Um ano depois da invasão da Rússia à Ucrânia, é seguro dizer que há duas pessoas que, sem pedir este tipo de protagonismo, assumiram o seu papel nesta guerra com a coragem de poucos. Uma delas é, inevitavelmente, Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano. A outra é a sua mulher, Olena Zelenska. “Desde que a guerra começou que não consigo pensar em mim, em como estou ou como me sinto. Para isso, falta-me a paz, o sossego. E mesmo quando há silêncio, por mais curto que seja, estou demasiado exausta para me escutar a mim”, revelou numa entrevista que concedeu à revista alemã Zeit.
Na verdade, desde o primeiro dia que Olena se colocou ao serviço da paz do seu país. Assumiu o papel da diplomacia e, com as suas palavras, tem tentado sensibilizar o mundo para a urgência de uma ajuda à Ucrânia. Mas para lá deste papel, há dois que assume estarem, agora, em segundo plano: o de mulher e o de mãe. “Infelizmente, os reencontros [com o meu marido] são muito raros e isso esgota-nos. Há um ano que não vivemos juntos. Posso comunicar com ele por telefone ou vê-lo no seu escritório, mas as crianças não têm essa sorte e têm saudades dele. Quando se veem são encontros curtos e estamos sempre dependentes do relógio”, conta. Ainda assim, a mulher de Zelensky sublinha: “Não me quero queixar, porque isto não é o pior que pode acontecer a alguém em tempos de guerra”.
Olena e Volodymyr tentam estar juntos uma vez por semana, para partilharem uma refeição enquanto casal, mas nem sempre é possível. Ainda assim, e apesar de todas as circunstâncias, não há qualquer tipo de arrependimento perante a decisão de ambos de não abandonarem o seu país e o seu povo. Desde que a guerra começou que não vivem juntos, nem em família, por questões de segurança, e nos primeiros meses do conflito não podiam sequer estar juntos, mas a primeira-dama da Ucrânia é peremptória na mensagem que deixa ao país – e ao mundo: “Os meus filhos estão a olhar para mim. Não darei largas ao pânico ou às lágrimas. Estarei calma e confiante”.
O peso, porém, do sofrimento de uma nação tem sido particularmente doloroso para Olena. “Esta pressão constante está a deixar todos no nosso país doentes, física e mentalmente. Eu própria sou madrinha de um programa de terapia para crianças traumatizadas na Ucrânia. Organizamos uma espécie de acampamento para aqueles que perderam os pais, as irmãs ou os irmãos. Cuidamos de pessoas que não podem comer ou que não sentem nada [devido ao trauma profundo]. Mas eu não estou muito melhor. E também estou a receber ajuda psicológica. Acho que não preciso esconder isso”, revelou à Zeit.
De forma totalmente honesta e transparente, admite que, muitas vezes de manhã, não se sente com energia para enfrentar um novo dia. Mas que contraria o que sente, pelos seus filhos e por todos os ucranianos. Praticar desporto tem sido um escape para Olena, mas nada consegue tornar o que têm vivido mais leve. “A guerra mudou absolutamente tudo. Os pensamentos que tinha no passado parecem-me, agora, ridículos. Desde fevereiro do ano passado que se trata apenas de operações de resgate. Isso pode parecer patético, mas a minha vida gira em torno de ajudar outras pessoas”, rematou.