Mais um desaparecimento trágico e demasiado precoce deixa os fãs de bom cinema consternados: o ator Philip Seymour Hoffman, 46 anos, foi encontrado morto na manhã de domingo, no seu apartamento de Nova Iorque, por alegada overdose de heroína.
Seymour Hoffman tinha um talento especial para fazer papéis complicados e personagens que não encaixavam na normalidade, cujos egos se encontrariam facilmente em extremos opostos da escala da autoestima – ou tipos arrogantes e snobs, ou vencidos pela vida. Um ator com um talento invulgar, também, para humanizar personagens estranhos ou com quem, à partida, ninguém simpatizaria.
Três vezes nomeado para o Óscar de Melhor Actor Secundário – por ‘Jogos de Poder’, em 2007; ‘Dúvida’ (2008) e ‘O Mentor’ (2012) – ganhou o Oscar de Melhor Ator em 2006 graças ao papel principal em ‘Capote’.
Deixamos-lhe uma lista de filmes imperdíveis que marcaram a carreira do talentoso ator:
– ‘Capote’: O biopic (filme biográfico) que lhe valeu o Oscar para Melhor Ator, retrata o período em que o escritor Truman Capote escreveu ‘A Sangue Frio’, considerado a obra que inaugurou o jornalismo literário. É a história de um crime sangrento, cometido por dois homens que assassinam uma respeitada família de quatro pessoas no Kansas, EUA. São julgados e condenados à morte. O então jornalista e escritor vai relacionar-se com um dos criminosos, para fazer o relato literário do crime. O filme conta a história desse relacionamento, ao mesmo tempo que apresenta um retrato da personalidade fascinante de Capote, um escritor talentoso que frequentava as reuniões da nata da sociedade nova-iorquina, snob, com laivos de arrogância, um humor inteligente e cáustico mas, ao mesmo tempo, profundamente frágil.
– ‘Jogos de Poder’: Foi nomeado para o Oscar de Melhor Actor Secundário pelo papel neste filme, onde contracenava com Tom Hanks e Julia Roberts. Baseado em factos verídicos, conta a história de como um congressista bon vivant, uma rica socialite texana e um agente renegado da CIA (Hoffman) juntam esforços para levar a cabo uma operação secreta de relações exteriores que vai contribuir para o fim da Guerra Fria.
– ‘Dúvida’: Hoffman interpreta o papel de um padre sobre o qual recai a suspeita de pedofilia, devido à sua relação com um adolescente problemático. A acusação parte de uma freira (Meryl Streep) que com ele trabalha numa escola católica norte-america e que, ao contrário do carismático padre, defende a continuação das tradições e o poder do medo e da disciplina. A guerra entre ambos vai dividir a comunidade. Um filme extraordinário, cujo papel lhe valeu outra nomeação para melhor actor secundário.
– ‘O Talentoso Mr. Ripley’: Um dos papeis que o celebrizaram. Hoffman é Freddie Miles, o melhor amigo do rico Dickie Greenleaf e um dos poucos que desconfiam que Tom Ripley (Matt Damon) não é quem aparenta ser – o que acaba por lhe sair caro. Um daqueles papéis que Hoffman sabia fazer tão bem: o tipo privilegiado, snob e muito cético.
– ‘Flawless – O destino de um ex-combatente’: Hoffman e Robert DeNiro numa parceria comovente. DeNiro é um polícia reformado que tem um AVC. Para reaprender a articular bem as palavras, é aconselhado a ter aulas de canto. Quem o ajudará a reabilitar-se é o vizinho que mais detesta: Rusty, um transsexual, cantor e artista num clube, vivido brilhantemente por Hoffman. Uma personagem cheia de humanismo.
– ‘Dragão Vermelho’: A última longa-metragem da saga de Hannibal Lecter, leva-nos ao universo pessoal de um psicopata que a imprensa alcunha de Fada dos Dentes. Com Anthony Hopkins, Ralph Fiennes e Edward Norton nos papéis principais, conta ainda com Philip Seymour Hoffman na pele de um detestável jornalista de tablóide que acaba muito mal.
– ‘Magnólia’: Um dos filmes que mais marcaram o final dos anos 90, pelo seu elaborado puzzle de personagens cativantes. Seymour Hoffman interpreta o enfermeiro Phil Pharma, que cuida de um ex-apresentador de programas infantís em estado terminal. Empenhado em reconciliar o moribundo com o seu filho (Tom Cruise), a cena em que pede a ajuda, ao telefone, para promover o reencontro entre ambos é marcada por uma intensidade dramática rara num personagem (tão) secundário. A prova de que não há papéis pequenos ou grandes – há, sim, pequenos e grandes atores e Hoffman pertencia, claramente, ao segundo tipo.
– ‘O Mentor’: Mais um filme de Paul Thomas Anderson (realizador de Magnólia e Boogie Nights; Hoffman participou em cinco dos seus seis filmes e acabaram por se tornar bons amigos), que retrata a vida de um intelectual, interpretado por Philip. Muitos dizem tratar-se de uma versão mais ou menos romanceada da vida de Ron L. Hubbard, o fundador da Cientologia, especulação que, talvez por causa da polémica que envolve a seita, nunca foi assumida. Conhecido como ‘o mentor’, este intelectual funda uma religião e relaciona-se com um jovem (Joaquim Pheonix) que será o seu braço direito.
– ‘Sinédoque, Nova Iorque’: Um dos filmes mais fora do habitual na carreira do ator, que aqui vive o papel principal: um encenador que prepara uma nova peça, na mesma altura em que a mulher se separa dele, levando a filha de ambos. Nada parece resultar na sua vida, de uma nova relação falhada à estranha doença que lhe rouba, aos poucos, as capacidades. Para fazer frente às dificuldades e lidar com os revezes da vida, junta um grupo de atores num armazém de Nova Iorque, apostado em criar um trabalho marcante, honesto e brutal.
– ‘Os Jogos da Fome’: Seymour Hoffman estava a acabar de rodar a segunda parte do capítulo final da trilogia, ‘Mockingjay’, quando morreu. Os produtores já anunciaram que o papel vai ser concluído usando tecnologia Computer Graphic Imagery, ou seja, imagens geradas por computador a 3 dimensões. Seymour Hoffman interpretava o papel de Plutarch Heavensbee, chefe dos criadores do Jogo, que se torna comandante da rebelião do Distrito 13, nesta complexa saga fantástica, com Jennifer Lawrence no principal papel.