Não é certo se Hugo e Damián eram irmãos, mas é garantido de qual dos dois Don Fernando de Covarrubias gostava mais. Damián, por se apressar sempre a fazer o que lhe pediam e por querer seguir a nobre profissão do pai, ser mercador de lãs. Mas esta não é a personagem preferida do autor de “As Janelas do Céu” que centra a história da obra em Hugo, o filho indeciso que não sabe qual vai ser o seu futuro.
Gonzalo Giner, o autor, trouxe-nos ao Mosteiro da Batalha para que vissemos com os seus olhos a beleza dos vitrais deste monumento, que é um dos expoentes máximos do gótico português. Não lhe falta exuberância nem cor, uma cor conseguida com a ajuda do sol que, ao romper os vidros coloridos, não deixa que o seu interior seja sombrio. O Mosteiro da Batalha é como o primeiro livro deste autor espanhol a ser editado em Portugal: “uma viagem à idade média com luz por detrás”, explica Gonzalo à medida que caminhamos para a entrada principal do monumento.
Já no interior do Mosteiro começamos a perceber o que fascina Hugo, a personagem principal de “As Janelas do Céu” que se aventurou pelo mundo para descobrir que não queria ser mercador de lãs como o pai, e em vez disso faz da arte vidreira a sua arte. Hugo Covarrubias parte de Burgos, passa pela Flandres, a mítica Terra Nova, o deserto de Tunes e termina no ponto de origem.
Foi também nas viagens que fez ao longo da vida que Gonzalo Giner encontrou inspiração para estas 668 páginas. “A ideia para este livro surgiu quando, muito jovem, fiz uma viagem a San Chapel aonde o personagem também chega”, explica o autor confessando que todo o percurso de Hugo na catedral francesa é tirado a papel químico do percurso que ele próprio fez quando a visitou.
A arte dos vitrais é “uma arte que produz emoção” e é “muito pouco conhecida e muito pouco valorizada”, lamenta ao mesmo tempo que acredita estar a dar-lhe a importância que merece com este romance histórico. Mas antes de chegar aos vidros coloridos o leitor vai perder-se pelo fulgurante universo das lãs, uma importante fonte de rendimentos para o reino de Castela e para os próprios mercadores. Se Hugo tivesse seguido a profissão do pai seria rico e viajado, mas a sua vontade não era essa.
Gozalo Giner é um autor conhecido pelos espanhóis, mas é a primeira vez que vê uma das suas obras traduzida para português. Médico veterinário de formação, é com os animais que passa grande parte dos seus dias e, garante, nunca os abandonaria para se dedicar em exclusivo à literatura. Em sentido inverso traz os animais para dentro das histórias e n’”As Janelas do Céu” há um falcão que se encontra com o protagonista no deserto de Tunes e o ajuda a encontrar a sua vocação.
Com “As Janelas do Céu” Gonzalo Giner quer “baixar os vitrais para que os consigamos ver melhor porque estão muito altos” e fazer justiça aos mestres vidreiros que, na sua opinião, nunca foram devidamente valorizados.