Acabou de aterrar de uma viagem fantástica. Como é uma boa alma, na mala vêm ‘lembranças’ para família e amigos. Mas o quê?
– Ímanes de frigorífico – Não está sozinha: deve ser o Presente de Férias Nº 1 para 90% da população mundial, e ainda mais à medida que a crise nos come as poupanças. Além disso, quase toda a gente faz coleção. Sempre é melhor que não trazer absolutamente nada, mas entre aquilo e absolutamente nada, também a diferença é tão pequenininha que quase nem se nota… De qualquer maneira, é espantosa a quantidade de gente que gosta genuinamente de receber imanes, por isso talvez não seja assim tão prova de um coração frio (ou de uma bolsa pequena). Tem a vantagem de ser pequeno e caber em qualquer mala, o que, nos tempos que correm, não é de desprezar…
– Uma t-shirt da Zara – Não é que as suas amigas e amigos não gostem de receber t-shirts da Zara, mas é que, enfim, Zara há em quase todo o mundo, inclusive deve haver Zaras dos índios Tupis na Amazónia, e aquilo não diz nada do sítio onde esteve… É uma pessoa que pensa nos seus amigos, pois é, mas tem sempre imenso medo de ser original demais… Presentes de férias não é para serem perfeitos, é para serem… bem, típicos. Se além de típicos puderem ser perfeitos, melhor, mas ninguém está à espera.
– Uma peça de artesanato verdadeiro – Descoberto nalguma aldeia remota numa ilha selvagem e feito à mão com o suor de um verdadeiro índio e a tinta de bagas silvestres. Isto sim, é um verdadeiro presente de férias, mas também é preciso dizer que há cada vez menos aldeias remotas em ilhas selvagens, e ainda menos pessoas dispostas a viajar até lá, já para não falar em índios verdadeiros fazedores de potes, já para não falar em malas onde caibam os potes. Suspiro. Opte por peças mais transportáveis, como bijutaria artesanal, por exemplo.
– Uma peça de artesanato falso – Descoberto numa aldeia remota numa ilha selvagem e feito à mão com o suor de um verdadeiro índio e a tinta de bagas silvestres. Se não dissesse ‘Made in Taiwan’ no fundo, seria o presente perfeito. A não ser que se venha de Taiwan, claro…
– Uma t-shirt com o nome da cidade/ilha/barco de cruzeiro – Parece uma boa ideia mas vai colocar a pessoa naquela situação confrangedora de toda a gente lhe dizer: ‘Miami! Fantástico, quando é que lá foste?’ e a pessoa ter de confessar que o mais perto que esteve de Miami foi no CSI…
– Um livro sobre o sítio – Para si que lá esteve pode ser fascinante, mas a maioria das pessoas não tem interesse nenhum num livro sobre um sítio onde nunca foi. Pronto.
– Qualquer coisa do freeshop – A pessoa passa os dias a correr de piscina em piscina e mesquita e mesquita e palhota em palhota e de repente, no último dia, leva as mãos à cabeça e pensa: ‘ó Céus, esqueci-me totalmente da mamã!/tia Ritinha/João Paulo.’ Aí a pessoa, a braços com visões de represálias familiares das mais variadas, consola-se com o pensamento ‘ainda há o freeshop’, que aliás foi o pensamento que deu origem às freeshops. Não serve é o propósito moral do presente de férias, que é dizer: ‘olha, lembrei-me de ti nas minhas férias’. Em vez disso diz, ‘Olha, lembrei-me de ti já estava quase quase com um pé dentro do avião e o mais que se arranjou foi este fofo touro de corda e mesmo assim só para não me chagares a cabeça nem fazeres greve de sexo nem andares com cara de enterro durante uma semana.’ O mais frustrante é quando o freeshop tem coisas muito mais giras do que as que comprou na própria viagem. Mas pronto.
– Nada – Claro que a crise não perdoa e cada vez são menos os que presenteamos, mas tudo o que foi descrito acima é melhor do que não trazer absolutamente nada. Pelo menos faça como uma alma poética (e forreta) que trouxe envelopes vazios aos amigos e lhes disse: ‘Olha, trouxe-te ar de Paris’…