Tradicionalmente, os jornalistas nunca são notícia. É uma espécie de mandamento da classe. Mas quando o acontecimento é a Segunda Guerra e os jornalistas são mulheres, o caso já é outro. Porque mulheres reporteres nos anos 40 do século passado não era tão comum como hoje. Daí serem elas as heroínas deste ‘As enviadas especiais’ (Ed. Casa das Letras), um livro interessantíssimo que passou um bocado despercebido entre tanta literatura sobre a Segunda Guerra.
Aqui se conta a história de seis pioneiras crojajosas, determinadas e criativas, que atravessaram barreiras que hoje nos parecem quase desumanas para conseguirem descobrir a verdade e contar o que se passava naquilo a que chamamamos hoje, pomposamente, ‘o teatro de operações’.
Aqui ficamos asaber mais sobre pessoas como Clare Hollingworth, que noticiou em primeira mão o início da guerra com a Polónia, Martha Gellhorn dos primeiros jornalistas a entrar num campo de extermínio nazi, Lee Miller, modelo da Vogue que se tornou correspondente de guerra ou Sigrid Schultz, uma judia que ajudou a denunciar ao mundo os planos do III Reich.
Como se pode facilmente calcular pela amostra, são vidas que constroem um livro que vale a mesmo a pena ler porque é um relato de aventuras quase inacreditáveis do princípio ao fim. Ou seja: esqueçam lá a silly season e aproveitem os dias de férias ou os dias apesar de tudo mais calmos (para quem não está de férias), ponham-se à sombra e deliciem-se com esta leitura.
Ah, para não dizerem que não valeu a pena vir aqui, mais uma achega: a autora, Judith Mackrell, é crítica de dança de profissão, e , entre outros livros de não-ficção, escreveu uma biografia que deve ser igualmente interessante: ‘Bloomsbury Ballerina: Lydia Lopokova, Imperial Dancer and Mrs John Maynard Keynes’ (selecionado para o Costa Biography Award).
É a história de Lídia Lopokova, uma bailarina russa que ficou famosa durante o início do século XX, e que também ficou conhecida como Lady Keynes, por ter sido casada com o economista John Maynard Keynes. Por enquanto ainda só pode lê-lo em inglês, mas pode ser que ainda se lembrem de o traduzir.
Entretanto, fiquem com estas enviadas especiais, que ficam muitíssimo bem.
‘As enviadas especiais’ – Judith Mackrell, Ed. Casa das Letras, E22,90