“É no fundo do mar que eu consigo respirar fundo”
“Nasci em Paris, bem longe do mar, mas ainda criança vim para Portugal com os meus pais. Era daquelas miúdas que ficava fascinada com os programas de televisão sobre o mundo subaquático e desde muito jovem que o meu sonho era filmar e fotografar o fundo do mar, mas toda a gente me dizia que em Portugal isso não tinha futuro nenhum, e eu pus esse sonho de lado. Entretanto começaram a surgir oportunidades para trabalhar em televisão como atriz e eu fui aceitando e acabei por ficar muito entusiasmada com esta profissão. Fiz o curso no Conservatório e segui o meu caminho nas artes performativas. No entanto, há nove anos comecei a fazer mergulho e desde então parece que o meu sonho, que ficou guardado numa gaveta do meu inconsciente, começou a vir ao de cima. Não é que a paixão pelo mar tivesse sido posta de lado, ao longo destes 20 anos comprava a revista National Geographic sempre que tinha uma capa com mar ou oceanos, ia logo ver de quem eram as fotografias e vibrava imenso quando via nomes portugueses, como os de Nuno Sá e o Luís Quinta, fotógrafos que muito admiro. Assim que comecei a mergulhar nunca mais parei, tirei vários cursos, cada vez mais complexos, e há uns anos comprei uma máquina digital. A minha reação foi ‘porque não fiz isto há 20 anos? É isto que eu quero, estar no fundo do mar a fotografar e a filmar. Quero mostrar o fundo do mar às pessoas, como é lindo! E é esse o meu foco ultimamente.
Investi bastante em equipamento de filmagem e de imagem, fiz um curso de edição de vídeo e estou, aos 44 anos, a realizar, um sonho dos 18. Desde 2021 já estive envolvida em muitíssimos projetos: contrataram-me para fazer os vídeos do projecto ‘Kids Dive’ criado pelo biólogo marinho Frederico Almada da universidade do ISPA, um projecto que promove a literacia do oceano em escolas de todo o país com a parceria das respectivas Câmara Municipais. É um projecto que me dá imenso prazer filmar, por ter a oportunidade de captar a reacção genuína das crianças a mergulhar pela primeira vez e a descobrirem a vida marinha. Estivemos o ano passado na Noruega, foi um sucesso e parece que temos outros países interessados neste projecto.
Em Maio e Dezembro de 2022 viajei até ao Parque National du Banc d’Darguin na Mauritânia, inserida num projecto cientifico liderado pela Cientista Estér Serrão entre o CCMAR (Centro de ciências do mar da Universidade do Algarve ) e o ISPA para filmar os extensos quilómetros de pradarias marinhas da costa Africana e divulgar a sua importância enquanto berçário e fonte de alimentação da biodiversidade marinha, bem como da sua função na absorção de CO2. Sendo este parque natural muito conhecido por ser um local muito frequentado por aves marinhas, como por exemplo os pelicanos, o corvo marinho, e os flamingos é claro que também fiz uns registos desta vida selvagem e foi espectacular!
No passado mês de Abril, viajei até Guiné Bissau, para uma expedição científica numa parceria do CCMAR e do Ministério das pescas de Guiné Bissau. Viajámos em modo wild como eu gosto, fazendo acampamento em diversas ilhas selvagens, a fazer mergulhos científicos em locais nunca antes explorados, também com o intuito de ter mais informação sobre as florestas marinhas das ilhas de BIJAGÓS e da respectiva biodiversidade marinha praticamente desconhecida nestas ilhas.
E ultimamente entre Junho e Julho de 2023 tenho mergulhado quase todos os dias no nosso rio Tejo pelo projecto ‘CavalMAR’ do ISPA e da C.M. Almada onde procuramos ao longo da zona ribeirinha de Almada populações de cavalos marinhos, que como sabemos estão em grande decréscimo por todo o mundo. É um projecto que me é muito especial pois quando comecei a filmar cavalos marinhos há cerca de dois anos atrás, apaixonei-me perdidamente por esta espécie.
E provavelmente será protagonista num projecto meu que espero que aconteça no próximo ano.
Entretanto continuo a fazer as muitas locuções de voz e também surgiram trabalhos de filmagens subaquáticas para campanhas de sensibilização de várias marcas Portuguesas.
Com tantos projetos e tantas viagens não tenho tido muito tempo para me dedicar mais ás redes sociais ou à construção do meu site de trabalho, mas cada passo a seu tempo, e por enquanto quero aproveitar tudo o que está a surgir e continuar esta aventura pelo mar a dentro.
Tenho aprendido tanto nos últimos dois anos sobre o nosso Oceano! E é absolutamente viciante, é querer saber sempre mais e mais sobre a vida marinha.
É importante levar o oceano até ás pessoas, e as pessoas até ao oceano, porque só assim percebemos o quanto ele é imprescindível para a continuidade da nossa existência, e o quanto é urgente, mudar os nossos hábitos e cuidarmos dele.
Poder filmar as inúmeras espécies que nele habitam, captar momentos únicos e incríveis no seu habitat natural e sentir toda esta vida do Oceano foi o que sempre me imaginei a fazer.
Hoje estou no lugar certo, no momento certo, e tenho muitos sonhos para concretizar no mundo azul.
Quero que os portugueses percebam a riqueza que existe no fundo do mar da nossa imensa costa, da quantidade de vida selvagem que passa por aqui, do orgulho que nós devemos ter do que aqui temos e de como temos de o proteger, do lixo e da sobrepesca. Sempre que mergulho ou até mesmo quando vou à praia procuro sempre tirar o lixo que encontro da zona onde estou. A maioria dos mergulhadores faz isso, é impossível mergulhar e não ficar apaixonado pelo que vê e como diz o ditado, quem ama, cuida. E no meu futuro vou continuar a fotografar e filmar o fundo do mar, a divulgar o trabalho dos biológos e as maravilhosas espécies marinhas dos nossos belíssimos jardins subaquáticos. Não vejo outro futuro para mim que não seja esse.”