
Beatriz Quintella foi uma das primeiras nomeadas do Prémio Activa, e vencedora do Prémio Pantene em 2004. Entrevistámo-la várias vezes e se há pessoa que honrava o seu nome, era Beatriz. Literalmente ‘a que traz felicidade’, Beatriz Quintella levava gargalhadas às crianças internadas nos hospitais, animando não só os jovens doentes como as suas famílias.
Nascida no Rio de Janeiro, a atriz vivia há duas décadas em Portugal. Em 2002 lançou a Operação Nariz Vermelho, o culminar do seu trabalho como “Dra. Da Graça”, depois de oito anos como voluntária.
“Todas as crianças têm direito a um palhaço”, explicou à Activa. “Se a criança está no hospital, o palhaço tem de estar no hospital com ela.” Esta é, resumidamente, a base do grupo ‘Operação Nariz Vermelho’, palhaços especialmente preparados para acompanharem as crianças hospitalizadas. Beatriz Quintella, “actriz de formação e palhaço por vocação”, começou voluntária no Hospital de D. Estefânia e acabou com um grupo de 22 artistas espalhado por vários hospitais de Lisboa, Coimbra e Porto.
Mas este era um humor totalmente diferente do palhaço típico: esqueçam as caras muito pintadas, o palhaço do hospital é mais subtil, mais teatral. O palhaço não ri da criança, ri com a criança.
“A gente pode e deve brincar com situações difíceis”, contava Beatriz. “Por exemplo, nas crianças com cancro a gente brinca com a careca deles, acha piolho, puxa o lustro. Dizemos: ‘Olha, o cabelo cresce. Teve um amigo meu, que o cabelo dele cresceu verde…” Eles ficam espantadíssimos, não estão à espera. “Mas aos poucos, as crianças entendem o que a gente está tentando dizer-lhes: não faz mal o teu cabelo ter caído, não faz mal estar ligado nessa máquina, porque quem você é, está intacto. Quem você é, está sempre íntegro. O ser humano, por mais que sofra, tem uma parte humana que está lá sempre, e é essa parte que o humor – o amor – vai buscar.”
Os ‘Narizes Vermelhos’ estão preparados para entrar em quase todos os serviços hospitalares, mesmo anqueles onde não seria normal encontrar animação. Para entrar no serviço de queimados, por exemplo, têm de levar bata, touca, máscara. E o que é que usam quando não podem usar nada? “O improviso, a música, o olhar. Se tem de usar máscara, o palhaço aprende a sorrir com os olhos.”