Criada em 2017, a marca portuguesa de swimwear 38 Graus é um caso de sucesso e faz rebentar os termómetros das redes sociais. Curiosamente, a fundadora admite que nem sempre teve paixão por biquínis.

“Eu era aquela pessoa que usava uma parte de cima preta e uma parte de baixo azul, e nada tinha a ver com nada”, conta-nos Marta Oliveira. Tudo mudou quando foi fazer ERASMUS para o Rio de Janeiro. “Eu vivia com 11 miúdas, todas loucas por biquínis. Comprei uns 50 modelos e pensei: ‘Acho que gostava de fazer isto para a minha vida. Acho que quero desenhar biquínis'”, recorda.  

No regresso a casa, partilhou o sonho com o pai, que foi rápido a chamá-la à realidade. “Ele achou-me completamente maluca e disse-me: ‘Não te vou ajudar. Vou estar sempre ao teu lado, mas vais pedir um empréstimo ao banco e fazer tudo como se eu não estivesse cá, para perceberes o que é que a vida custa e como é que as coisas funcionam”.

A jovem mostrou ter perseverança. Além de verificar que este não era um mercado muito explorado em Portugal, identificou outra lacuna. “Havia uma marca com cortes muito simples e com cores neutras, e outra com folhos, flores e muita informação. Eu percebi que, se calhar, podia encaixar-me entre as duas e fazer desenhos que chamassem a atenção na praia, mas com cortes que dessem para queimar. Quando lancei a 38 Graus foi logo um sucesso”.

O Brasil também marcou os percursos profissionais de Joana Machado e Inês Pereira da Costa, que viriam a tornar-se sócias da empresa. Para começar, ambas viveram no Rio de Janeiro, durante sete anos e seis meses, respetivamente (Inês ainda viveu mais sete anos em São Paulo). Depois, trabalharam juntas numa marca de fatos de banho que lhes permitiu importar a história e qualidade de Terras de Vera Cruz para o nosso país. Porém, com a pandemia, o negócio acabou por não vingar. Ficou a fé no potencial dos biquínis brasileiros e, por isso mesmo, a dupla agarrou a oportunidade de recomeçar ao lado de Marta.

Juntas, estas três mulheres criaram uma sinergia interessante em que cada uma contribui com elementos diferentes que se complementam: Marta é a alma criativa, desenhando todos os padrões à mão, o que torna muito difícil encontrar designs iguais em qualquer outro lugar; Inês, que sempre trabalhou no mundo corporate, traz o lado business e assume as questões burocráticas; e Joana é a responsável por tudo o que diz respeito ao e-commerce operacional.

Em entrevista à ACTIVA, as empresárias falam sobre o passado, o presente e o futuro da 38 Graus.

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O Início

Porquê o nome 38 Graus?

Marta: O nome tem duplo sentido. O mais óbvio é que remete para uma temperatura que, apesar de ser um pouco alta, é boa. Mas também faz referência à latitude de Lisboa.

Quais foram os principais desafios no início do negócio?

Marta: Encontrar uma fábrica de confiança e com preços competitivos é sempre muito difícil para alguém que está a começar. Nessa fase, a produção é sempre pequena e, como tal, os custos de fabrico são sempre mais altos. Isso faz com que a margem não seja assim tão boa. Também tive dificuldade em encontrar uma lycra que fosse elástica e tivesse o máximo de qualidade possível. Eu nunca iria lançar uma marca se sentisse que as criações tinham uma qualidade inferior ou não fossem capazes de durar para a vida, passando de geração em geração, que era uma ideia que me agradava. 

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Poolside Series

Como é que a sinergia entre vocês se reflete na campanha deste ano?

Marta: Nós queríamos fugir um bocadinho à regra, então usámos o trabalho de Slim Aarons e a forma como ele fotografa as mulheres nas piscinas como referência. Foi isso que nos inspirou este ano, bem como o facto de termos sempre corpos reais.

Joana: Pegando no que a Marta está a dizer, quisemos mostrar que a mulher pode exagerar, ser glamorosa e ir para a piscina de biquíni e saltos altos. Ou seja, é um bocadinho como eu vejo a 38 Graus: uma marca que arrisca muito em termos de padrões e vivacidade. Quisemos pôr isso numa campanha. 

