“Era difícil e doloroso [ser mulher e simultaneamente profissional], porque o sentimento de culpa das mães que trabalhavam era, nesse tempo, muito bem explorado. Os momentos mais difíceis passei-os quando os meus filhos eram pequenos e não compreendiam que eu tivesse que ir trabalhar. Nas doenças que tiveram foi terrível. Mas não cedi, e fiz bem, creio, porque hoje seria uma mulher muito frustrada se não tivesse a atividade profissional que tenho.”
Helena Sacadura Cabral, 82 anos, ‘A primeira mulher a integrar os quadros técnicos do Banco de Portugal’
“[O meu marido] aceitava muito mal [a minha atividade profissional]. Casei muito nova e divorciei-me passados 20 anos. A principal razão foi a minha carreira, um foco de conflito: ele não conseguia entender. E eu não queria só que me entendessem. Eu penso que, além de me entenderem, deveriam apoiar-me. Eu costumo dar este exemplo quando me falam da velha dicotomia homem/mulher. Se um executivo precisar de levar alguém lá a casa, a mulher prepara um jantar agradável, aparece bonita, faz conversa. E se for ao contrário? Acha que é possível?”
Maria Cândida Rocha e Silva, 72 anos, ‘A primeira corretora e banqueira portuguesa’
“Não podemos fazer tudo aquilo que queremos. Não há supermulheres. Nunca fiz ginástica. Havia semanas que não ia ao cabeleireiro porque não tinha tempo. Não perdia tempo a maquilhar-me. Tinha de roubar-me coisas que são importantes, muito femininas. O tempo não dá para tudo e temos de optar por aquilo que é mais importante na altura; hoje não estou arrependida.”
Rosalina Machado, 72 anos, ‘A primeira portuguesa a liderar uma multinacional’
“Não foi uma opção não ter casado; ainda não aconteceu. Contudo, foi uma opção não ter filhos. Conheço vários homens e mulheres na minha profissão que fizeram a mesma opção.”
Domitília dos Santos, 61 anos, gestora de patrimónios financeiros em Nova Iorque
“Fui sempre muito ‘mentirosa’ no que a esse tema diz respeito. A família sempre foi muito importante, prioritária. Fui educada nesse sentido. Daí que, nas entrevistas que me faziam quando então casada, sempre disse que se não fosse o grande apoio da família eu não conseguiria. Mas não foi exatamente assim. E essa foi provavelmente a minha maior força.”
Maria Cândida de Oliveira, 71 anos, ‘A dama de ferro do vidro’
“Se não fosse o meu marido a apoiar-me seria muito difícil. Tive sempre a sorte – não sei se foi sorte ou se foi trabalho – de o preparar para isto. Quando ele me conheceu eu já trabalhava e sabia o que queria da vida. Ele adoraria que eu ficasse em casa a criar os filhos. Mas nunca aceitei isso (…) Dividíamos tarefas.Mas foi preciso muito diálogo para aceitar que eu trabalhasse. (…) Sempre tive a convicção de que nunca fui nem boa empresária, nem boa mãe. Mas dei tudo aquilo que tinha para dar.”
Teresa Janz Guerra, 68 anos, ‘O case-study da responsabilidade social’
“[A minha carreira] foi muito facilitada [pelo facto de não ter uma família]. Tenho um respeito imenso pelas mulheres que conseguem fazer boas carreiras tendo famílias estruturadas. Muitas delas conseguem-no graças a terem um grande apoio (…), de pais e maridos que são solidários, que percebem que a realização profissional é importante para a mulher e também para o equilíbrio do casal. Mas isto é cultural, tem muito a ver com a mentalidade.”
Esmeralda Dourado, 63 anos, ‘A engenheira num mundo de homens’
“Conciliava facilmente o trabalho e a família porque tinha uma boa retaguarda em casa e era doentiamente organizada.”
Assunção Sá da Bandeira, ‘Pioneira das relações públicas’
Um livro, oito vida
‘Memórias de Executivas’ junta num só livro as duas paixões das autoras, Isabel Canha e Maria Serina, fundadoras de Executiva.pt, um site de carreira para mulheres: o jornalismo e o mundo da liderança feminina. São oito imperdíveis entrevistas a oito das mais bem sucedidas executivas portuguesas. “Competentes, destemidas, visionárias e determinadas, os seus testemunhos são uma inspiração para todas as mulheres que querem chegar onde merecem.”