Julia Pinheiro.jpg

Augusto Brázio

Amélia é uma rapariga sem nada de especial. De repente, sem qualquer razão, é pedida em casamento por um dos solteiros mais cobiçados do Porto. Que estará por trás de uma escolha tão estranha e tão súbita? Este é o princípio de ‘Um Castigo Exemplar’, onde o leitor é apanhado na história de Amélia e levado a uma época em que “uma jovem de boas famílias não procurava nada no mundo, esperava que o mundo lhe fosse trazido”.

Diz no prefácio que esta história é verdadeira. Como chegou a ela?
O livro foi escrito em dois anos, mas a história tenho-a há muito tempo. Houve um senhor no princípio do século XX que foi confinado pela mulher a um sanatório, e o nome dele ficou porque, para conseguir sair, ofereceu uma ala ao médico que reconheceu que ele não estava doido. Vi esta história certo dia num artigo da ‘Visão’ e achei fantástico, porque mulheres ‘malucas’ sempre houve, mas homens internados pela mulher não conhecia nenhum.

Qual é o seu ‘método’ de escrita?
Sei sempre qual é o primeiro parágrafo e o último, o que fica no meio logo se vê. Portanto, logo na altura escrevi o ‘arranque’: “Muito antes de amar o meu marido odiei-o profundamente.” Escrevi os primeiros capítulos nesse ano e depois houve uma fase de muito trabalho em que não consegui fazer nada. Nestas férias, retomei a escrita. A doença da minha filha Carolina, que foi complicada, estava já muito marcada. Passei as férias muito próxima dela, e ela foi muito cúmplice na escrita deste livro, que aliás lhe é dedicado. Ela fartava-se de insistir comigo para eu acabar a história, e eu falava muito com ela acerca do que escrevia. E para ter conversa ao almoço e ao jantar, ia debitando as aventuras do Henrique e da Amélia.

Foi uma espécie de Sherazade em mãe, ‘usando’ a magia das histórias?
Sim, um bocadinho. E de facto resulta. Uma boa história agarra sempre. E então fiz um esforço para acabar o livro. Mas desta vez foi muito fácil. O primeiro livro foi muito sofrido, porque eu tinha muita vergonha, sabia que ia ser julgada, sabia que ia levar com preconceitos e estereótipos. Depois percebi que a crítica não reconhecia o seu valor, apesar de o livro ter vendido imenso e continuar a vender. E agora não vou parar. Já tenho quatro histórias engatilhadas. O próximo livro vai desde 1800 até agora. Também é uma história verdadeira e também a apanhei num jornal.

Quais foram as maiores dificuldades de fazer um livro ‘de época’?
A oralidade, a forma como as pessoas falavam. Há duas coisas que eu adoro e consumo: romances de época e policiais. Quer um género quer outro são muito difíceis. E quando me meti nisto, tive muitas ajudas e discuti muito com várias pessoas, principalmente com a minha editora, Sofia Monteiro, que foi quem conseguiu desarmadilhar-me todos os filtros que eu tinha e a quem estou imensamente grata. E houve um momento em que eu estava a falar com a Mercedes Balsemão e ela disse-me: o problema do romance histórico é a oralidade. E é verdade. Preocupei-me em dar uma oralidade que não nos distancie da época mas que não seja impeditiva do conforto do leitor. E ‘testei’ tudo. Principalmente no meu marido. Coitado, leu o livro seis vezes. Eu mal acabava um capítulo passava-lho logo, para ele ‘pentear’ tudo em termos de incongruências e mudanças. E depois leu o produto final duas vezes.

Qual é a sua rotina de escrita?
Escrevo nas férias e aos fins de semana. De noite já estou muito cansada. Se for preciso escrevo um bocado antes do jantar, depois vou fazer o jantar e já não consigo escrever nada. Mas este livro saiu-me muito bem, com muita facilidade, e não é muito grande.

Aparece-lhe sempre primeiro a história?
Sim, sempre. Se estivermos muito atentos, há histórias fantásticas à nossa volta. E os meus melhores amigos são os livros. Quando não estou a trabalhar ou a tratar da família, estou a ler.

E qual foi o último livro que leu?
A continuação dos livros do Stieg Larsson. Antes desse, li ‘A ideia de não voltar a ver-te’, da Rosa Montero, que adorei. E achei curioso porque a morte do Pierre Curie passa-se mais ou menos na mesma época do meu livro, e tem o mesmo ambiente científico.

