A MANGO deu mais um passo importante rumo à sustentabilidade na área da moda com a assinatura do Fashion Pact, uma aliança global que visa promover a sustentabilidade ambiental dos setores têxtil e da moda. A marca foi uma das 24 signatárias que aderiram a este pacto global, do qual já fazem parte um total de 56 empresas e 250 marcas. A assinatura deste pacto faz parte da aposta da marca em estabelecer a sustentabilidade ambiental como uma das suas orientações estratégicas
Beatriz Bayo, Diretora do Departamento de Responsabilidade Social Corporativa da Mango, falou connosco sobre este importante passo da marca espanhola rumo a um mundo mais verde.
- O que motivou a adesão ao Fashion Pact e quais as principais metas da Mango relativamente à transformação sustentável a curto e longo prazo?
A Mango aderiu ao Fashion Pact, porque na empresa temos um forte compromisso com a sustentabilidade. A sustentabilidade é um dos nossos pilares estratégicos e fazer parte do Fashion Pact é fazer parte do futuro sustentável, visto que nos permitirá avançar coletivamente em prol da sustentabilidade e em benefício de toda a indústria. Este ano, o Fashion Pact trabalhou para estabelecer as bases comuns, as ferramentas e o caminho para avançarmos juntos em direção a uma indústria da moda mais sustentável. Tem sido o motor que acelera o caminho para a redução do impacto ambiental da indústria têxtil. O trabalho centra-se nos três pilares estabelecidos, com especial destaque para o clima e os oceanos.
Neste sentido, os signatários do Fashion Pact têm colaborado, contribuindo com a sua experiência e compartilhando know-how com especialistas para se definirem metas de redução da pegada de carbono de acordo com os SBT (Science Based Targets). Em sintonia com este objetivo, a Mango está a realizar uma análise pormenorizada da nossa pegada de carbono para apresentar os SBT, ao longo de 2021, juntamente com um correspondente plano de redução de emissões. Da mesma forma, os membros do Fashion Pact têm o compromisso em priorizar o uso de materiais com menor impacto ambiental, o que se enquadra perfeitamente nos objetivos definidos para fibras sustentáveis da Mango, que divulgámos no início deste ano.
Estamos a trabalhar para aumentar a proporção de fibras sustentáveis nas nossas coleções e, portanto, 100% do algodão utilizado nas nossas peças será de origem sustentável antes de 2025. Temos também previsto aumentar o uso de poliéster reciclado nas nossas peças. Pretende-se que a sua utilização aumente para 50% antes de 2025. Outro ponto contemplado neste plano é que, antes de 2030, 100% das fibras celulósicas utilizadas sejam de origem controlada. Este é um marco muito importante, pois contribuirá para melhorar a rastreabilidade dos materiais utilizados nas coleções da empresa. Isto, juntamente com a nossa adesão à SAC (Sustainable Apparel Coalition) em janeiro deste ano, que nos ajuda a entender o impacto da nossa coleção e de toda a nossa ação contra o plástico, vai acelerar o nosso caminho em direção à sustentabilidade da nossa empresa e, consequentemente, do nosso setor.
- A atual pandemia adiou de alguma forma os objetivos se sustentabilidade da Mango definidos para 2020 e 2021?
Uma das tendências que se acelerou no setor, por causa da pandemia, é precisamente a sustentabilidade, um eixo estratégico para a Mango. Novos clientes e o consumidor em geral querem ter cada vez mais informações sobre aquilo que compram e dão mais valor às boas práticas do setor. Na Mango, continuamos a trabalhar nos objetivos essenciais que já tínhamos definido e continuamos a avançar na transformação sustentável da empresa.
- A transformação sustentável da Mango irá refletir-se de alguma forma nos preços para o consumidor final?
Não necessariamente. Há já vários anos que as marcas estão a trabalhar para a transformação do nosso setor e para uns critérios globais de sustentabilidade, pelo que a moda sustentável já passou a ser uma alternativa real ao alcance de todos. É verdade que existe uma parte mais ligada à tecnologia que ainda precisa de melhorar. Falta ainda alguma inovação tecnológica para alguns processos, por exemplo, processos que melhorem a extração de fibras recicladas ou para alguns acabamentos, etc. Porém, no geral, às vezes, o desconhecimento sobre o assunto leva-nos a construir preconceitos e a ter uma visão equivocada daquilo que significa e implica vestir-se de forma mais ética e responsável. Temos de ter em consideração um dado muito relevante: 80% da energia que essa peça vai consumir ao longo da sua vida vai dirigida aos cuidados que temos com ela em casa (lavar, secar, engomar, etc.), além do impacto ambiental dos detergentes, amaciadores e outros produtos que utilizamos. É por isso que nós, como consumidores (e não só as marcas), com os nossos pequenos atos quotidianos, temos também responsabilidade de virmos a conseguir uma moda mais sustentável.
- Qual o material escolhido para substituir o plástico das embalagens da Mango e porquê, e quais os principais passos para atingir a eliminação total do plástico?
A sustentabilidade é um dos pilares estratégicos da Mango e trabalhamos todos os dias em novos projetos que nos permitem ser uma empresa mais sustentável. Por isso, decidimos encontrar uma alternativa aos sacos de plásticos que usávamos até agora nas embalagens e substituí-los por este tipo de sacos de papel. Trata-se de papel de seda, um material feito a partir da polpa natural de fontes renováveis. Este papel provém de florestas cultivadas de forma sustentável, onde as práticas executadas para o corte das árvores estão certificadas de acordo com os requisitos das normas internacionais FSC® (Forest Stewardship Council®), pelo que, além de ser 100% biodegradável e 100% reciclável, a rastreabilidade do papel está garantida.
Pareceu-nos que este material era o adequado, porque, além de substituir o plástico, contribuímos para uma economia circular, visto que os produtos de papel podem ser reciclados entre quatro a seis vezes. Além disso, pareceu-nos também ser um material com muitas possibilidades de design, o que nos dá muitas opções para fazer chegar a mensagem ao nosso cliente para que contribua connosco para uma indústria mais sustentável, reaproveitando, quando chegar o momento, reciclando corretamente, etc., e assim evitar ao máximo que os sacos de papel se tornem numa embalagem descartável. A reciclagem do papel é muito mais fácil para o consumidor final do que o plástico, pois costumam ter menos dúvidas em relação a este material na hora de reciclar e, consequentemente, o modelo circular é amplamente garantido.
Assim que decidimos experimentar estes sacos de papel e tínhamos o modelo inicial, decidimos fazer um primeiro teste em Marrocos. É muito fácil começar em Marrocos, pois temos muita confiança nos fornecedores daquele país e teríamos os primeiros resultados em pouco tempo. A aparência final, depois de ter passado pelo nosso centro de distribuição, continuava a ser boa, sem sacos rasgados, mas foi necessário fazermos algumas mudanças. Voltámos a experimentar com uma produção na China para verificar principalmente a resposta às condições de humidade durante o transporte de barco e, novamente, o resultado foi bom. Por fim experimentámos com calças de ganga confecionadas em TK, pois queríamos observar a resposta do saco com uma peça mais forte e com passamanaria. Uma vez que este terceiro teste-piloto também tinha sido bem sucedido, decidimos levar a cabo o lançamento e começar nas próximas produções com peças dobradas.
Pretende-se agora implementar a aplicação dos sacos de papel de forma progressiva, em mais países e em mais famílias de peças, pelo que haverá um período em que coexistirão sacos dos dois materiais.