Não há volta a dar: o olhar fica de imediato preso ao teto e ao extraordinário tapete amarelo que inverte a ordem das coisas. Não é um tapete, claro, mas, como compreendemos a um olhar mais atento, é um mar de espigas suspensas sobre as nossas cabeça. Não está ali por acaso. É mais um sinal para nos ajudar a entrar no espírito do Libertà, o restaurante italiano em que nada é o que estamos à espera – e isso é bom.
O Libertà é o primeiro espaço físico do coletivo de cozinhas Lisbon Street Kitchen (LSK), depois do lançamento do restaurante virtual Pescatore. Sob o mote “Unconventional Italian Kitchen”, aqui encontramos um local descontraído, mas trendy, a combinar com uma cozinha contemporânea, atrevida e pouco convencional. O peso da responsabilidade recai sobre os ombros do chef italiano Silvio Armanni, que se deixa levar pela sua criatividade trabalhando produtos de excelência e construindo uma carta em que os clássicos andam a par com visões mais jovens da gastronomia deste país. “Quando se tem um restaurante italiano fora de Itália tem-se um grande desafio nas mãos, é preciso olhar para os clássicos, claro, explorar a autenticidade e usar o melhor produto sempre”, explica Silvio, que esteve quase oito anos na Ásia dividido entre Xangai, Tóquio — aqui com o estrelado Luca Fantin — e Hong Kong, onde ganhou uma estrela Michelin à frente do restaurante Octavium em 2019, distinção que manteve no ano seguinte Agora, a cozinha do Libertà é dele e que bom que a criatividade anda à solta.
A visão do chef está em consonância com a de Alykhan Popat, fundador do LSK: “Cresci com uma perspetiva muito alargada da vida, com ligações à Europa, África e Ásia. Tornei-me numa ‘pessoa do mundo’ e a indústria da restauração tornou-se numa vocação, sobretudo com os novos modelos de cozinhas virtuais. Queríamos combinar o nosso amor pela hospitalidade e cultura para criar um projeto único e inovador, o Lisbon St. Kitchen”, começa por explicar. “Fazia sentido que tivéssemos também um espaço físico. Tenho muita afinidade com Itália e a sua gastronomia, e por isso criamos um restaurante italiano com um menu focado na sazonalidade e originalidade, sem nos desviarmos dos pilares tradicionais da cozinha italiana.”
O resultado? Um menu eclético, personalizado e capaz de nos surpreender.
Ora aqui ficam seis provas:
- A pasta fresca
Se há algo que é honrado no Libertà é a herança da pasta italiana. Aqui á pasta é fresca, feita pelo chef no restaurante e tem um lugar destacado na carta, ou não estivesse intimamente ligada às memórias de infância de Silvio, que, conta, em criança era chamado a casa da sua avó para ser “o motor da máquina da massa”. Dúvidas houvesse, o desafio é que as tire a todos ao provar o Casoncelli alla Bergamasca (15,50 euros), um prato típico de Bérgamo, onde o chef nasceu, feito com ravioli recheados com carnes, pancetta crocante, sálvia, manteiga e parmesão, que grita ‘confort food’. Os pratos clássicos estão bem representados no Spaguetti al Pomodoro (12 euros), servido com burrata, ou no Tagliatelle di Coniglio alla Genovese com ragu de coelho, azeitonas, pinhões e tomilho. Arrojado é o Cavatelli (aquelas pequenas conchas de massa feitas de sêmola) al Frutti di Mare (22 euros), confecionado com camarões, lulas, mexilhões e peixe do dia.
2. O peixe
Bem fresco e saboroso, no Libertà o chef privilegia acima de tudo o peixe selvagens com o objetivo de garantir o sabor e o respeito pelo meio ambiente. Basta provar o Robalo selvagem com puré de raiz de aipo, espinafres e óleo de peixe e funcho (23 euros) para se ficar convencido.
3. A partilha
No espírito mediterrâneo, comer é também partilhar e, obedecendo à regra a esse princípio tão do Sul, encontramos dois pratos ideais para duas pessoas: a Cotoletta a la Milanese (44 euros) – costeleta de vitela panada com batatas assadas, maionese caseira e salada, e o Carré di Maiale Ibérico (38 euros), um Carré de Porco Assado, cozinhado lentamente e servido com chalotas confitadas, batatas e e legumes.
4. Os antipasti e chicchetti
No menu, para começar a experiência, não ficam esquecidos os chicchetti e antipasti, outra forma de dizer ‘entradas’, mas na língua italiana. Destaque para a criativa Bruschetta em pão alentejano da Gleba com beringela agridoce e manjericão (6,5 euros), para a provocante Focaccia Farcita (8,5 euros), com burrata e mortadela de pistacho, ou a destemida Focaccia di Recco (5 euros), muito fina e recheada com queijo stracchino. Há ainda o sofisticado Tartare di Manzo (17 euros), bife tártaro com stracciatella de búfala, tomate seco e vinagre balsâmico tradicional de Modena D.O.P, envelhecido por 12 anos. Impossível passar em branco o Fritto Misto (14,50 euros), um tempura de camarão, lulas e legumes, e o refrescante Crudo di Ricciola (18,50 euros) – lírio cru marinado com salada de funcho e laranja e molho de mel e laranja.
5. As sobremesas
A escolha não é tarefa fácil, mas é obrigatório provar uma das sobremesas. Destacamos com gulodice o Tiramisu “Bomba” (8 euros), feito com biscoito savoiardi caseiro, o Canollo Siciliano (6 euros) recheado com ricotta de ovelha doce com pedaços de pistacho e chocolate, ou a Crema Tenera al Cioccolato e Pere (9 euros), uma mousse feita sem açúcar com chocolate 72%, pedaços de pêra e raspas de laranja.
- Os cocktails
Uma carta ampla, que tem por base bebidas italianas. Como o Negroni (dos melhores que já bebi), Spritz, Amaretto Sour ou Sgroppino, e os de assinatura. Dos seis cocktails de autor disponíveis, salta à vista o homónimo do restaurante, o Libertà Mule, que é feito com vodka com infusão de cardamomo e tomilho, licor St. Germain e ginger beer. Além disso, a carta de bebidas tem o seu foco também em vinhos nacionais e internacionais, nomeadamente italianos de regiões como Veneto, Sardenha, Toscana ou Lombardia, isto sem esquecer os tradicionais lambrusco e o prosecco.
No final, ficam as palavras do chef Silvio que resumem bem o espírito deste sítio: “A comida é sobre fazer as pessoas felizes, este é um restaurante sem peneiras onde os clientes podem vir e sentir valor da comida. Estamos cá para oferecer qualidade acima de tudo..”
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O Libertà ainda oferece um menu especial para o horário do almoço, que muda regularmente e é servido entre 12h e 15h, de terça à sexta. Os menus são compostos por antipasti e uma pasta à escolha, e inclui couvert, por 16€. E por 19€ o menu inclui a sobremesa do dia.
O restaurante está aberto de terça a sábado para jantares das 19h às 23h30. As reservas podem ser feitas por telefone (213 541 182) e por email: reservations@liberta.kitchen
*A experiência retratada neste artigo aconteceu a convite da marca e o texto reflete a opinião pessoal dos autores