Deu trabalho a investigação?
Algum. Precisava muito de ambientes, de perceber como se vivia. Fartei-me de visitar casas-museus daquela época, fui ao Museu da Farmácia, e aí percebi por exemplo que à época em que eu queria situar o romance a licenciatura em química ainda não existia, e o meu ‘herói’ era licenciado em química. Andei ali uns meses sem saber o que fazer, se havia de largar tudo ou não. Uns dias depois fui ao laboratório da Rua da Escola Politécnica, fiquei fascinada e decidi ir para a frente com o livro.

Adorei a descrição dos vestidos…
As mulheres gostam muito dessa parte. Para descobrir o que se usava na época, também tive de fazer pesquisa.

E por que é que se passa no Porto?
Para já, porque o Porto no início do século XX era muito mais desenvolvido do que Lisboa. Depois porque eu adoro o Porto e acho que tem uma riqueza histórica soberba e conheço-o muito bem. E, curiosamente, Lisboa não me interessa muito. Talvez tenha a ver com a atmosfera daquelas ruas.

E Rendufe?
(risos) Eu andava à procura de uma terra afastada e um dia ia a caminho de um sítio qualquer e vi uma tabuleta a dizer Rendufe. Nem sequer sabia que tinha havido ali um mosteiro importantíssimo, só descobri isso mais tarde quando fiz pesquisa.

Apesar de este ser um romance de época, há coisas que nunca mudam, como as distinções de classe e os ‘snobismos’ dos ‘velhos-ricos’ contra os ‘novos-ricos’
Sim, há coisas que continuam na mesma. Claro que naquela época essas distinções de classe eram muito mais vincadas, porque os aristocratas eram muito muito snobes (e continuam a ser). Havia muitas alianças entre famílias, e os novos-ricos eram muito mal-amados. Aliás, esse tema do ‘dinheiro novo’ é muito interessante.

É também a história do perigo de uma sociedade que educava as mulheres para a banalidade e o conformismo. ‘Nem as princesas têm vontade própria’, como afirma a rainha…
Sim, a própria rainha dizia que adorava ter sido médica… Mas uma das coisas que a Amélia me ensinou é que todos nós somos capazes de fazer coisas das quais nem suspeitamos. E que se a frustração ultrapassar a nossa medida do bom senso, podemos fazer coisas atrozes e toda a nossa ética vai ao ar. E esta ideia de que nós, mulheres, somos seres doces e indefesos e que todas nascemos para a maternidade e para o casamento e para sermos uma luz para o mundo, é um estereótipo que ainda existe e que é totalmente mentira.

É um romance muito ‘televisivo’, muito visual…
Sim, e acho que se fica com vontade de saber o que vai acontecer a seguir. Dava um excelente filme (risos).

Mais no portal

Mais Notícias

Exame Informática TV nº 859: Veja dois portáteis 'loucos' e dois carros elétricos em ação

Exame Informática TV nº 859: Veja dois portáteis 'loucos' e dois carros elétricos em ação

Serenella Andrade: “Brincava na rua com os netos do Marcello Caetano”

Serenella Andrade: “Brincava na rua com os netos do Marcello Caetano”

Tesla continua a dominar vendas de elétricos em Portugal

Tesla continua a dominar vendas de elétricos em Portugal

Vacheron Constantin traz celebrações a Lisboa

Vacheron Constantin traz celebrações a Lisboa

"Não Esperes Demasiado do Fim do Mundo", de Radu Jude: A sociedade vista ao espelho

A reinvenção das imagens

A reinvenção das imagens

25 de Abril, 50 anos

25 de Abril, 50 anos

Na região da Comporta, um refúgio sedutor e feliz

Na região da Comporta, um refúgio sedutor e feliz

Prepare a mesa para refeições em família

Prepare a mesa para refeições em família

Os

Os "looks" de Zendaya na promoção de "Challengers", em Nova Iorque

Inédito: Orangotango visto a criar uma pasta feita de plantas para curar ferida

Inédito: Orangotango visto a criar uma pasta feita de plantas para curar ferida

Regantes de Campilhas querem reforçar abastecimento de água e modernizar bloco de rega

Regantes de Campilhas querem reforçar abastecimento de água e modernizar bloco de rega

"Cozinhar é um bom descanso, depois do trabalho. Financeiramente, nem percebo como é que as pessoas aguentam tantas encomendas de fast food"

Toca a dançar!

Toca a dançar!

