A casa, em Hadspen Estate, Somerset, no sudoeste de Inglaterra, tem 253m² e está integrada numa propriedade com 343 hectares. A reconversão da antiga vacaria em habitação obrigou a alterações espaciais profundas, entre as quais a remoção do alpendre e o aumento da área de construção. Ainda a obra ia a meio quando os planos mudaram: o que originalmente deveria ser uma casa para alugar transformou-se num retiro para o proprietário. Assim, o programa contemplou, para o volume existente, uma suíte, despensa, cozinha, sala de estar, escritório e sanitário (no térreo), e quatro quartos no primeiro andar, ao qual foi anexado um volume para albergar duas instalações sanitárias e uma área de distribuição com acesso, por escada, ao térreo. Este corpo surge como uma extensão da estrutura existente. No entanto, ambos estão unidos pela mesma linguagem estética, resultado de uma intervenção que se pretendeu ‘invisível’.
Madeira empilhada junto à antiga vacaria e “a novela erótica e tratado de arquitetura oitocentista, La Petite Maison – A Architectural Seduction, de Jean-François de Bastide”, foram, nas palavras do coletivo de arquitectos, as principais fontes de inspiração. A casa é marcada pela interpolação do carvalho com vidro laminado, cuja disposição origina um efeito de refração e reflexo, criando no interior um ambiente ‘submarino’ em permanente mutação, consoante a hora do dia e a altura do ano. De manhã, a luz fraca de nascente faz com que o vidro funcione como um prisma, projetando losangos verde-água no chão e paredes. Ao meio-dia, com o sol a pique, a luz já entra pelas aberturas do teto, trespassando o passadiço de vidro espelhado, do primeiro andar, cuja transparência faz com que seja possível iluminar o piso térreo. À noite, a luz faz o percurso inverso, refletindo as labaredas da lareira pela casa.
Desde o início que o objetivo foi utilizar o maior número possível de materiais locais, sobretudo na nova edificação: a madeira, cortada e seca nos celeiros de Hadspen Estate, manteve o seu aspeto rústico; o vidro foi cortado seguindo a mesma estética. As empenas foram construídas com vigas rígidas, formando uma arcada na estrutura metálica que, por sua vez, foi fixa ao edifício existente. A extensão foi erguida por um carpinteiro local, Paul Longpré, que trabalhou as lamelas de carvalho com uma precisão milimétrica. A extremidade voltada para o interior da casa foi polida, enquanto o lado que serve de fachada foi deixado em estado bruto. Esta operação foi mimetizada nos blocos de vidro laminado que intercalam as lamelas, tendo sido apenas lapidada a parte voltada para o interior. O processo de calafetagem do novo volume é inédito. Por esta razão, a empresa Pilkington cedeu os blocos de vidro, que assentam em juntas de borracha acopladas diretamente à madeira. A impermeabilização foi conseguida através da aplicação de uma espuma na superfície do vidro em contacto com a madeira e de um remate com silicone. Outra empresa especializada, a britânica Instrument Glass (que produz vidro para fins científicos e militares), forneceu quatro janelas de vidro muito claro, que graças à baixa percentagem de ferro na sua composição proporcionam maior claridade.
A forma e massa do acrescento tem eco na estrutura existente, acabando por lhe prestar homenagem. E a pedra-de-toque ocorre na desmaterialização da entrada da casa, graças ao vidro espelhado que reflete a paisagem durante o dia. À noite, esta ilusão é desmascarada, revelando a luminária tubular que serve de luz de presença.