A indústria da moda e o setor têxtil sozinhos são responsáveis por 4 a 8% das emissões de carbono, o quarto maior impacto no planeta. Além disso, pode não ser fácil reciclar roupa, por uma razão que a maioria das pessoas desconhece: a maioria das peças que usamos são feitas de uma mistura de fibras e é muito difícil separar fibras sem as destruir. Além disso, o poliéster – a fibra mais usada em todo o mundo – é derivado do petróleo.
Por isso é importante tratar bem as roupas que temos, escolher bem quando compramos, e comprar menos.
Mas é isso que está a acontecer?
Segundo a WRAP (Waste and Resources Action Programme), uma ONG britânica, 30% da roupa que está nos armários não foi usada no ano passado.
Segundo o mesmo estudo, o inglês médio tem 118 peças de roupa, incluindo meias e roupa interior. Um quarto destas peças não foi usado no último ano. A maioria das roupas tem uma ‘esperança de vida’ de 4 anos, mas mesmo assim quase 23% dos inquiridos disseram que costumavam comprar roupa que sabiam que não ia durar tanto.
Claro que esta ‘esperança de vida’ varia segundo o tipo de peça: um casaco pode durar mais de 6 anos, enquanto um soutien não ultrapassa geralmente os dois. Mesmo assim, curiosamente, se acha que 4 anos para uma peça de roupa é pouco, esta duração ainda aumentou em relação a 2013, quando a sua duração média era de 3 anos. Ou seja, os ingleses guardam uma peça de roupa durante pouco tempo, mas mesmo assim esse tempo está a aumentar.
Já agora, para sermos mais picuinhas, cada adulto tem em média 15 pares de meias, dos quais dois raramente se usam, 15 peças de roupa interior (não devem estar a falar de mulheres, com certeza, mas o estudo não especifica). Saias e vestidos eram os items mais frequentemente comprados mas não usados, e as calças de gangas os mais usados. Enfim, quem é que nunca comprou um vestido porque era lindo mas depois não tem nenhum sítio onde o levar?
O facto de ter roupa que não usam não faz com que os ingleses deixem de a comprar: 45% compra roupa mensalmente e uma pessoa em 8 compra todas as semanas.
Claro que até aqui estivemos a falar dos britânicos. Mas serão os portugueses muito diferentes?
Em Portugal, o que se sabe é que a pandemia, a crise e o desemprego se fizeram sentir principalmente nas lojas de roupa. Segundo um estudo da Deco, 80% dos portugueses afirmam estar a cortar nos gastos com vestuário. Em tudo o resto, não temos dados mas em princípio a nossa relação com o que vestimos não será muito diferente.
Com tudo isto, vamos à pergunta inicial: afinal, quantas peças de roupa devíamos ter? Segundo um estudo feito em 2022 pela plataforma sustentável Hot or Cool Institute, de Berlim, um guarda-roupa ‘sensato’ consiste de 74 peças.
Se já foi ao seu armário contá-las ou está a abanar a cabeça e a dizer ‘haha, 74, era bom era’ saiba que, como vimos, não está sozinha. A boa notícia é que nunca é tarde para descobrir o que já não vestimos, porque é que já não vestimos, e como podemos comprar melhor.
O que podemos fazer para diminuir esta pegada ecológica do nosso armário: comprar menos, usar a nossa roupa durante mais tempo, lavá-la menos e comprar em segunda mão (enfim, comprar em segunda mão só ajuda o planeta se comprar ‘em vez’ de uma peça nova, e não ‘além’ de uma peça nova).
Segundo os especialistas, também ajuda escolher um guarda-roupa de tons neutros, que combinem uns com os outros. Claro que a moda também é criatividade e também serve para nos alegrar aquele dia em que nos sentimos particuarmente em baixo. Mas enfim, tenha em conta estas ideias, em nome do planeta.