
O que é
Quem ainda não viu, prepare-se para o que já foi descrito como ‘uma sova psicológica’. Um adolescente de 13 anos, Jamie, é acusado de ter matado uma colega. A série de 4 episódios conta a história a partir da esquadra, da escola, do centro de detenção e da família de Jamie, tentando perceber, não o que aconteceu (isso fica claro desde o início) mas porque aconteceu.
Porque é tão importante
Porque levanta vários temas duros e incómodos que estão a tornar o mundo mais cruel para todos: cyberbullying, influências misóginas, uma cultura de ódio em relação às mulheres, modelos de masculinidade tóxicos, falta de comunicação entre pais e filhos (especialmente pais homens e filhos rapazes) e uma cultura de adolescência profundamente cruel. A principal pergunta é esta: como é que um rapazinho é ‘formatado’ pela sociedade e pela cultura das redes sociais para odiar as mulheres ao ponto de matar alguém? O que leva a tanta raiva?
É baseado numa história verdadeira?
Um dos seus criadores, Stephen Graham (um ator e produtor inglês que também interpreta o pai de Jamie) quis investigar o fenómeno da raiva masculina em rapazes muito novos depois de ter visto duas notícias em que rapazes esfaqueavam raparigas até à morte. Em 2021, uma rapariga de 12 anos foi esfaqueada por um rapaz de 14. Em 2023, outra de 15 foi esfaqueada até à morte por um rapaz de 17. No Reino Unido, os esfaqueamentos aumentaram 240% numa década. Que se está a passar, perguntou Stephen Graham próprio. E a série tenta explicar de facto o que se passa: o que é a cultura ‘incel’, que tipo de impacto tem alguns influenciadores misóginos, que tipo de modelos masculinos têm estes rapazes, que mensagens estão a receber, e o que é que os pais não estão a fazer para os proteger ou para serem uma contra-voz.
Quem são os atores
O elenco tem sido tão elogiado quanto o argumento, desde o recém-chegado Owen Cooper (como Jamie Miller) até ao pai, Stephen Graham. Owen foi escolhido entre 500 rapazes depois de um vídeo que enviou à produção. Com apenas 15 anos (tinha 14 na altura em que a série foi feita) vem de uma família parecida com a de Jamie e não tinha nenhuma experiência de ator exceptuando aulas de teatro na escola, o que parece inacreditável se olharmos para as suas cenas. Aliás, já afirmou que Erin Doherty (que representa a sua psicóloga) foi a primeira atriz com quem contracenou. Uma curiosidade para quem vê séries: se a psicóloga vos pareceu familiar, não é só uma impressão. Erin Doherty foi a Princesa Ana na terceira e quarta séries de ‘The Crown’.
Como foi filmado
A tensão e a duração de cada cena constroem uma densidade narrativa ao mesmo tempo realista e dramática, e a explicação está também na forma como cada episódio foi filmado: em ‘Adolescence’ fez-se aquilo a que se chama ‘one-shot filming’, ou seja, cada cena foi filmada de uma só vez, sem cortes. Também houve espaço para improviso. Durante o terceiro episódio e a longa cena entre Jamie e a psicóloga, a certa altura Owen Cooper bocejou. ‘Estou a maçar-te?’ disparou Erin Doherty. Problema: essa frase não fazia parte do guião. Owen não respondeu e riu-se.
Porque é tão original
Não é a história habitual de como uma família arruina uma criança. Como afirmou Stephen Graham numa entrevista, o pai não é violento, a mãe não é alcoólica, e o miúdo não foi molestado pelo tio Tony. A série pergunta-nos, então se não foi a família, quem é – quem são – os culpados? E os culpados são muitos, todos perigosíssimos, todos banais, todos reais e todos presentes à nossa volta.
Qual é o objetivo?
Não necessariamente chegar a uma conclusão mas levantar a discussão sobre tudo isto, inclusive com os adolescentes. Ao que parece, já está a acontecer.