Esta é a história… do nascimento dos livros. Geralmente, quando pensamos num livro nunca pensamos… que nem sempre houve livros. Aliás não pensamos nada. Abrimos o livro e pronto. Aqui se mostra como o caminho foi longo até chegar ao objeto que seguramos na mão, seja em papel ou em ecran. E lê-se como um livro de aventuras, porque também se trata disso.
Nunca pensamos que houve tempos em que um ‘livro’ era um rolo de papiro que se enrolava e desenrolava (aliás, as palavras têm memóroa e guardámos palavras dessa altura, como quando dizemos que ‘a história desenrola-se numa cidade’, por exemplo). Aqui se conta como nasceu, e como se transformou em todas as suas muitas formas ao longo de mais de 30 séculos: tivemos livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore, de plástico e, agora, de plástico e luz.
Mas este não é um relato cronológico, do tipo: ‘o livro nasceu no ano tal…’. É uma partilha afetiva de uma pessoa que sabe muito (Irene Vallejo é especialista em mitologia grega e romana) e que adora livros, o que dá uma mistura explosiva: um livro que não se consegue parar de ler, tal como não se consegue parar de ouvir alguém que fala muito bem e muito apaixonadamente.
Este também éum relato sobre todos os protagonistas da história do livro, todos os que fizeram com que, muitos séculos depois, alguém ainda hoje consiga ler a história de Ulisses ou Aquiles, por exemplo. Aqui encontramos contadores de histórias, escribas, iluminadores, alfarrabistas, sábios, escravos, aventureiros, faraós, filósofos, mas sobretudo encontramo-nos a nós: nós leitores, que já eramos leitores no tempo dos gregos ou dos romanos (embora nessa altura, como vão aprender, ler desse bastante mais trabalho). Também é apaixonante perceber como nós leitores do século XXI somos parecidos com os leitores antigos.
Embora às vezes seja confuso para os control-freaks como eu que gostam de manter uma cronologia arrumadinha, o livro ensina-nos qualquer coisa em cada linha, viajando ao sabor dos temas entre o nosso tempo e o de Ovídio (que foi o primeiro autor a escrever específicamente para as mulheres), entre Joyce e Aristófanes, entre os tablets e os trovadores.
Também é um consolo para quem acha que os livros vão desaparecer em breve. Como afirma a autora, “Quando comparamos algo novo e algo velho, achamos sempre que o novo tem mais futuro. Na verdade, acontece o contrário. Quantos mais anos leva um objeto ou um hábito entre nós, mais futuro tem. É mais provável que no século XXIII existam freiras e livros do que Whatsapp e tablets.”
A conclusão é simples: “Perante a catarata de previsões apocalípticas sobre o futuro do livro, eu digo: um pouco de respeito. Não subsistem tantos artefactos milenares entre nós. E os que restam demonstraram ser sobreviventes difíceis de desalojar.”
‘O infinito num junco’ – Irene Vallejo, Bertrand, E19,90