É curioso que, numa altura em que há tanta liberdade sexual, acesso ilimitado a métodos anticoncepcionais, a apps e sites de encontros, pornografia para todos os gostos à distância de um clique, haja menos atividade sexual do que havia há 50 anos. São vários os estudos que o afirmam: os millenials fazem menos sexo que as gerações anteriores na idade deles. A justificação parece estar nos males modernos: no trabalho stressante, na sensação de insegurança e no acesso à tecnologia (internet, dispositivos móveis, redes sociais). Aparentemente, também o acesso ilimitado a sexo na internet tem tido um impacto negativo no sexo da vida real: além de viciar e alhear da realidade, cria falsas expetativas e muita frustração. Não quer com isto dizer que ver pornografia é mau, os especialistas em comportamento humano revelam estudos que demonstram que a libido aumenta quando se vê 40 minutos de pornografia duas vezes por semana. O problema é que se essa atividade pode entusiasmar o sexo masculino, para muitas mulheres a maior parte da pornografia é muito pouco estimulante, nada criativa e repetitiva. Além disso, sabe-se que o sexo feminino é mais sensível a outros estímulos que não apenas os visuais. É aqui que entra em cena uma das grandes tendências atuais do erotismo: o audioporno. No fundo, são histórias eróticas sem imagem, só som, disponíveis em aplicações, sites e podcasts. Antes de torcer o nariz ou ficar horrorizada por se lembrar das manhosas linhas eróticas dos anos 90, fique a saber que nada têm a ver com esse mundo morto e enterrado. Muitas das plataformas são bastante sofisticadas e foram criadas por mulheres e para mulheres com bastante sucesso. Porquê? Como diz a neurocientista Nicole Prause, “o vídeo pode ser mais estimulante que o audio, mas este é mais estimulante para a imaginação” e a verdade é que o cérebro é o nosso órgão sexual mais poderoso.
Venha conhecer algumas dessas plataformas (em inglês e francês) e quem sabe se não lhe apetece ficar a ouvir uma história… sozinha ou acompanhada.
Ferly
App desenvolvida para mulheres por duas millennials britânicas, Billie Quinlan and Anna Hushlak, que quiseram criar uma plataforma que trouxesse o mindfulness para a vida sexual. Ferly foi pensada depois das duas empreendedoras terem partilhado as suas histórias pessoais de abuso sexual e terem falado com mais de 400 mulheres sobre as suas preferências sexuais, medos e preocupações. As histórias eróticas desta app são positivas, procuram ajudar na exploração do próprio corpo, e são empoderadoras, dizem.
Voxxx
Se o inglês não é forte (embora haja uma versão na língua de sua majestade), ou se se considera francófona, tem a opção de se deliciar com este podcast francês, já com dois anos, dedicado ao prazer feminino e que tem à frente a pornógrafa Olympe de G. e a voz da pornstar Lélé O. Voxxx pretende que as suas ouvintes aprendam a explorar o seu corpo e a ter prazer, oferecendo para isso tantas histórias eróticas como um guia audio para sessões de masturbação.
Quinn
Site também direcionado para
o sexo feminino e idealizado por Caroline Spiegel, 23 anos, irmã do CEO do Snapchat. A ideia para este site surgiu quando a própria Caroline estava a passar por uma fase difícil, a recuperar de uma perturbação alimentar, quando se apercebeu que deixou de sentir prazer sexual. Por isso, decidiu criar uma plataforma que fosse um guia para as mulheres explorarem a sua intimidade e sensualidade sem o estigma da vergonha. O site tem apenas uma página, mas que inclui 3 secções: na primeira, as utilizadoras podem fazer upload das suas histórias; na segunda, lê-se contos sobre os mais variados temas, e na terceira pode ouvir histórias eróticas,
com 3 a 30 minutos.
Dipsea
App direccionada para mulheres, criada em 2019 por Faye Keegan e Gina Gutierrez, duas americanas com 29 anos. “A sexualidade é física mas também psicológica, não é só estímulo mas imaginação, inspiração. Queremos que as mulheres ouçam as nossas histórias eróticas com conteúdos consensuais e positivos e sintam mais vontade para ter sexo no dia a dia”, disse Gutierrez ao The Guardian. A app tem histórias com várias temáticas, para gozar acompanhada ou sozinha. Com conteúdos pagos.