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Encontrámos Olivier Truc na Biblioteca das Galveias, em Lisboa, numa tarde de setembro de muito calor. A conversa, apesar de animada e interessante, ficou também marcada pela sensação do frio nórdico. O motivo? Estávamos a falar com o autor sobre o seu livro que recentemente foi publicado em Portugal pela Editorial Planeta, Quarenta Dias Sem Sombra, que se trata de um thriller passado na Lapónia. Neste livro, enfrentamos o clima agressivo dessa região ao mesmo tempo que descobrimos os sami, grupo étnico da Lapónia, e ainda desvendamos crimes que nos prendem à leitura. Uma obra que tinhamos terminado de ler na noite anterior e que devorámos com prazer. As questões eram muitas, não só pela história como também pela forma como um jornalista francês se destacou nestes temas e foi elogiado pela crítica.

Como um jornalista francês acabou por se tornar um especialista na cultura sami e escrever um romance sobre a Lapónia?
(Risos) Comcei a fazer viagens para a Lapónia há mais de 20 anos. Fiquei curioso com a vida de quem vivia nessa região, então comecei a fazer muitas perguntas. Conheci muitas pessoas, pertencentes aos sami e não pertencentes, como os suecos, norugueses e filandeses, conheci criadores de renas, trabalhadores das minas, pessoas que vivem das florestas e muitos outros. Fiquei fascinado pelos fortes contrastes dessa região, pois o clima é muito duro e ainda assim há quem escolha ficar ali para tentar fazer a sua vida. Viajei muito por dentro dessa região, pois a paisagem é maravilhosa, muito selvagem e diversificada.
Encontrei muitas histórias cativantes e fiquei impressionado por perceber que os meus colegas jornalistas que viviam em Estocolmo não conheciam esta parte do seu país. Fiquei ainda mais intrigado em investigar, em perceber estas pessoas, os seus conflitos a discriminação de que são alvo. Se ninguém estava a contar as histórias desta gente, alguém tinha de começar a fazê-lo.

Experimentou todas as estações da Lapónia?
Estive lá em todas, sim.

Como foi viver lá no inverno, quando praticamente não existem horas de sol?
Ao início a ideia pareceu estranha, mas percebi que se trata de algo que afeta as pessoas de diferentes formas. Tudo depende do tipo de profissão, rotina, tendência para a depressão, entre outros aspetos. Os meses mais difíceis são outubro, novembro, dezembro e janeiro. Claro que as pessoas lá estão habituadas a isto e moldam a sua vida a estas alterações.

Como foi conhecer e integrar-se com os sami?
Durante estes anos, passei a conhecer alguns muito bem. Ficámos amigos. Mas alguns são mais fechados, muito por causa da discriminação. Eles sabem que a maior parte dos jornalistas nórdicos não os conhece bem. São muito cautelosos com figuras de autoridade, pois foram maltratados durante muito tempo. Por isso, quando alguém de fora chega, eles têm noção que se trata de uma pessoa que não percebe a sua cultura. São prudentes e têm motivos para isso.

O que mais o intrigou quando conheceu este povo?
Fiquei a saber que 90% dos sami vivem como qualquer pessoa nórdica. Estão em cidades, têm profissionais comuns a muitos de nós, não são nómadas. Apenas 10% deste povo tem uma atividade ligada à criação de renas.

Esta cultura está em risco?
Sim. Quando pensamos em sami, pensamos na criação de renas. É uma atividade que está ligada a tudo deste povo, desde alimentação até à forma de vestir. A criação de renas requer muito espaço. Apesar da Lapónia ser enorme, existem outras atividades que limitam o terreno e conduzem os sami para áreas cada vez mais limitadas. É aqui que surgem os conflitos entre criadores de que falo no livro. Há muita competição com outras atividades económicas, como as minas, companhias de energia eólica e florestais. As mudanças climáticas também estão a afetar a criação de renas. O território está a dasaparecer para os sami.

