, hipnoterapeuta e mestre em dançaterapia
5 TER UM PLANO
“Relembre aquilo que tem na sua vida e pelo qual está grato. Um exercício de gratidão pode ser simplesmente fechar os olhos e lembrar-se de coisas simples, ou pode sentar-se e escrevê-las. Ser capaz de agradecer é uma arma contra a frustração, traz-nos satisfação interior, um sorriso interno, alguma paz, tolerância para connosco e reconhecimento pelo que já conseguimos alcançar. Quantas vezes não celebramos as nossas conquistas? Depois, é importante procurarmos alcançar objetivos concretos.
Muitas vezes fazemos imensas promessas no princípio do ano, que depois vão perdendo gás porque foram mal pensadas, são irrealistas e não se encaixam na nossa vida. O importante é ter uma estratégia, para lá do impulso.
Portanto, sente-se e trace um plano, faça uma reflexão consciente de como é que vai chegar lá e segmente esse objetivo, para o tornar alcançável. Em vez de dizer ‘quero deixar de fumar’, é mais fácil pensar ‘este mês, quero fumar menos 10 cigarros’. E claro que tem de ter significado pessoal.
Se quer deixar de fumar ou perder peso porque o seu marido ou a sua mãe acham que devia, a decisão não vai ter tanta consistência.
Também é mais fácil se criar balizas temporais mais curtas. Em vez de dizer ‘este ano vou perder 30 quilos’, diga ‘esta semana vou perder 500 gramas’. Isso será bastante mais lógico.”
ANTÓNIO NORTON, psicólogo, especialista em análise bioenergética e EMDR, Clínica Oficina de Psicologia
6 DIZER A ALGUÉM ‘GOSTO MUITO DE TI’
“Preste mais atenção às pessoas que estão consigo: marido, mulher, irmãos, pais, amigos.
Hoje vivemos para o umbigo, olhamos muito pouco para os outros e raras vezes lhes dizemos como gostamos deles e como são importantes para nós. Levo a vida toda a dizer isto nas consultas, mas habituamo-nos muito a tomar os outros como garantidos e cada vez mais nos esquecemos de que as relações precisam de ser nutridas e alimentadas.
E tal como nós gostamos de ouvir que somos amados, os outros também precisam disso, porque isso é que nos garante a aproximação e a intimidade. Mas achamos que o facto de mostrarmos um lado mais sensível nos fragiliza aos olhos dos outros. É engraçado que muitas vezes dizemos isso a terceiros mas não aos próprios. O quanto gostamos deles.
Conheço alguém cuja mãe morreu há pouco tempo. E ela ouvia as pessoas a falarem da mãe, o quanto dizia bem dela, estava orgulhosa dela, etc. Mas essa não foi a relação que ela teve com a mãe, que não foi capaz de transmitir todo o seu amor à filha, o que teria aliviado a tensão entre as duas.
Em terapia de casal, começo por pedir às pessoas que saiam um pouco do forte onde se entrincheiraram e que digam ao outro como gostam dele. O individualismo, que é uma característica muito própria deste século, não favorece nada a nossa relação com quem amamos. Somos um povo incrivelmente solidário e uma sociedade de causas, viradas para o outro, e isso é fantástico, mas a proximidade com quem está nas nossas vidas complicou-se muito. É mais fácil pôr um post no Facebook do que sair de casa e dar um abraço ao amigo ou mesmo fazer um simples telefonema.”
CATARINA MEXIA, especialista em terapia de casal e hipnoterapia, formadora e supervisora da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar
7 PERCEBER QUE NÃO SOMOS ESPECIAIS
“Nós levamo-nos demasiado a sério. Somos naturalmente egocêntricos, e passamos a vida a achar que somos o centro do mundo. Se nos descentrarmos, vamos perceber que não temos tanta importância. Gostamos muito daquela frase ‘Você sabe com quem está a falar?’ (risos). Existem 7 mil milhões de galáxias e a nossa é a mais pequena, dentro da galáxia há 7 mil milhões de estrelas e nós giramos à volta da mais pequena, vivemos no terceiro mais pequeno planeta, existem milhões de espécies e nós pertencemos a uma, e por aí fora. Porque havíamos de nos sentir especiais?
É bom ter um grande ego na medida em que isso nos protege dos egos dos outros, mas não nos serve de muito assumirmos permanentemente essa dimensão. Devemos ter autoestima, que é o balanceamento dos autoconceitos, ou seja, o balanceamento entre aquilo a que somos bons e aquilo a que somos menos bons. Mas não demasiada. O truque está em tornar as coisas mais leves, quer para nós quer para os outros.
A única coisa importante é estarmos vivos: a partir daí temos liberdade para experimentar tudo. Porque assim, se não conseguirmos, também não é um drama. O Oscar Wilde dizia: ‘Nenhum homem pode conquistar todas as mulheres, mas tem pelo menos obrigação de tentar’ (risos). Claro que isto é uma piada, como é óbvio, mas podemos vê-la como metáfora da felicidade: não temos obrigação de conseguir tudo, de sermos bons a tudo, mas nada nos impede de tentar mesmo sabendo que podemos não conseguir. E assim como nos libertamos a nós dessa pressão de sermos vitoriosos e de termos sucesso, também libertamos os outros, também lhes damos espaço para ser quem são.”
JOSÉ CARLOS GARRUCHO, especialista em terapia de casal e programação neurolinguista, formador e supervisor da Associação Portuguesa de Terapia Familiar