Inês: Quem escolhe um biquíni da 38 Graus gosta de ser vista. Este ano, adicionámos as saias, as calças e os calções, que complementam looks de verão e inspiram as pessoas a ‘arranjarem-se’ para irem à praia. A campanha deste ano trouxe mais esse lado da moda e acaba por se diferenciar de campanhas mais convencionais, com foco na piscina ou na praia. 

A nível de padrões, quais são as apostas fortes da coleção?

Marta: Eu não sou muito de seguir tendências. Estou sempre a pesquisar! Passo dias e dias no Instagram e no Pinterest, e vou um bocado pelo meu gosto e pelo que vejo que as minhas amigas gostam, porque confio imenso nos gostos delas. Este ano fiz uma coisa diferente e usei padrões desfocados. Depois, temos sempre as flores, que são um elemento que marca a 38 Graus e o padrão Vichy. O segredo é jogar com tons que não são óbvios e penso que isso faz a diferença.

Numa era em que há tantas marcas de swimwear portuguesas, e que apostam muito no digital, como é que se traça num plano de comunicação diferenciador?

Inês: As parcerias com influencers resultam muito bem. A partir do momento em que elas publicam, partilham e vestem, isso geram um engagement muito grande para converter numa compra. Essa estratégia deu muito certo em Portugal e estamos a tentar fazer o mesmo em Espanha, não só com o envio de produtos, mas através da Vasquiat. Estamos presentes nesse marketplace e na loja física em Barcelona, bem como numa outra loja física em Madrid. Tudo isto passa por uma estratégia de expansão que combina conteúdos digitais com a presença em espaços físicos para gerar credibilidade de marca.

Joana: Estamos numa altura de explorar novos mercados e marketplaces. Queremos sair de Portugal e entrar em Espanha, então temos toda uma expansão a decorrer neste momento e estamos a trabalhar nisso. 

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Verão 38 Graus

Como é a relação das mulheres portuguesas com o swimwear?

Inês: É diferente comparativamente a mulheres de outros países europeus. Dada a nossa relação de grande proximidade  com o Brasil, sempre foi muito óbvio para nós usarmos biquínis mais curtos. Além disso, temos um país com muito sol, no qual a cultura da praia está bastante enraizada, e, como tal, damos importância a termos biquínis giros. Eu acho que consigo contar pelos dedos das mãos as minhas amigas que têm biquínis de marcas de fast fashion, porque, simplesmente, não são cortes que assentam bem no corpo.

Marta: Há 10 anos, o lançamento da primeira pequena marca de swimwear nacional fez com que as portuguesas mudassem completamente a forma como viam os biquínis. Antes não havia o vício de comprar biquínis. Hoje em dia, eu vejo mulheres que compram seis, sete biquínis por verão, porque querem realmente ir para a praia com o biquíni mais giro, ser vistas e dar nas vistas, Dantes isso não acontecia.

A diversidade e a autenticidade estão muito enraizadas na indústria da moda. Em que medida é que isto é importante para a 38 Graus?

Inês: Aquilo que queremos é que os nossos shootings e fotografias sejam inspiradores para qualquer pessoa que os veja. Isso é super importante para nós. Dando um exemplo muito pessoal, todas nós crescemos com imagens das modelos da Victoria’s Secret e a querer ser como elas. Agora, eu tenho uma filha e adorava que ela crescesse num mundo onde pudesse ver que qualquer tipo de corpo e de beleza é aceite e está tudo bem. Mas não é preciso fazermos posts a dizer que valorizamos isso; aquilo que tentamos fazer é mostrar todo o tipo de diversidade e autenticidade possível através de todas as nossas fotografias.

Marta: Não queremos que seja moda falar sobre estes assuntos, mas sim uma coisa normal. A normalização é o caminho a seguir.

Joana: No fundo, queremos é que as pessoas sejam felizes e autênticas;que usem, arrisquem, abusem! A nossa narrativa passa muito por isso. 

O que nos reserva a marca para este verão e onde é que podemos encontrar as vossas criações?

Inês: Podem esperar muitas novidades! Nós ainda não lançámos a nossa coleção toda, haverá um segundo drop em meados/final de maio e, a partir daí, teremos lançamentos de alguns modelos todas as semanas. 

Marta: Estamos sempre disponíveis na Nossa Concept Store [ R. das Gáveas 14, Lisboa] e, agora, na Vasquiat. Também fazemos envios para qualquer lugar do mundo através da nossa loja online.

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