Começou por ser uma marca de sapatos, mas neste momento, já se está a expandir para outros produtos. O que a caracteriza? Além de ser uma marca nacional, é uma marca vegan. Criada por Beatriz Pacheco, que estudou Design de Moda na Faculdade de Arquitectura de Lisboa e  se especializou em Styling na Pulp Fashion, dá resposta a uma necessidade que, confessa, sempre sentiu desde nova: dar asas à sua criatividade e assinar as suas próprias criações. Confessa que “desenha a pensar em todas as mulheres, mulheres reais, com preocupações reais”. A marca nasceu há menos de um ano, com o mote “Stay Real | Vegan Fashion Never Looked So Real”, para a primeira coleção.

Depois de conversarmos com Beatriz foi fácil concluir que este é um projeto com os pés bem assentes no chão, em que, além do veganismo, tem na sustentabilidade outra das preocupações, ao apostar em coleções pequenas, com menor desperdício e maior aproveitamento de materiais. 

Como surgiu a Beatriz Pacheco Brand na sua vida? Sempre soube que o design moda seria a sua vida?

A marca surgiu devido uma necessidade que sempre senti desde muito jovem. Sempre fui muito criativa desde criança e desde cedo que a vontade se ser livre e independente esteve muito presente – só veio a aumentar com o passar dos anos. Muito por influência de familiares meus relacionados a áreas criativas, esse meu lado foi evidenciando cada vez mais. O meu percurso académico e profissional passou sempre pela arte, moda, design e styling e, como qualquer criativo, é-nos inata a vontade de assinar as nossas próprias “criações”. O gosto pela moda e a arte foi algo que sempre tive em mim, muito natural – não consigo apontar uma data ou um porquê, mas consigo afirmar que nunca tive dúvidas de que essas áreas estariam presentes na minha vida.

Como foi o processo desde a ideia à concretização?

Além do processo criativo, de muitos desenhos e estudos, para chegar aos primeiros produtos lançados pela marca, as várias fases de testes de produto, a escolha das fábricas parceiras, a escolha das matérias primas, todo o processo burocrático de criação de uma marca, a equipa que me iria acompanhar neste projecto, aliado à situação em que o mundo estava a atravessar – a pandemia Covid19 – tornou-se um processo mais longo e difícil até à sua concretização.

Quais as linhas principais que definem esta marca e porquê a necessidade de colocar o foco no veganismo?

As linhas principais que definem a essência da marca são a exclusividade (originalidade no design e a fabricação de poucas quantidades), a consciência (o facto de sermos uma marca 100% vegan e a busca constante por tentarmos ser o mais sustentáveis possível), a história e a qualidade (uma marca orgulhosamente portuguesa que valoriza o trabalho manual dos artesãos e técnicas tradicionais) e, a elegância e irreverência (que espelham a minha estética de design). O nosso conceito assenta sobre produzir artigos originais, de qualidade, actuais e intemporais (acompanhando as tendências da moda), fazendo-o de forma consciente. A necessidade de fazer produtos totalmente vegan, criando assim uma marca vegan, vem primeiramente da minha infância. Os meus primeiros anos vivi no campo, os meus avós tinham muitos animais e desenvolvi um respeito e carinho especial por eles e pela natureza. Com o passar dos anos, e durante a minha formação deparei-me com questões como as repercussões que a pegada ambiental da produção de vestuário e calçado têm no planeta, como tal, e com o desenvolvimento da tecnologia da actualidade, a meu ver, é completamente desnecessário qualquer manipulação ou exploração animal para nos vestirmos ou calçarmos, mesmo quando somos consumidores de tendências actuais da moda.

Sempre foi apaixonada por sapatos?

Sim! Sempre adorei moda, de um modo geral, mas o calçado para mim tem um simbolismo e um valor diferente – olho para o calçado de uma forma diferente, quase como uma peça de arte. O calçado tem uma estética e um simbolismo que espelham da essência da mulher. Para mim é mais do que um acessório imprescindível e a peça que pode mudar um look – é símbolo de beleza, elegância, sensualidade, confiança, atitude, irreverência –consegue espelhar qual o nosso “mood”, a forma como nos sentimos, no fundo, diz muito sobre a personalidade da mulher. Toda esta carga emocional e simbólica que emprego no calçado vem da minha infância, mais uma vez. Fui uma miúda com pouca autoestima, e das memórias mais presentes que tenho é de calçar, pela casa, os sapatos de salto alto da minha mãe e sentir-me mais bonita e elegante – olhava-me ao espelho de forma diferente.

Onde vai buscar as matérias-primas para as peças?

