O terreno, em local altaneiro e com vista aberta para o mar da Ericeira, não poderia ser melhor para quem vive a vida em permanente comunhão com a água, as ondas, o azul do mar e do céu… Concebida para José Gregório, tricampeão nacional de surf, tinha como premissa ser ecológica e sustentável.
Amigo de longa data, Jorge Graça Costa, arquiteto e mestre em Arquitetura Bioclimática, perfilava-se como o profissional ideal para desenhar a moradia, selecionada recentemente para fazer parte da shortlist dos prestigiados Gava Awards, prémio internacional que “visa distinguir designers que recorram a conceitos inovadores, materiais e aplicações inspirados ou que integrem o elemento Água”.
“O nosso ponto de partida assentou num lote de terreno vazio, rural, de 5000m² e com grande potencial construtivo. Sempre foi desejo do proprietário ter uma casa ecológica, onde fosse possível ter conforto climático sem grandes dispêndios de energia. Ele também não queria viver fechado dentro de casa e por isso o que aqui se fez foi uma reinterpretação do pátio mediterrânico, que funciona muito bem e abriga a piscina mesmo quando há ventos cruzados”, explica Jorge Graça Costa. Tirando partido da arquitetura bioclimática para materializar o espaço, o arquiteto concebeu uma casa com 300m², onde o pátio se assume como peça nevrálgica de toda a organização espacial.
A edificação desenvolve-se num único piso e é constituída por três blocos interligados, configurando um U em redor do pátio. “O edifício é tipologicamente estruturado numa base tradicional em que os três corpos apresentam utilizações diferenciadas. A zona social situa-se no corpo sul, o corpo norte contém a zona privada e no corpo nascente está localizada a zona de apoio. A articulação dos corpos propostos resultou da intenção de criar um pátio interior, como que formando um claustro com a piscina a poente, demarcando o limite do mesmo. O pátio resultante da volumetria permite criar um microclima de modo a amenizar o clima local. A piscina, com vista sobre a baía de São Lourenço, promove no verão um efeito refrescante através do arrefecimento evaporativo.” O terreno irregular e com desnível de cotas permitiu ainda integrar uma zona de cave, localizada por baixo do corpo norte, onde se situam duas zonas não habitáveis distintas: a de estacionamento e a de arrumos.
Certificado com A+ de eficiência energética, o edifício incorpora estratégias passivas de aquecimento e arrefecimento, de modo a respeitar a utilização racional da energia. Estrategicamente colocados, os vãos de iluminação asseguram a maximização eficiente da luz natural nas zonas de permanência, com impacto direto na utilização de iluminação artificial de baixo consumo. Destaque-se ainda a coleta da água pluvial e a sua subsequente canalização para rega dos produtos agrícolas plantados no terreno. Os vencedores do prémio GAVA serão conhecidos a 20 de setembro, numa cerimónia a decorrer em Las Vegas, Nevada, Estados Unidos da América.
Jorge Graça Costa trabalha na área de projeto vocacionada para a sustentabilidade e eficiência energética dos edifícios, tendo concluído o mestrado em Arquitetura Bioclimática na FA-UTL em 2006. É autor de vários projetos de arquitetura e consultoria na área da sustentabilidade e da eficiência energética de edifícios de habitação, escolares, turismo e comerciais. Em 2010 foi premiado com o Bronze Prize na categoria Green Applications com o projeto CASA DT. Tem sido por diversas vezes convidado a expor o seu trabalho no WAF World Architecture Festival (Festival Mundial de Arquitetura) no qual já participaram nomes como Norman Foster ou Zaha Hadid.