
Parecia uma aposta nostálgica, um piscar de olho a quem, como eu, adorava ver a série de animação enquanto criança, mas X-Men’97 pode estar a revelar-se a tábua de salvação da Marvel.
Qualquer fã da Marvel está desgostoso com o que tem acontecido nos últimos anos. Desde o fenómeno que foi ‘Vingadores: Endgame’ que os filmes começaram a decair, com as narrativas perderem a qualidade, as fórmulas a soarem a repetidas, as personagens a entrarem por arcos pouco atrativos, ou até mesmo pelo humor cada vez mais forçado (Vá, ‘Homem-Aranha: Sem Volta a Casa’, de 2021, foi a exceção a esse declínio).
Começou-se a discutir se o sucesso da Marvel se tinha esgotado, se o público estava cansado de histórias de super-heróis, se estavam a espremer uma fruta que já não tinha sumo para dar. É então que surge uma estreia, que pode ter passado despercebida a um público mais mainstream e que pode ter feito torcer o nariz aos que ainda acreditam que a animação é um género menor.
No dia 20 de março a plataforma de streaming Disney + disponibilizou os primeiros dois episódios de X-Men‘97 e logo se percebeu que estávamos perante um ponto de viragem. A série saltou para o top dos conteúdos mais vistos e passou a liderar discussões nas redes sociais e em fóruns temáticos. Semana após semana, os fãs mostravam-se cada vez mais entusiasmados com o que estavam a ver, faziam comparações com as comic books, divertiam-se com os cameos de outras personagens, vibravam com o ritmo rápido, com as reviravoltas, com a tenacidade das personagens com a pertinência dos temas abordados.
Desde o dia 20 de março que as quartas-feiras à noite passaram a saber a dias de fim-de-semana de manhã. Passados tantos anos, ali estava eu novamente a vibrar com os mutantes que me conquistaram em criança, mas se na altura ficava fascinada com a ideia de super-poderes e da luta do bem contra o mal, agora tive a possibilidade de ver um outro lado deste mundo e da forma como aborda temas sociopolíticos que são uma metáfora para a realidade.
O ponto mais evidente em X-Men’97 é o da discriminação, de como o medo de quem é diferente gera um discurso de ódio que pode levar a atos extremistas. Vemos as dificuldades das minorias étnicas, os problemas da segregação, a luta por direitos civis. O ponto menos positivo vai para a opção de se traduzir os nomes das personagens. Curiosamente, e ao contrário do que se tem verificado em outras séries ou até filmes da Marvel, o humor ficou um pouco de parte, sendo mais subtil, focado em referências. É uma animação? Sim, mas não é tonta ou infantil.
Ver estes novos episódios também me permitiu recordar como em criança admirava as personagens femininas da série, sempre apresentadas como poderosas e fortes, mesmo que todas tivessem personalidades bem distintas. Na altura fizeram-me acreditar que as mulheres eram tão capazes como os homens e desta vez reforçaram a ideia de igualdade.
A próxima temporada de X-Men’97 já está confirmada e apesar de ainda não ter data de estreia dizem os rumores que o interesse da Disney e da Marvel é que seja lançada o mais rápido possível para que se aproveite esta onda de entusiasmado do público. Nos fóruns de discussão, pede-se que os produtores analisem o que fizeram com esta série, que percebam o que os fãs querem e que pensem melhor no que querem transmitir com os muitos filmes e séries que estão a fazer e que continuam previstos.
Para quem continua a olhar com desdém para o que é feito em animação e que só vê valor no cinema live action, lamento informar que esse preconceito pode fazer com que produções de grande qualidade passem ao lado.