Talvez se lembre do primeiro livro de María Hesse, um álbum fantástico sobre Frida Kahlo, que ganhou o Prémio Da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil do Brasil. A ilustradora sevilhana havia de continuar com ‘Bowie’, ‘O Prazer’, ‘Marilyn’, e agora este ‘Mulheres más’ (Ed. Iguana).
Aqui se conta a história das mulheres e todas as que o lerem se vão identificar de uma forma ou de outra. E o que aqui está não é apenas a história real de pessoas que existiram, mas também a história dos modelos, moldes e prisões em que as fecharam ao longo dos tempos.
Problema com a história das mulheres: ao longo dos tempos, foi quase sempre contada por homens, e a visão masculina definiu o mundo até hoje. Aqui, a narradora e ilustradora constrói uma história imaginativa muito completa do mundo feminino, misturando a sua experiência pessoal e os mitos universais. De rainhas como Joana a Louca ou rainha Vitória a realizadores como a Ridley Scott ou Woody Allen, da Wonder Woman aos Beatles, de Coco Chanel a Margaret Atwood, é uma viagem muito completa à forma como as mulheres foram contadas ao longo do tempo.
Claro que não podiam faltar as princesas: “Aurora, Branca de Neve, Cinderela. Todas eram jovens, belas, passivas e dóceis. Os príncipes, esses eram enérgicos, aventureiros, valentes, e, sim, um pouco maníacos, devido àquela história de as tomarem como suas sem sequer lhes perguntarem. Quem se lembraria de questionar estas histórias de amor?”
Mas como a construção do nosso imaginário não começou em Walt Disney nem sequer pelos irmãos Grimm, María Hesse vai aos deuses do Olimpo, a Afrodite, a Pandora e à sua caixa, até ao ponto em que os mitos se cruzam com a realidade:
“Com os anos, percebemos que o mundo está cheio de mulheres como nós, e que aquelas que outros nos tinham dito que eram nossas inimigas e a quem apontavam o dedo são também um pouco loucas, putas e bruxas, mas, no fundo, são nossas irmãs e fazem parte do nosso conciliábulo.”
Bruxas, assassinas, más mães, sufragistas, feministas… Ao chegar ao século XX, a nossa fama não podia ser pior. María Hesse prossegue com a história das guerras, das mulheres fatais, do cinema.
O livro tem tanto material para reflexão e aprendizagem que pode ser um bom ponto de partida para conversas entre alunos e professores, entre pais e filhos, especialmente agora que se aproxima o Dia Internacional da Mulher. Mas acima de tudo, é uma boa forma de as mulheres de todo o mundo se encontrarem num espaço comum.
“Chegou o momento de ouvir, falar, e ocupar os espaços que nos têm sido negados”, afirma a autora. Ou para vos contar mesmo mesmo como é que acaba: “Bem-vindas ao conciliábulo das bruxas.”
Mulheres más, María Hesse, Ed. Iguana, E19,95