O público presente no Palácio da Foz para assistir à edição deste ano dos Prémios ACTIVA Mulheres Inspiradoras aplaudiu com emoção a subida de Leonor Beleza ao palco para receber o prémio Carreira. Com a entrega deste galardão, que recebeu das mãos de Luís Marques Mendes, o júri dos prémios quis prestar homenagem ao incansável espírito combativo da Presidente da Fundação Champalimaud em prol da igualdade de género.

Foto: João Lima

“Estou muito emocionada e sensibilizada”, disse a presidente do Centro Champalimaud, logo no início do seu discurso, tocada pelas palavras de Luís Marques Mendes. “Aprendi com a minha mãe que as mulheres podem e devem fazer tudo. Na verdade, tenho vivido num período muito especial do ponto de vista do nosso estatuto e daquilo que podemos fazer.”

“As coisas mudaram muito e eu foi privilegiada por participar nisso tudo. Acredito profundamente que cada um de nós tem obrigação de desenvolver os talentos que foram postos à sua disposição. Quando fazemos isso, não somos credores de exigir, temos mesmo de fazer o que temos obrigação de fazer“, afirmou no seu discurso.

No dia em que tomava posse o novo executivo, Leonor Beleza falou desse marco da democracia no nosso país. “Esta iniciativa é muito importante. Como disse a Dra. Maria de Belém, ‘descobrimos mulheres em todas as áreas para termos nomeada em todas as áreas”‘ A palavra ‘descoberta’ é muito relevante. Ouvimos sistematicamente dizer que não sabemos onde elas estão, que infelizmente continuamos para muitos efeitos a escolher e a nomear sistematicamente muitos homens. Todas nós já ouvimos isso. A verdade é que hoje vai tomar posse um Governo em Portugal onde o Primeiro-Ministro descobriu mulheres suficientes para fazer um Governo paritário (…). O primeiro-ministro é filho de uma feminista, a jornalista Maria Antónia Palla, e ela deve estar muito contente por aquilo que o filho dela ‘descobriu’ para formar este Governo”. E não deixou de salientar: “Toda a vida me interessei por estas questões e continuo a guardar uma atenção muito especial à forma como é que as coisas estão distribuídas entre homens e mulheres”.

No seu discurso, falou da necessidade de vencer os preconceitos com que ainda somos educados, rumo a um mundo de maior paridade: “A última fronteira para estabelecer e aceitar um mundo de igualdade está dentro dos nossos cérebros, na maneira como nós olhamos para as coisas, na maneira como distinguimos ou não se estamos a falar com homens ou mulheres. Também tenho esse pré-juízos dentro da minha cabeça e o que preciso é percebemos que são pré-juízos e, em cada circunstância em que isso é relevante, destruí-los e descobrir onde estão aquelas e aquelas que devem ser escolhidos para o que está em causa”.

Uma vida dedicada a provar que as mulheres “podem e devem fazer tudo”

É incontornável o papel de Leonor Beleza na história da luta pela igualdade de género e contra a discriminaçãp nas últimas décadas em Portugal. Mas já desde pequena se via que não tinha vindo ao mundo para ser aquilo que as meninas eram maioritariamente nessa altura. Quando nasceu, em 1948, o mundo estava recém-saído de uma guerra devastadora e Portugal vivia uma ditadura que duraria quase mais três décadas. No princípio da década, a percentagem de analfabetos era de 60%, incluindo um grande número de mulheres, que era suposto dedicarem-se acima de tudo à maternidade e à família (as que podiam, claro).

Leonor cedo mostrou que não tencionava ficar-se por aí e afirma que aprendeu com a mãe que o mundo também era das mulheres. Aliás, nasceu numa família absolutamente fora do normal no nosso país, onde havia muitos exemplos femininos fortes. A bisavó e as irmãs foram das primeiras médicas portuguesas, ainda no século XIX, e a mãe fora do Porto para Coimbra estudar direito numa altura em que isso era raríssimo.

Aliás, uma rapariga na universidade de Direito continuava a não ser muito comum na década de 60 quando Leonor Beleza entrou na Universidade de Lisboa, onde os rapazes continuavam em maioria. Tal como as duas irmãs mais novas, Teresa e Maria dos Prazeres, nunca quis outro curso que não direito.

Foi professora na Universidade e em 1977 participou na alteração do código civil português que foi importante em vários aspetos, principalmente no que diz respeito à igualdade das mulheres. Depois do 25 de Abril entrou na vida política, onde ocupou vários cargos.

Fez parte do PSD desde a sua fundação, foi Secretária de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, foi a primeira ministra da saúde e a segunda mulher ministra. Eleita várias vezes deputada do Parlamento, travou lutas que hoje seriam, felizmente, impensáveis: foi por exemplo a primeira Secretária de Estado a ser chamada no feminino, tal como pediu ao primeiro ministro Francisco Pinto Balsemão.

Voltou a pedir a ‘nomeação’ feminina do cargo quando foi ministra, com Aníbal Cavaco Silva. Também lutou contra estereótipos, contra a culpa feminina, contra os horários de trabalho na política, impiedosos para quem tem filhos, e defendeu as quotas como forma de abrir o poder a mais participação feminina.

A batalha pelos direitos das mulheres trava-a até agora e abriu portas que de outra forma permaneceriam fechadas. Como afirmou numa entrevista ao DN em 2008, “olho à volta para os outros países e, com quotas ou sem quotas, percebo que a equidade se transformou numa coisa normal. E aquilo que a mim me dói é achar que aqui em Portugal as pessoas em geral, não é só os líderes, não se ralam.”

Hoje, além de membro do Conselho de Estado, é a Presidente da Fundação Champalimaud desde a sua criação em 2004. Em 2000, António Champalimaud telefonou-lhe e convidou-a para presidir a uma fundação dedicada à investigação e saúde. Aceitou imediatamente.

A Fundação tornou-se uma das principais referências na área da saúde e da investigação em cancro e neurociências e a sua presidente continua a acreditar no poder da ciência e na capacidade das mulheres para mudarem o mundo. Resta saber se o mundo está disposto a ouvi-las.

Saiba mais sobre os Prémios ACTIVA Mulheres Inspiradoras aqui.

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