
Este ‘Como sobreviver na Pré-História’ é um daqueles livros que podia começar com ‘se achas que a tua vida é difícil, começa a ler este livro’. Enfim, não é que isso nos anime, mas é verdade.
É um livro feito a pensar no vosso filho de 8 anos, mas duvido muito que algum pai ou mãe o ofereça à criancinha sem primeiro se divertir com ele. Foi o que me aconteceu. É preciso dizer que tenho uma adoração muito especial pela Pré-História. Em primeiro lugar, foi há tanto tempo que tudo é misterioso. Em segundo, fico sempre a pensar como é que pessoas que divergiam tão pouco de nós conseguiam sobreviver (enfim, coitados, ou não) naquelas condições.
Claro que devia haver vantagens: a natureza estava intocada, o buraco do ozono não existia, e tudo o que se comia era bio. Mas as desvantagens, como nos mostra este livro, eram mais do que muitas: animais selvagens, fome, frio, grutas assustadoras, “e nada de hospitais, frigoríficos ou aquecimento.”
A Pré-História é um período muito longo: durou mais de dois milhões de anos. Começou com o aparecimento dos primeiros hominídeos, há aproximadamente 3 milhões de anos, e durou até à invenção da escrita, por volta de 35 mil a.C. Os Homo Sapiens (nós) só apareceram há mais ou menos 300 mil anos (mais ou menos mil anos depois dos Neandertais) e conviveram com os vizinhos – por assim dizer – durante mais de 100 mil anos. Depois em 35 mil a.C os Neandertais extinguiram-se, e ficámos nós sozinhos – por assim dizer – a reinar no planeta, coitado.
Pronto, isto foi só para vos situar. O livro percorre todas estas fases – vai do Paleolítico com a descoberta do fogo, o fabrico de utensílios e armas e as tendas, ao Neolítico, com o sedentarismo, as primeiras aldeias, a agricultura, a criação de gado, e depois até à Idade dos Metais e ao aparecimento da primeira escrita, na Mesopotâmia.
Claro que, como vos disse, quanto mais lá para trás, mais divertido (enfim, divertido para nós) e este livro não é exceção. Saber como se faz uma lança é mais engraçado do que a vida numa aldeia, que anda hoje existem.
Pelo meio, ficam uma série de factos divertidos, ilustrados por desenhos ainda mais divertidos: nós, Homo Sapiens, somos a espécie de hominídeos que existe há menos tempo, a agulha foi uma das mais importantes invenções humanas, a bexiga de um animal era a antepassada das garrafas, os humanos já gostavam de festas, e sim, a certa altura pensa-se que houve canibais (isto não era um facto divertido para eles, mas enfim).
Aqui se conta também um dos mais importantes marcos da Humanidade: aquilo que determinou a sobrevivência do Homo Sapiens e não, por exemplo, a dos Neandertais, foi… uma perna partida. Querem saber porquê? Então leiam o livro. E depois passem ao vosso filho. Ao princípio ele vai achar fixe uma época em que não havia escola. Mas depois vai mudar de ideias.
‘Como sobreviver na Pré-História’ – Juan de Aragón, Porto Editora, E15,50