JL 1396

JL 1396

Decoração: a liberdade também passa por aqui

Decoração: a liberdade também passa por aqui

Zendaya surpreende com visual ousado

Zendaya surpreende com visual ousado

Salgueiro Maia, o herói a contragosto

Salgueiro Maia, o herói a contragosto

Passatempo: ganha convites para 'A Grande Viagem 2: Entrega Especial'

Passatempo: ganha convites para 'A Grande Viagem 2: Entrega Especial'

Energia para Mudar: Açores a caminho da independência energética

Energia para Mudar: Açores a caminho da independência energética

Em “Cacau”: Cacau pede perdão a Marco por ter desconfiado dele

Em “Cacau”: Cacau pede perdão a Marco por ter desconfiado dele

Rita Caldeira é a grande vencedora de “Era Uma Vez na Quinta”

Rita Caldeira é a grande vencedora de “Era Uma Vez na Quinta”

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

João Rôlo: “Gosto de fantasiar com a  minha roupa, mas não com a minha vida”

João Rôlo: “Gosto de fantasiar com a  minha roupa, mas não com a minha vida”

A meio caminho entre o brioche e o folhado, assim são os protagonistas da Chez Croissant

A meio caminho entre o brioche e o folhado, assim são os protagonistas da Chez Croissant

O que muda nas transferências bancárias já a partir de dia 20 e ao longo dos próximos meses

O que muda nas transferências bancárias já a partir de dia 20 e ao longo dos próximos meses

IRS, o que todos querem saber: vou receber menos ou mais?

IRS, o que todos querem saber: vou receber menos ou mais?

VISÃO Se7e: Entre jardins, exposições e mesas, a ver os comboios passar

VISÃO Se7e: Entre jardins, exposições e mesas, a ver os comboios passar

Catarina Miranda quer substituir Cristina Ferreira na TVI e recebe alerta: “Ela vai sentir-se ameaçada”

Catarina Miranda quer substituir Cristina Ferreira na TVI e recebe alerta: “Ela vai sentir-se ameaçada”

Teranóstica: O que é e como pode ser útil no combate ao cancro?

Teranóstica: O que é e como pode ser útil no combate ao cancro?

O

O "look" das celebridades na The King's Trust 2024 Global Gala, em Nova Iorque

Vencedores e vencidos do 25 de Abril na VISÃO História

Vencedores e vencidos do 25 de Abril na VISÃO História

Formula E mostra Gen3 Evo: 0 aos 100 km/h em menos de dois segundos

Formula E mostra Gen3 Evo: 0 aos 100 km/h em menos de dois segundos

Cláudia Vieira e as filhas em campanha especial Dia da Mãe

Cláudia Vieira e as filhas em campanha especial Dia da Mãe

Operação Influencer: Malandrices até ao fim

Operação Influencer: Malandrices até ao fim

Modelo chinês SenseNova 5.0 ultrapassa o GPT-4

Modelo chinês SenseNova 5.0 ultrapassa o GPT-4

Tarifário da água no Algarve abaixo da média nacional é erro crasso -- ex-presidente da APA

Tarifário da água no Algarve abaixo da média nacional é erro crasso -- ex-presidente da APA

O futuro começou esta noite. Como foi preparado o 25 de Abril

O futuro começou esta noite. Como foi preparado o 25 de Abril

Vista Alegre: Há 200 anos de memórias para contar

Vista Alegre: Há 200 anos de memórias para contar

Pigmentarium: perfumaria de nicho inspirada na herança cultural da República Checa

Pigmentarium: perfumaria de nicho inspirada na herança cultural da República Checa

Ratos velhos, sistema imunológico novinho em folha. Investigadores descobrem como usar anticorpos para rejuvenescer resposta imunitária

Ratos velhos, sistema imunológico novinho em folha. Investigadores descobrem como usar anticorpos para rejuvenescer resposta imunitária

A FeLiCidade faz-se ao som de música, cinema e literatura no CCB

A FeLiCidade faz-se ao som de música, cinema e literatura no CCB

EDP Renováveis conclui venda de projeto eólico no Canadá

EDP Renováveis conclui venda de projeto eólico no Canadá

Supremo rejeita recurso da Ordem dos Enfermeiros para tentar levar juíza a julgamento

Supremo rejeita recurso da Ordem dos Enfermeiros para tentar levar juíza a julgamento

Tesla continua a dominar vendas de elétricos em Portugal

Tesla continua a dominar vendas de elétricos em Portugal

Parceria TIN/Público

A Trust in News e o Público estabeleceram uma parceria para partilha de conteúdos informativos nos respetivos sites