Tem duas temporadas disponíveis e a terceira já foi confirmada. Venceu por duas vezes o prémio de Programa do Ano nos American Film Institute Awards e tem estado entre as nomeadas para os Golden Globes e Emmy Awards. Pose é uma série que arrebata quem a vê, mas que está a passar algo despercebida no nosso país. Contudo, a mensagem importante que tem não deve ser ignorada. Aqui ficam 7 razões que provam isso mesmo:
1. ÉPOCA E A LUTA
“Pose” foca-se numa comunidade LGBT de Nova Iorque no final da década de 1980. O revivalismo deste período é imediato, pela música, visuais, rotinas e cultura pop. Mas este também é um tempo muito relevante a nível sociopolítico.
A trama centra-se na marginalização dos transexuais, especialmente na comunidade afro-americana, feita quer por hetero como por homossexuais. Afinal, a não identificação com o género de nascença não era algo aceite ou compreendido na altura. Ao mesmo tempo, esta é a época em que o vírus HIV tem uma maior proliferação, havendo pouca informação e até desinformação quanto à forma como pode ou não ser difundido e combatido.
Estes temas bastante fortes são abordados de uma forma muito empática, o que promove a educação do público e uma maior compreensão sobre as motivações destas pessoas. Ver de perto a forma como estes problemas as afetam promovem uma maior solidariedade e aceitação.
2. OS ATORES
O elenco é muito carismático e entrega-se a cada desempenho. E não foi escolhido ao acaso. Para papéis transexuais, temos atores transexuais. Isto faz todo o sentido, até porque existe uma grande dificuldade para estes artistas conseguirem trabalhos na área, vendo muitas vezes papéis semelhantes a serem entregues a outros atores.
Grande destaque ainda para a prestação de Billy Porter. O ator, que aqui interpreta o cativante e emocionante Pray Tell, ganhou o Grammy de Melhor Ator em Série de Drama em 2019 pelo seu desempenho. Um marco histórico, uma vez que foi a primeira vez que este galardão foi conquistado por um artista que se assume homossexual.
3. A CULTURA E OS BAILES
Grande parte da trama acontece durante os bailes. Tratam-se de locais onde as minorias LGBT se começaram a reunir, expressar e competir. Em apresentações, os concorrentes dançam e desfilam, mostrando visuais únicos. É uma forma de cada pessoa revelar a verdadeira essência, quer seja pelos movimentos executados quer pelos looks escolhidos. Tudo isto acontece num momento de liberdade que expressa a cultura desenvolvida por estas minorias.
Os bailes eram locais de aceitação e emancipação e foram também berço de movimentos que acabaram por conquistar as massas. Como exemplo, basta recordar o sucesso que a música “Vogue” de Madonna fez. Os movimentos marcantes de dança com poses? Saíram destes bailes.
Mencionar ainda o quão divertido e inspirador é assistir às competições. Impossível não se ficar impressionado com a criatividade e a garra demonstrada nestas apresentações.
4 . ATRÁS DAS CÂMARAS
Para além de ser a maior série com elenco transexual de sempre, tem também outros profissionais na produção que pertencem a minorias. Desta forma, procura-se dar espaço e oportunidade a pessoas que muitas vezes têm dificuldade em encontrar trabalho na área artística.
Sabe-se ainda que Ryan Murphy, que é produtor e argumentista de “Pose”, decidiu doar à comunidade transexual os honorários que iria receber por esta produção. Desta forma, a série não só dá voz a uma minoria, como ainda surge como apoio e oportunidade de emprego.
5. REDEFINIÇÃO DE BELEZA
Ao longo dos episódios, vemos muitas personagens a sofrerem angústias relacionadas com o próprio aspeto físico. Sofrem pelo que queriam parecer, sofrem pela forma como são julgadas pelos outros, sofrem por não corresponderem a um ideal. Contudo, aqui percebe-se que o conceito de belo está em evolução.
O empenho e luta de cada um prova que a beleza não tem de se limitar a um padrão. Que todas as pessoas, corpos, cores e géneros podem ter espaço e mudar a visão global do que é considerado belo ou feio. E, com isto, o que é bom e mau. Fica provado também que a atitude e confiança são muito atraentes. E isto é válido na década de 1980, é válido hoje e será válido amanhã.
6. EMPATIA E COMPREENSÃO
Ao conhecermos o outros, conseguimos perceber melhor as suas motivações, lutas, angústias e sonhos. “Pose” dá voz a histórias que regra geral são ignoradas ou não consideradas importantes. Deixa-nos perceber o que é fazer parte dquela minoria e quais as dificuldades que se enfrentam. Mas, e mais importante, recorda que estamos a falar de seres humanos. Pessoas.
Às vezes o mundo tem de parar para que isto seja recordado. Assistimos a julgamentos tão rápidos quanto ao que é diferente, sem que haja espaço para parar e tentar compreender quem está do outro lado. Por isso mesmo é tão importante que esta série seja vista. Ao conhecermos estas personagens, criamos empatia e, com isso, os julgamentos deixam de ser feitos. É colocarmo-nos na pele do outro para o aceitarmos como o outro é. Se fizessemos sempre isto, o mundo não seria um local melhor?
7. O AMOR QUE SE SENTE
Ver “Pose” é refletir no que realmente importa. Estamos a assistir a histórias de pessoas que foram discriminadas das mais variadas formas. Que foram rejeitadas pelos pais, que se viram a morar na rua sem nada, que lutaram para sobreviver. E que também encontraram uma comunidade nova e unida. Esta série é também sobre amor, amizade, mas sobretudo sobre família.
Se pararmos um pouco para pensar, não há como não admirar a capacidade de uma pessoa, já ela sofrida, em acolher jovens desconhecidos e dar-lhes oportunidades. A fé que se coloca no outro, o cuidado que lhe é prestado, a troca de carinhos genuínos, o trabalho que é feito. Tudo isto é de um altruísmo tão louvável… E é o que acontece realmente nestas comunidades. Estas histórias acabam por ser uma carta de amor e agradecimento a todos aqueles que se tornaram mães e pais de coração e salvaram jovens que tinham sido deixados por aqueles que mais os deveriam amar. Tudo porque eles não correspondiam a um ideal que, felizmente, está cada vez mais colocado de parte.
O amor. Foi sempre isto que senti a cada episódio desta série. Não importa quem é, como se identifica, o que faz, quem ama, de que cor é. O que importante é a pessoa, o que importa é que cada um merece ser visto, compreendido e amado. Isto é o que “Pose” me transmite.