Os portugueses foram às urnas em massa nas legislativas do passado domingo, 10 de março. Feitas as contas, há muito que o País não registava uma taxa de abstenção tão baixa, com o número a fixar-se nos 33% em território nacional.
Esta é uma boa notícia, não só porque acontece no ano em que se celebra meio século do 25 de abril, mas também porque a abstenção superou os 51% no sufrágio de 2019, valor recorde em democracia.
Dito isto, como a Ciência pode explicar este ponto de viragem? Aqui ficam quatro razões, conforme partilhado por Glenn Geher, professor catedrático de Psicologia, na revista “Psychology Today”.
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A participação eleitoral preserva a democracia
Os seres humanos desenvolveram fortes tendências para o igualitarismo e a democracia, mas a História diz-nos que os governos totalitários de cima para baixo têm a sua maneira de assumir o controlo quando as pessoas se tornam complacentes; muitas vezes quando estas menos esperam (Bingham & Souza, 2009). -
Votar dá-nos uma sensação de controlo
Tomar decisões que nos dão a impressão de que controlamos o ambiente é uma forma poderosa de melhorar o humor e o otimismo relativamente ao futuro (Alloy & Abramson, 1979). -
Votar está relacionado com bem-estar
Segundo o trabalho de Ward et al. (2021), o bem-estar subjetivo está fortemente relacionado com os comportamentos eleitorais. Embora as descobertas incluam várias nuances, esta é uma das principais conclusões. Os investigadores descobriram que as pessoas que tiveram uma pontuação baixa no campo do bem-estar e depois votaram, muitas vezes, acabavam a sentir-se melhor consigo mesmas. -
Votar pode nivelar as coisas
Um facto triste é que, de acordo com dados do Pew Research Center, nos Estados Unidos, entre outras fontes, os eleitores tendem a ser, em média, mais ricos e instruídos comparativamente aos não votantes. Isto vai contra os princípios da própria democracia, permitindo que alguns relativamente “privilegiados” tenham uma voz mais poderosa quando se trata de eleições.Isto sugere duas implicações importantes. Em primeiro lugar, as pessoas jovens e/ou com poucos recursos percebem que as eleições numa democracia, na verdade, afetam mais o seu futuro. Portanto, é particularmente importante que alguém em tal situação faça ouvir a sua voz. Em segundo lugar, dada esta realidade, cabe a todos nós, independentemente da orientação política, ajudar a moldar as estruturas sociais.