As matérias-primas na maioria das vezes são escolhidas em conjunto com as minhas fábricas parceiras. Utilizamos maioritariamente peles vegan e alguns dos componentes de construção do interior do calçado que são provenientes de fibras recicladas. 6. Num mercado atualmente tão dinâmico, o que distingue esta marca das restantes? É precisamente pelo facto de sermos uma marca vegan com um cunho de design e estética diferente. Considero que proporciono aos consumidores uma oferta diferenciadora no setor de produtos vegan através do acompanhar das tendências de moda actuais e de um design minimalista, empregando detalhes mais arrojados – procuro sempre uma irreverência elegante e contida, fazendo com que se tornem peças distintas e intemporais.

Quais são as suas principais inspirações durante o processo criativo?

As inspirações nunca são as mesmas. As ideias surgem espontaneamente e de forma muito natural enquanto desenho, ou vejo um filme, fotografias, a conduzir, a viajar, qualquer situação ou momento pode ser propício para surgir uma nova ideia ou ponto de partida. Não tenho uma regra ou sempre o mesmo método de realizar a minha fase de estudos/desenhos, também ela é livre. Por vezes desenho directamente no computador, ou em papel (na mesa, na parede, em blocos ou em folhas soltas), ou ainda por meio de montagens de fotografias e digitalização de amostras de matérias primas. O único ponto que se mantém transversal a qualquer produto que crio é a minha estética que se baseia numa linha minimalista, com foco nos detalhes, empregando sempre ligeiros traços mais arrojados.

Desenha todos os sapatos? E gosta de todos os estilos da mesma maneira? Sim, quero que a minha marca se torne cada vez mais diversificada na oferta. Não me irei cingir a um único tipo de calçado. Claro que me identifico mais com alguns tipos de calçado do que outros, mas não quero apenas fazer só esses. Trabalho para um público em geral, e sou a favor da liberdade e diversidade – tento ao máximo chegar a vários estilos de consumidores, embora, por mais diversa que poderá ser a minha oferta, o meu cunho pessoal, a minha estética vai estar sempre presente, tal como, a minha assinatura.

Que mulher tem em mente quando concebe as suas peças?

“Desenho para pessoas reais, com preocupações reais”, é o que costumo dizer. É a pensar em pessoas com gosto pela moda e pelas tendências, que valorizem a exclusividade e a originalidade do produto, que apoiem e valorizem a qualidade da confecção portuguesa e, além disto, se preocupem com o nosso planeta. Não consigo apontar uma janela de idades ou distinguir o nosso público-alvo de outra forma qualquer porque acredito que o factor que faz ou não alguém usar ou comprar é precisamente a confiança, o estilo, a personalidade – o consumidor tem que se identificar com a estética e com o conceito.

Alguma criação pela qual tenha um carinho especial?

Gosto de todos os produtos que criei até à data, como é obvio, mas de formas diferentes, o que também considero ser normal. Claro que a primeira ideia, o primeiro modelo torna-se sempre mais especial. Curiosamente, (e como os meus processos criativos não seguem regras) o primeiro desenho e, consequentemente, o primeiro produto a ser concebido, só foi lançado na minha segunda colecção – trata-se do modelo 40s Boots, da colecção “Rock The Office”.

Quais os best sellers da marca?

Os best sellers da marca, até ao momento, são os Stay Rooted Slippers e as Stay Real Boots da primeira colecção “Stay Real” e o modelo 40s Boots da colecção “Rock The Office”.

Torna-se mais difícil ter um novo projeto em plena pandemia?

Quais os principais obstáculos com que se debateu? Sim, foi muito complicado ao inicio, e continua a ser. Primeiramente, foi complicado chegar a uma fábrica que tivesse disponibilidade para aceitar mais um projecto a iniciar do zero. E seguiram-se várias questões a nível de alguns atrasos nos prazos estabelecidos ou nas fábricas, ou com outros fornecedores e elementos da equipa devido, muitas vezes, a funcionários que infelizmente adoeciam ou a momentos em que as fábricas tiveram mesmo que fechar. Momentos em que seriam necessárias deslocações físicas ao norte do pais e que foram impossíveis de realizar – Todas estas questões de logística aliadas a questões do foro emocional, que acaba sempre por ser atingido em momentos como este, mais frágeis e incertos, no final de contas, o prejuízo é a vários níveis. O foco, a determinação e o pensamento positivo tem que estar sempre presente todos os dias.

Como tem sido a adesão?

Muito boa! Estou muito feliz porque o feedback dos consumidores está a ser muito positivo. Recebemos muitos elogios relativamente à estética dos produtos, ao conforto e à qualidade e, parabenizam-nos pela iniciativa vegan e a busca pelo reaproveitamento de materiais. A marca é recente, iniciou-se no verão do ano passado, como tal, ainda nos estamos a implementar, a tentar deixar a nossa marca, mas acreditamos que estamos num bom caminho. 14. Quais são os planos para o futuro? A curto prazo, o que poderei anunciar é que teremos novidades a nível de calçado, de malas, e teremos um artigo que será lançado da mesma forma e com o mesmo conceito, como fizemos com as malas – através de mais peças únicas.

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