Sente que existe uma preocupação em manter traços desta cultura?
Sim. Tenho estado atento e percebo que há receio de que esta cultura desapareça. Mas tal não faz parte da agenda política, o que é curioso, pois o resto do mundo vê os países nórdicos como exemplares em diversos assuntos, entre os quais os direitos humanos e a integração de minorias. Felizmente existe uma nova geração de artistas sami que são muito radicais, críticos e ativos a nível político. Está a ser muito interessante acompanhá-los, pois eles estão a exigir ação quando outros se prendem pela discussão dos temas.

Neste livro, as personagens femininas têm quase todas um passado marcado por assédio ou abuso sexual. Porquê?
Existem muitos abusos entre as mulheres do povo sami. Muitos casos antes dos 18 anos. É verdade que os agressores podem ser do próprio grupo, mas muitos não o são. Este é um grande problema para este povo. Foi difícil escrever sobre isto. Estamos a falar de uma região grande, mas que é povoada por pequenos povoados. São pessoas muito fechadas e que aprenderam a ficar em silêncio quando algo de mau acontece. Há histórias terríveis.

Qual era mensagem que queria passar com este livro?
Pretendia contar histórias nunca antes contadas. Percebi que as pessoas sabiam muito pouco sobre a Lapónia e os sami. Existem muitos clichés eu queria passar verdades. Também tive a intenção de expor o fosso social que existe nos países nórdicos e que poucos conhecem. Tentei lutar contra a ignorância e a indiferença.

Como esta história foi recebida na Suécia?
Muito bem! As críticas foram ótimas, o livro foi finalista de um grande prémio de thrillers que existe na Suécia. As pessoas receberam muito bem a história e convidaram para palestras sobre estes temas. Foi tudo muito positivo, apesar de muitos, inicialmente, acharem o tema aborrecido ou questionarem o meu interesse pela Lapónia por ser francês. Entre os sami as reações também foram, maioritariamente posiivas. Agora, há sami que me procuram para me falarem das suas histórias, pois sabem que estou a escrever sobre eles.

Visitou Portugal para apresentar este livro. É a primeira vez por cá?
Não, esta é a terceira vez, a primeira foi nos tempos de estudante. Sempre senti que as pessoas são muito amigáveis, calorosas, comunicativas. Estive cá em dezembro de 2016 para pesquisar para um próximo livro que estou a escrever e que passa por cá. É um país com uma ótima atmosfera.

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Sinopse do livro:

Kautokeino, Lapónia Central, 10 de Janeiro. Noite polar, frio glacial. Amanhã o Sol, desaparecido há quarenta dias, vai renascer. Amanhã, entre as 11 h 14 m e 11 h 41 m, Klemet voltará a ser um homem, com uma sombra. Amanhã, o Centro Cultural vai expor um tambor de xamã oferecido por um companheiro de Paul-Émile Victor.

Mas o tambor é roubado durante a noite. As suspeitas irão desde os fundamentalistas protestantes aos independentistas samis. A morte de um criador de renas não contribui para melhorar a situação.

A Lapónia vai revelar-se uma terra de conflitos, de cóleras e de mistérios. Klemet, o lapão, e Nina, a jovem colega de equipa, agentes da polícia das renas, lançam-se numa investigação frustrante.

Mas, em Kautokeino, ninguém gosta de quem faz ondas. Ordenam-lhes que voltem às patrulhas de motoneve pela tundra e à pacificação das eternas querelas entre criadores de renas. Os mistérios do 72.º tambor vão alcançá-los.

Porque confiou, em 1939, um dos guias samis à expedição francesa aquele tambor? De que mensagem era portador? Que contam os joïks tradicionais que o velho tio de Klemet canta? Que vem fazer à aldeia aquele francês que gosta demasiado de raparigas muito novas e que parece conhecer tão bem a geologia da região? A quem se dirigem as orações da piedosa Berit? Que esconde a beleza selvagem de Aslak, que vive à margem do mundo moderno com a sua mulher meio louca?

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