Quem toda a vida viveu na
Foz e está habituado às suas típicas casas de família, cheias de luz e história, não imagina o que este chalé sofreu por dentro, cuja fachada de finais de Oitocentos, quase intacta, esconde os interiores modernos reerguidos há oito anos.
A grande casa unifamiliar transformou-se assim num
edifício de cinco andares, com dois apartamentos em cada um, salvo o da garagem, em baixo, e o duplex, na cobertura açoutada com 225 metros quadrados.
Cláudia Jacques, decoradora autodidacta, interveio na arquitectura de interiores e decoração dos dois apartamentos do último piso, abertos num só. Depois, tomou conta da zona de esconso, acrescentando-lhe o piso transformado em duplex. A intervenção de raiz nos espaços apenas foi possível por o edifício estar em construção na altura em que o último piso e o sótão foram adquiridos.
No andar de baixo, Cláudia abriu um amplo salão, virado ao mar. A
sala de jantar, localizada junto à cozinha, na zona oposta, apresenta dimensões mais contidas e clássicas, de forma a tornar-se reservada. Toda a disposição de ambientes e escolha de materiais passaram pelas suas mãos. "Primeiro idealizei o espaço consoante as necessidades, dando primazia à sala de estar. A sala de jantar foi projectada de modo a ficar separada da de estar porque acho mais agradável criar ambientes estanques", explica Cláudia, adiantando: "Na altura, eram necessários três quartos no piso de cima mas entretanto um deles foi convertido em escritório. Dei também alguma prioridade a arrumos."
O esconso foi aproveitado com três armários muito fundos, onde se podem guardar malas, roupa ou acessórios. O mesmo aconteceu no piso inferior, pois ao optar por uma casa de banho de serviço mais pequena, uma vez que tem pouco uso, privilegiei um armário para guardar os casacos, à entrada. "Acompanhei a obra diariamente na fase dos acabamentos. Consultei revistas, fui a feiras…"
Helena Pereira da Costa, da Atmosferas, teve um papel igualmente activo na decoração do duplex, dando sugestões de recursos e peças algumas delas desenhadas à medida. O
escritório, por exemplo, é da sua responsabilidade. Está revestido com o mesmo papel de parede da sala de estar, todo o pavimento é em afizélia e as portas em folheado. "Optei por tons terra muito claros, com apontamentos de rosa e dourado", diz Cláudia. "Acho que a decoração fica mais leve e facilmente se pode mudar mantendo as cores base." O mármore travertino aplicado na casa de banho social e na lareira contrasta com o inox escovado dos puxadores das portas, do corrimão das escadas e do próprio fogão de sala.
Outra boa ideia: a colocação do tapete claro na sala de estar marca o espaço junto ao móvel-estante. Sobre ele, banquetas mandadas fazer na Atmosferas. O facto de não serem quadradas dá-lhes originalidade. O pavimento das varandas, viradas ao mar e à cidade, acaba por ser um prolongamento dos interiores. Foi revestido com taco, rematado nas extremidades por fileiras de brita que desenham o rectângulo ou quadrado que a própria varanda inscreve no chão.
Embora já muito descaracterizada, a
Foz do Porto pode ainda orgulhar-se de manter de pé muitos dos primeiros edifícios que aí foram erguidos quando a alta sociedade inglesa e portuense a demandavam em busca dos benefícios do iodo e ares marinhos. Depressa se tornou zona de luxo, o que fez subir o valor dos terrenos junto ao mar, uma das desvantagens (ou vantagens?) do progresso. A paisagem tornou-se confusa e descaracterizada. Houve, contudo, casos de sucesso, como o deste chalé reconvertido. Mesmo junto à
Praia dos Ingleses.