A gravidez é, sem dúvida, um estado que contina a gerar sentimentos contraditórios e, em muitos casos, incompreendidos. Se é verdade que para muitas mulheres é um estado de graça, para muitas outras é o oposto. E não há nada de errado nisso. Nem todas vivemos e sentimos a gravidez da mesma maneira, o que nada tem a ver com o que sentimos em relação ao bebé que carregamos dentro de nós.
A mesma romantização da gravidez estende-se muitas vezes ao pós-parto, que é naturalmente, uma fase particularmente dura, em especial quando se trata do primeiro filho. Parece que há uma certa vergonha em assumir que, apesar do sentimento de amor que possamos ter por aquele bebé, o excesso de trabalho, a privação de sono e a montanha-russa das hormonas esmagam-nos de tal forma que o estado de tristeza – de depressão em muitos casos, invade-nos sem pedir licença.
É preciso desromantizar a gravidez e o pós-parto e aceitar que somos todas diferentes e que é isso que é o normal. E nesse campo, as figuras públicas, sobretudo nesta época das redes sociais, têm uma responsabilidade acrescida nesse sentido.
Felizmente, na última década, as coisas têm melhorado nesse sentido e é cada vez mais normal ouvir mulheres dizerem que não gostaram de estar grávidas ou falarem abertamente do horror do pós-parto. Uma delas foi a atriz Jessica Athayde, que num único post sobre a sua experiência fez um trabalho incrível para a normalização desses sentimentos em relação àquele que é ainda chamado um estado de graça. Ou, mais recentemente, a atriz Dânia Neto, que foi mãe pela segunda vez.
Agora foi a vez de Mariana Cabral, mais conhecida por Bumba na Fofinha, tocar nessa mesma ferida. Em entrevista ao podcast “Geração 80”, de Francisco Pedro Balsemão, a humorista chamou a atenção para essa responsabilidade das figuras públicas:
‘Acima de tudo, sentia que, nas redes sociais, nos exemplos que temos de figuras públicas, o pós-parto é uma altura mesmo difícil e para casais que sejam companheiros e que partilhem as coisas… toda a gente sabe que é uma altura mesmo difícil. E os únicos relatos que tínhamos de figuras públicas eram de recuperações em duas semanas.’, começou por dizer.
Foi também nesse sentido que aceitou ser capa da revista Women’s Health pouco tempo depois de ser mãe, de Clara, que ansceu em maio de 2022:
‘Não é real, não é sequer desejável! Mesmo pessoas que passam um pós-parto inteiro nesta busca de voltarem rapidamente àquilo que eram antes, muitas vezes, é muito pérfida e insidiosa essa viagem e, como eu não via exemplos, pensei: ‘Por que não?’’, recordou a humorista.
‘Ainda por cima, eu acho que recuperei rápido. A biologia esteve do meu lado, mas pensei: ‘Deixa cá ser só normal’. O que é surreal ser um statement ser-se só normal numa revista e ser só normal é um bocadinho surrealista”, afirmou.
Na longa conversa, onde falou do seu prcurso pessoal e profissinal, Mariana Cabral vai mais longe no que às redes sociais diz respeito e do seu papel na saúde mental, justificando a sua procura por conteúdos reais: ‘Se nas nossas redes só temos feeds bonitos e fluorescentes, é mais rápido acharmos que nós é que estamos errados, que nós é que estamos sozinhos e a viver numa bolha escura, quando toda a gente lá vai.’, remata.