![65.gif](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/4/2019/09/60871065.gif)
Nuno Montenegro projetou o edifício com uma série de elementos que suscitam interrogações. As figuras humanas recortadas em paredes e portadas, as formas oculares nos balcões da entrada, a fórmula H2O gravada no teto da sala de convívio são os mais visíveis.
FG+SG Fotografia de Arquitectura
Orientado a sul, o edifício fica no topo do terreno, exercendo a sua influência arquitetónica sobre uma extensa área. Ao fundo, a densa mata forma um cenário natural. Subindo a comprida rampa, em betonilha clara, ladeada por espaços relvados, o volume paralelepipédico, que ao branco dominante soma superfícies em preto, revela as suas contidas aberturas geométricas. No piso superior, uma janela quadrada emoldura um vão revestido com centenas de pedras e um rasgo retangular ilumina um dos pátios interiores. No térreo, recuado em relação ao primeiro andar, há uma sequência de figuras humanas recortadas nos painéis da entrada.
Contornando o edifício, que está parcialmente enterrado, pouco se percebe a diferença de cotas, lentamente absorvida nas paredes da construção. “A relação dos corpos e o dimensionamento dos vãos coadjuvam na redução da escala. A Escola Superior de Tecnologia e Gestão, com 4200 metros quadrados, é a maior do Instituto Politécnico de Beja e, no entanto, parece a mais pequena”, nota o arquiteto Nuno Montenegro.
Refletindo sobre o conceito de escola, “o que significa habitar intermitentemente uma construção dedicada ao pensamento?”, Nuno Montenegro projetou o edifício com uma série de elementos que suscitam interrogações. As figuras humanas recortadas em paredes e portadas, que ora habitam os espaços, ora enquadram a natureza envolvente, as formas oculares nos balcões da entrada, a fórmula H2O gravada no teto da sala de convívio e a sanca em lágrima na escadaria do piso inferior são os mais visíveis. O que representam? Mas há ainda outros elementos, que só os observadores mais perspicazes decifram: a pequena porta da entrada principal dá acesso a uma área com um pé-direito de 15 metros, os corrimãos são em escada, os vãos interiores repetem-se para anular as hierarquias espaciais adjacentes e as portas estreitas e altas no interior tornam-se largas e baixas no exterior. O que significam?
O desafio é lançado por elementos arquitetónicos, pretende-se que alunos, docentes e visitantes assumam uma postura crítica em relação ao próprio edifício, mas deve ser aplicado sobretudo no contexto académico. “O pressuposto é interrogar, para posteriormente procurar respostas e, finalmente, aprender com esse processo informal de obtenção e transformação da informação”, explica o arquiteto. Já escrevia Honoré de Balzac, no século XIX, que “a chave de todas as ciências é, inegavelmente, o ponto de interrogação”. O projeto responde, deste modo, ao novo paradigma universitário, herdeiro de Bolonha, que concede ao aluno um papel mais interventivo e autónomo.