As fundadoras da Color Square são mãe e filha. Ou melhor, uma mãe que já é avó e uma filha que já é mãe: Teresa e Inês Figueiredo.
Teresa tem 63 anos, é farmacêutica e trabalhou na farmácia da família durante 20 anos. Depois, entrou na indústria farmacêutica, mais especificamente na área da cosmética, tendo lançado e trabalhado várias marcas de sucesso. Em 2019, saiu da multinacional, após atingir o topo de carreira como CEO.
Inês tem 40 anos e licenciou-se em Gestão com especialidade em Marketing. Começou por trabalhar numa multinacional de grande consumo na área da cosmética, mas, decorridos três anos, acabou por tornar-se colega de trabalho de Teresa — uma situação profissional que durou 12 anos. No final de 2021, também deixou esse emprego e foi aí que a dupla decidiu criar um projeto baseado no respeito pelo ambiente.
Assim nasceu a Color Square em 2022. Uma concept store portuguesa inteiramente dedicada a marcas sustentáveis de brinquedos para crianças. Recentemente, as fundadoras lançaram também uma coleção de vestuário 100 por cento nacional e orgânico, com ilustrações da artista Maria Remédio. Conversámos com Inês Figueiredo, que contou tudo sobre este projeto.
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A Marca
Como começou a vossa jornada de sustentabilidade?
A nossa jornada e um ganhar consciência para a sustentabilidade começou uns anos antes [do lançamento da Color Square], quando trabalhámos uma marca de cosmética grega sustentável com uma visão inspiradora do que deveriam ser as marcas e as empresas, e o seu papel na comunidade e no que respeita ao planeta. Foi uma verdadeira inspiração e mudança de mentalidade. Passámos a incorporar muitas coisas nos nossos hábitos e casas, e, quando decidimos criar um negócio em 2022, não nos fazia sentido ser de outra forma. O futuro passa por cada pessoa ganhar consciência e, dentro do seu âmbito, ter atitudes mais responsáveis do ponto de visto do ambiente.
Dizem que todos os negócios começam com a identificação de uma lacuna no mercado. O que vos inspirou a encontrar soluções e agir, culminando no lançamento da concept store?
Após ter o meu primeiro filho, eu estava sempre à procura de brinquedos mais didáticos e que estimulassem a criatividade. Além disso, tentava fugir ao plástico e aos brinquedos mais descartáveis. Ganhei uma paixão enorme por todo o mercado infantil, incluindo a roupa, por ser tão emocional. Muitas vezes, acabava por comprar marcas mais pequenas, que não existiam em Portugal, online. Assim, achámos que faltava uma concept store que reunisse marcas incríveis de todo o mundo e o ponto diferenciador seria a criação de uma marca de roupa Color Square.
Qual é a missão da marca?
Contribuir para as crianças crescerem de forma livre e criativa, mas conscientes do seu papel no futuro, e conseguirem transformar este mundo num lugar melhor! Sempre com muita cor!
Quais são os desafios, se é que existem, do empreendedorismo sustentável?
A sustentabilidade é um caminho que se vai percorrendo e envolve muitas variáveis. Os desafios são vários e começam por todos os materiais, tanto na produção de roupa como até em materiais de embalamento e promoção, que são mais caros e difíceis de encontrar. De mencionar também o próprio consumidor, que, apesar de estar muito mais consciente, nem sempre está disposto a pagar por ser sustentável. Portanto, há todo um trabalho que tem de ser fito ao nível da educação e consciencialização.
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Brinquedos sustentáveis
Pode dizer-nos mais sobre a indústria de brinquedos para crianças e o impacto que esta tem no meio ambiente?
A indústria de brinquedos é das mais poluentes. Produzem-se biliões de brinquedos no mundo e a maioria são de plástico, muitas vezes produzidos na China, com legislações insuficientes no ambiente e na ética, e descartados rapidamente pelas crianças. Alguns utilizam plástico que nem sequer é possível ser reciclado.
Qual é a importância de apostar em alternativas amigas do ambiente?
Eu diria que é crucial apostar em alternativas mais amigas do ambiente em qualquer área. Mas penso que se torna imperativo quando falamos de crianças, porque é também a educação delas que está em causa: como, desde pequeninas, veem o nosso planeta e o protegem naturalmente. Mudar hábitos, mentalidades e ganhar consciência desde cedo não é uma moda, é mesmo uma necessidade.
Como são selecionadas as marcas que integram a concept store?
As marcas são selecionadas de forma muito criteriosa relativamente aos valores de sustentabilidade, diversidade, durabilidade e o estímulo que vão dar às crianças. Temos marcas de todo o mundo, mas maioritariamente europeias. São marcas que usamos pessoalmente nas nossas casas e das quais somos fãs. A grande maioria são negócios pequenos e familiares.
Quais são os principais materiais utilizados para a produção dos brinquedos?
Nas marcas que selecionámos, a grande maioria utiliza a madeira ou plásticos reciclados; o cartão e papel reciclado; plásticos 100% recicláveis e com muita resistência e durabilidade; e vidro.
Essas matérias-primas garantem maior segurança, qualidade e longevidade?
A segurança está sempre assegurada, porque, sendo brinquedos para crianças, passam por diversos testes que assim o garantem. Os materiais utilizados são de qualidade e durabilidade, prolongando assim o tempo de vida útil dos brinquedos, podendo passar por diferentes crianças e até mesmo gerações. Há brinquedos intemporais dos meus filhos que tenho a certeza que guardarei para os meus netos.
