Este ‘Os meus dias na livraria Morisaki’ (Satoshi Yagisawa) não é uma obra-prima. Também não é de hoje: tem mais de uma década. Mas é um daqueles livros que, não sendo obras-primas, fazem falta de vez em quando. Não são pedantes, não querem fazer grande literatura, e ajudam-nos, como diriam os gurus do mindfulness, a recentrar.
A história: Takako, 25 anos, teve duas perdas grandes na vida – o emprego e o namorado, e por arrasto os seus amigos e conhecidos. No meio do desespero, aceita o convite do tio para morar num quarto por cima da sua livraria. Assim começa a vida de Takako entre os livros, mas a história tem mais a ver com as respetivas relações amorosas de tio e sobrinha, que se ajudam mutuamente a refazer as vidas estilhaçadas, do que com a literatura. De qualquer maneira, lê-se muito bem e pode ser um ótimo presente para adolescentes, por exemplo.
Além disso, dá-nos aqui oportunidade de falar de outros livros de autores japoneses que andam por aí e que vale a pena conhecer, porque têm uma característica muito japonesa: o gosto pela parábola, pela fábula, pela história que encerra algum tipo de moral ou de reflexão sobre a vida.
Curiosamente, o tema são muitas vezes os livros (e os gatos, e às vezes os dois juntos). Em ‘O gato que salvava livros’ (Sosuke Natsukawa, Ed. Presença), por exemplo, um rapaz que adora livros e está inconsolável depois da morte do avô recebe a visita de um gato falante que lhe apresenta uma missão: salvar alguns livros das mãos de pessoas que os trataram mal. O livro é uma fantasia engraçada, que também pode apelar a um público adolescente, embora esteja muito longe da ‘Sombra do vento’.
Mais uma viagem ao Japão vem com ‘Antes que o café arrefeça’ (Toshikazu Kawaguchi, Ed. Presença), que nos traz outra fantasia: num café centenário existe uma certa mesa que, em determinadas condições, leva ao passado quem lá se sentar. Pormenor: nada do que façam nesse regresso pode alterar o presente. Assim acompanhamos quatro mulheres que querem regressar a momentos-chave da sua vida para melhor os compreender.
A mais interessante de todas estas fantasias é o lindíssimo ‘Se os gatos desaparecessem do mundo’ (Genki Kawamura, Ed. Presença) onde um jovem carteiro com pouco tempo para viver faz um pacto com o Diabo: por cada coisa que faça desaparecer do mundo, ganha um dia de vida. Assim o autor nos faz pensar como seria viver sem aquilo de que mais gostamos, e que escolhas seriamos capazes de fazer.
Todos estes são boas ideias para pôr adolescentes a ler, e também para quem não esteja com muita paciência para leituras complicadas. Porque, tal como a nossa heroína da semana, todos nós passamos fases mais duras, e também a nós os livros podem ajudar a ultrapassá-las.
Os meus dias na livraria Morisaki – Satoshi Yagisawa (Presença, E12,51)