Annie Ernaux, de 82 anos, laureada com o Nobel de Literatura, é atualmente uma das vozes mais importantes da literatura francesa. A romancista destaca-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes.
Nascida em Lillebonne, na Normandia, em 1940, estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas. O primeiro livro, “Les armoires vides,” foi publicado em francês em 1974. O quarto trabalho, “La place” (1983), elevou-a à proeminência.
Com mais de duas dezenas de livros publicados, Ernaux ganhou o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017), o Prémio Formentor de las Letras (2019) e o Prémio Prince Pierre do Mónaco (2021) pelo conjunto da sua obra. Recentemente, acrescentou um Nobel à coleção.
Entre as suas obras mais relevantes estão títulos como “O Acontecimento” ou “Os Anos”, editados em Portugal pela editora Livros do Brasil. Ambos são considerados essenciais para conhecer o trabalho de Annie Ernaux.
Uma jovem de 23 anos, estudante universitária brilhante, descobre que está grávida. Tomada pela vergonha, consciente de que aquela gravidez representará um falhanço social para si e para a sua família, sabe que não poderá ter aquela criança. Mas, na França de 1963, o aborto é ilegal e não existe ninguém a quem possa acorrer.
Quarenta anos mais tarde, as memórias daquele acontecimento continuam presentes, num trauma impossível de ultrapassar e cujas sombras se estendem para além da história individual. Escrito com uma clareza acutilante, sem artifícios, este é um romance poderoso sobre sofrimento, justiça e a condição feminina.
Escrito por Annie Ernaux em 1999, foi adaptado ao cinema em 2021 por Audrey Diwan, num filme vencedor do Leão de Ouro em Veneza.
Estendendo-se por um período que vai de 1941 a 2006, em “Os Anos” conta-se uma história que é simultaneamente coletiva e pessoal, transversal e intimista, de sessenta anos da vida de um país e da vida de uma mulher.
Através de pequenos fragmentos narrativos, por meio da relação entre fotografias, canções, filmes, objetos ou eventos da história recente, mais do que uma desconcertante autobiografia, Annie Ernaux constrói uma recordação de um «nós», num relato sobre o que fica quando o tempo passa: «Tudo se apagará num segundo […] Nem eu nem mim. A língua continuará a pôr o mundo em palavras. Nas conversas à volta de uma mesa em dia de festa seremos apenas um nome, cada vez mais sem rosto, até desaparecermos na multidão anónima de uma geração distante.»
Galardoado com diversas distinções, entre as quais o Prémio Marguerite Duras 2008, em França, o Prémio Strega 2016, em Itália, e a seleção para o Prémio Man Booker Internacional de 2019, este livro confirmou Annie Ernaux como uma das mais importantes vozes da literatura francesa deste século.