Quais são os benefícios que um negócio mais eco-friendly pode trazer às empresas de brinquedos?
Acho que todas as empresas de brinquedos estão conscientes e a trabalhar arduamente para se tornarem cada vez mais sustentáveis. Muitas estão a testar materiais que consigam ser igualmente resistentes sem utilizar plástico. O futuro passa por aí: repensar o negócio. Em alturas de grandes mudanças também surgem sempre grandes oportunidades.
No que diz respeito a brinquedos sustentáveis, quem está a mudar? As crianças ou os pais?
Os dois. Os pais fazem compras cada vez mais conscientes e escolhas mais duradouras, que possam passar entre irmãos e até mesmo ser vendidas em segunda mão. Eles começam a perceber que, mesmo que sejam mais caras, vão durar mais tempo e ainda conseguem reaver algum do investimento.
Mas as crianças também estão cada vez mais alerta para o perigo do plástico para a natureza e, muitas vezes, já são elas a dizer que não querem [algo] porque acabará nos oceanos a fazer mal aos animais. Os meus filhos, por exemplo, estão sempre atentos e muito críticos de tudo o que seja em materiais que são maus para o nosso planeta.
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A linha de roupa
O lançamento de uma linha de roupa infantil já estava nos vossos planos?
Sim, desde o início. Sempre quisemos ter uma concept store de criança com as marcas que já adorávamos de brinquedos, arts&crafts e livros, cujo ponto diferenciador seria a nossa coleção de roupa. Pretendíamos lançar tudo em simultâneo, mas a produção da roupa atrasou-se tanto que avançámos primeiro com a concept store.
De onde veio a inspiração para os designs?
Queríamos ter uma marca de roupa com peças práticas, intemporais e unissexo. Por isso, temos peças que qualquer criança tem de usar: T-shits, sweatshirts, leggings, calças e jardineiras. Quanto aos padrões, decidimos logo que iríamos desafiar artistas nacionais a passarem a sua arte do papel para o tecido. As nossas coleções serão sempre “edições de artista”, sendo que cada um deles trará a sua inspiração e uma “história” diferente para cada coleção.
Relativamente às cores, tudo na Color Square é cor; está no nosso ADN. Por isso, a roupa irá contrariar as novas tendências de tons pastel e vamos usar cores fortes e alegres, como queremos que a infância seja.
Qual é o papel de Maria Remédio nesta coleção?
A Maria Remédio foi a nossa primeira artista convidada e foi ela que desenhou todos os padrões e ilustrações que temos na nossa coleção. Já conhecíamos o trabalho da Maria e gostávamos muito do estilo de ilustração e das cores que ela usava. Como tal, achámos logo que se encaixava muito bem com a nossa estética. A Maria teve liberdade criativa total e só assim faz sentido.
Quais são os materiais utilizados para confecionar as peças?
Só utilizámos algodão orgânico nesta primeira coleção. De futuro poderemos incluir fibras recicladas e outros materiais sustentáveis. A indústria têxtil inova constantemente nesta área.
Como é o processo de produção?
A indústria têxtil em Portugal é uma das mais reconhecidas no mundo e grande parte das principais marcas de roupa de criança produz cá. Toda a nossa coleção é produzida em fábricas no norte do País. Para as malhas, sarjas, tricots e meias, trabalhamos com quatro fábricas diferentes e encomendamos lotes pequenos, de modo a minimizar o desperdício.
Que tipo de artigos estão disponíveis na loja? Quais são os best-sellers?
Temos 11 peças nesta primeira coleção, desde t-shirts e sweatshirts até jardineiras e calças, coletes e meias, que são unissexo e podem ser usadas em todas as estações do ano. Os best-sellers são as T-shirts, principalmente a do padrão dos lápis, e as meias.
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Futuro
Em Portugal, vê oportunidades e outros empreendedores sociais a crescer localmente?
Sem dúvida! Já há vários empreendedores locais com projetos incríveis e há espaço para crescer, tanto porque o consumidor português está cada vez mais consciente e alerta. O conceito de comunidade também está a ganhar outra dimensão.
O aumento de pessoas que valorizam o slow living e escolhem marcas com impacto positivo, como a vossa, segue a mesma tendência?
Este conceito do shop small e shop local aumentou com a pandemia. As pessoas ligaram-se mais aos seus bairros, querem saber de onde são os negócios e qual a história por detrás dos mesmos. Valorizam o esforço dos empreendedores, principalmente havendo carácter social e querem apoiar.
Nas famílias, o slow living ganha cada vez mais adeptos. Numa era tão digital, há uma necessidade enorme de pais e filhos desligarem dos ecrãs e terem tempo de qualidade entre si.
Qual é o próximo passo para a Color Square?
Sonhos não nos faltam, mas o próximo passo é, sem dúvida, “mostrar” a nossa marca de roupa em Portugal e também no estrangeiro. Depois da experiência da pop-up store, em maio e junho, ganhámos ainda mais vontade de ter um espaço físico em Lisboa que seja mais do que só uma loja. Queremos proporcionar uma experiência com ideias que só fazem sentido num espaço físico, mas também com envolvimento da comunidade: uma verdadeira loja de bairro.
Tem algum conselho para outras donas de negócios locais que querem fazer a diferença?
Acreditar nos nossos valores, mesmo que, às vezes, seja difícil; muita resiliência e uma boa dose de otimismo! E pedir ajuda a outros empreendedores. Há uma verdadeira comunidade de entreajuda formada por pequenos empreendedores e, claramente, o lema “juntos somos mais fortes” nunca fez tanto sentido.