No bar de barra do piso superior, Vasco Diogo, chef de bar, prepara um cocktail de acordo com as nossas preferências, mais cítrico e menos doce, que resulta numa bebida à base do premiado aperitivo português Per Se. A paixão pelo que faz não só é bebível mas está estampada no sorriso aberto e na forma como partilha connosco informação privilegiada sobre o ‘néctar’ que irá levar a um concurso a acontecer em breve. Uma conversa bem regada que podia durar a tarde inteira, não fosse altura de ocupar a mesa que nos está destinada na sala principal, no rés-do-chão (o restaurante tem ainda uma belíssima esplanada e uma ‘Mesa do Chef’ indicada para grupos de 8 a 12 pessoas e com um menu feito à medida).
É um dia importante, vamos experimentar algumas novidades em estreia absoluta na carta do Oitto, em pleno Chiado (no Largo do Picadeiro) e esperamos pelo maestro, o chef Carlos Afonso, que será o nosso guia por um itinerário de sabores que se adivinha bastante português mas que não deixa por isso de ter margem para algumas surpresas. Aliás, quando fala da primazia que dá ao produto nacional – que não se esgota nos ingredientes e se estende à loiça que vem à mesa -, avisa que quem vier em busca das exceções à regra irá certamente encontrá-las. “Temos de ser honestos, não conseguimos fazer tudo com produto nacional.”
E o que é a cozinha portuguesa? “É uma Carne de Porco à Alentejana, sim, mas se a carne vem de Espanha, as batatas vem da Polónia, as ameijoas são vietnamitas… é comida portuguesa porquê? Tentámos desconstruir esta ideia e chegámos à conclusão de que há duas formas de cozinha portuguesa: a tradicional, na receita e no produto, e outra só no produto. A gastronomia evolui e as receitas viajam.”, explica o chef, alentejano de Portalegre mas que já passou por alguns dos mais reconhecidos restaurantes europeus.
Chega entretanto à mesa um ceviche – que se junta ao pão com trigo das nossas searas, à flor de sal de Castro Marim e à manteiga do Pico. Serve de exemplo a este sentido mais lato de cozinha portuguesa. “A batata doce é de Alzejur e a corvina da costa portuguesa. “Temos legitimidade para dizer que o nosso ceviche é mais português que muita carne de porco à alentejana feita com ingredientes que vêm de fora.” Tão português e delicioso como o Coelho de Coentrada ou os Rissóis de Berbigão que completam o cortejo de entradas, um excelente prelúdio aos pratos principais.
O Arrozinho de Lavagante à Chef Carlos e a Feijoada de Javali desaparecem entre suspiros da já antecipada saudade que vão deixar e ao ritmo da conversa que degusta o percurso do chef, entre o talento para a cozinha revelado ainda em criança, o Marketing pelo qual quase enveredou, as aventuras gastronómicas nos Países Baixos, o sucesso do restaurante O Frade, a paixão pela pesca e o desafio recente da paternidade. Mas as palavras nunca tiram palco aos sabores: Carlos Afonso está sempre atento, quer seja ao ponto de cozedura do arroz ou à quantidade de caldo no feijão, da forma despretensiosa que – rapidamente apuramos – o caracteriza tanto dentro como fora da cozinha.
E é com o mesmo entusiasmo desprovido de vaidade que, já depois da Mousse de Chocolate, Avelãs e Caramelo Salgado, anuncia os planos para um serviço de take away que promete surpreender pelo conceito inovador. Fiquemos atentos à nova ‘cartada’ do chef!