Fotos, João Lima, e styling, Patrícia Pinto

Aproveite os ventos de mudança que sopram nas palavras de Madalena Pereira. Há pouco menos de três anos corria apenas uma brisa no bairro de Lisboa onde vivia. Nesta profissão fala-se com muita gente, das mais variadas áreas e com as mais variadas personalidades e formas de estar. Sei que alguém me inspira quando saio de uma entrevista com a sensação de que tudo é possível, com aquela adrenalina boa – e ao mesmo tempo incómoda – que nos faz questionar a nossa vida ou simplesmente pô-la em perspetiva. Neste caso acabei a conversa prontíssima para me mudar para o campo, nuns segundos de pura epifania. 

“Sou muitas coisas e já fui muitas coisas”, começa por dizer Madalena Pereira, 27 anos, fundadora da FLO, uma empresa de produção e comercialização de flores, quando lhe peço para me falar de si. Há também uma certa liberdade nas suas palavras e estas não as leva o vento, estão inscritas numa história bem real – a sua. “É importante as pessoas permitirem-se a experimentar coisas novas, a arriscar, quando não estão felizes com aquilo que estão a fazer.”

Há quase três anos fazia isso mesmo. Formada em Engenharia Civil – que nunca exerceu –, tomava a decisão de deixar o seu trabalho de dois anos e meio num fundo de investimento ligado ao imobiliário – pelo ritmo frenético, mas também pelo ambiente demasiado formal – para abraçar um novo desafio na área de produção de eventos, a convite de alguém com quem já tinha trabalhado na organização do festival LISB-ON. “Despedi-me em janeiro de 2020, em fevereiro comecei a trabalhar com ela e… trabalhei um mês.” O que aconteceu a seguir todo o mundo sabe.

Desempregada, Madalena começou a ajudar o namorado, agora marido, Duarte, agricultor biológico e responsável de campo na Quinta do Arneiro, que pertence à sua família. Estavam assim lançadas as sementes para o seu negócio e a sua nova vida. “A FLO é uma marca toda ela sobre flores – da semente à flor fresca, à forma como podemos secar, reaproveitar, utilizar para tingir, usar nas nossas refeições, como decoração… O objetivo a longo prazo é criar uma cadeia de economia circular: produzimos, apanhamos, vendemos e o que não conseguirmos escoar ou secamos para os outros produtos ou apanhamos as sementes para vender nos nossos produtos. O objetivo é criar a ideia de que tudo se aproveita, nada se desperdiça.”

“A pandemia foi o empurrão que eu precisava para ouvir aquela vozinha que cá estava a dizer para eu arriscar, experimentar outra coisa, para abrandar um bocadinho o meu ritmo de vida – há anos que o Duarte dizia que tínhamos de mudar para o campo e eu dizia sempre que não dava. E afinal deu.”

As flores

“Sempre tive o hábito de ter flores, faz uma diferença gigante na alma de uma casa, traz cores que não se conseguem através dos outros elementos de decoração. A minha avó tem o jardim mais bonito que conheço e a minha bisavó sempre teve imensas rosas, aquela coisa do jardim inglês. Lembro-me de lá passar muito tempo, do cheiro das rosas principalmente. E depois também do jardim da minha avó, que estava sempre lindo, a apanhar flores, a descobrir flores e a estragar flores a certa altura [risos]. Ainda hoje, quando nos juntamos todos – a família não é muito grande, mas é muito barulhenta, muito intensa – é sempre no jardim e rodeados de flores. Sempre me dei lindamente com a minha avó, mas hoje, com a FLO, tenho uma relação muito especial com ela. Se quero testar alguma coisa, mando para ela, é a pessoa que consegue fazer crescer tudo e de uma forma linda.”

Terra e mar

“A minha família é da zona de São Pedro de Moel, toda a minha infância foi passada junto ao mar. Fiz bodyboard de competição até aos 21 anos, fiz parte da seleção, fui duas vezes campeã nacional de juniores – parece que foi noutra vida. Hoje em dia, continuo a praticar, mas como hobby. O meu pai desde criança que tem uma ligação muito forte ao mar, fez pesca submarina a vida inteira, eu e o meu irmão fizemos o curso de mergulho com 14 anos, antes de andar eu já estava na natação, e todos os anos, no dia 1 de janeiro, eu, o meu pai e o meu irmão vamos sempre dar um mergulho no mar. Agora, acabei por ganhar um gosto pela terra e pelo campo que há uns anos não achava ser possível. Mas aqui onde estou é o limite, estamos a 15/20 minutos do oceano.”

Abrandar

“Mudámo-nos para o campo, para o Turcifal, em janeiro de 2021. Tinha um trabalho estável, bem remunerado, perto das Amoreiras, num trabalho das 9h às tantas, superformal. Vivia em Lisboa, era sempre casa trabalho, trabalho casa. De repente estou a viver no campo, passo o meu dia de tesoura de poda, boné, botas de trabalho e calções, sempre toda desgrenhada. Quando mudei para o campo, foi toda uma aprendizagem, de abrandar um bocadinho porque eu vinha com aquele ritmo muito acelerado da cidade. Tive de abrandar e viver um bocadinho ao ritmo do campo.”

Esta coisa de abrandar não significa que as coisas deixem de ser feitas ou que façamos menos coisas. É estar mais focada nas prioridades, não sentir a pressão de ter que estar sempre a fazer qualquer coisa… mesmo quando não tenho nada para fazer. É fazer as coisas com calma, no meu caso gosto muito de estar no campo a apanhar flores.

“Depois desta sessão fotográfica, por exemplo, fiquei sozinha no campo a fazer uns arranjos, a tirar umas fotografias e a desacelerar depois de um dia que acabou por ser um pouco intenso. E gosto desta parte de poder ter sempre o campo e as flores para desacelerar e recentrar.”

Um negócio em tempos de covid

“Os nossos primeiros produtos eram para serem feitos em casa. No Natal, houve aqueles fins de semana em que não se podia sair depois da uma e acabou por ser uma coisa boa para a marca. Lançámos uma caixa para fazer coroas de Natal e recebemos imensas fotografias de famílias a fazê-las juntas, com crianças e tudo. Claro que criar um negócio em plena pandemia não é fácil – muitos sítios estão fechados, os fornecedores não respondem em tempo útil e as transportadoras estão cheias de trabalho –, mas acabámos por beneficiar bastante do facto de as pessoas estarem mais tempo em casa.”

Criatividade analítica

“Sempre me debati entre um lado mais criativo e um lado mais analítico. Fiz cursos de fotografia, pintura, sou eu que faço as fotografias e todo o trabalho de design na FLO. Mas também adoro dar explicações de matemática. Hoje é 50-50, gosto muito de criar, mas sempre que crio um produto, tenho de ter uma base analítica para tomar a decisão. “

Na minha vida pessoal sou uma pessoa ponderada, penso muito nas minhas decisões, mas em certos momentos da minha vida senti que precisava de descomplicar e de dizer ‘bora, why not?!’ Como no casamento, decidimos casar em dois meses, toda a gente nos dizia que éramos loucos… É bom ter uma base organizada, mas ter também este lado espontâneo que nos permite sair da rotina. É impossível planearmos tudo, onde vamos estar daqui a dois anos.

“A minha vida mudou radicalmente, passei de trabalhar num fundo de investimento para começar a trabalhar na parte de produção de eventos, para começar a trabalhar no negócio das flores, de viver na cidade para passar a morar no campo, tudo isto num ano. Passei de uma coisa típica,’ by the book’, para uma vida fora da caixa. Foi uma mudança radical de vida.”

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