
Foi com determinação que a cantautora portuguesa Cátia Mazari Oliveira, mais conhecida pelo nome artístico de A Garota Não, subiu ao palco da edição dos Globos de Ouro de 2023 para ganhar o prémio de Melhor Intérprete, na categoria Música.
Numa nota bem disposta começou por dizer a César Mourão, que antes tinha feito humor com os clichés usados pelos vencedores durante os seus discursos de agradecimento, que “estava à espera de ganhar”. Piadas à parte, as suas primeiras palavras foram dedicadas ao pai, presente na plateia em dia de aniversário: “ele deu-me muito, eu devo-lhe muito!” Agradeceu depois a todos que a apoiam, destacando o “nome incontornável” do produtor e guitarrista Sérgio Mendes.

Mas o momento verdadeiramente surpreendente surgiu quando, em vez do tradicional discurso, a cantora declamou um poema da sua autoria e de cariz interventivo.
Vivemos o tempo dos Budas,
das flores de plástico e das cómodas douradas
E rimos muito alto,
por cima da música alta das esplanadas
Vivemos no tempo da kombucha,
do coaching, das soft skills e da gratidão
Saibamos agradecer aos bancos os juros
que no cobram na habitação
Vivemos os tempo mais corrido de sempre,
das metas, dos objetivos, do nem que me esfarrape
Não há esforço que não valha a pena,
seremos todos Luft-Tap
Vivemos tempos de maioria absoluta,
do posso e mando, da meritocracia
O mérito mede-se a partir dos dentes,
das notas do colégio ou da demagogia
Obrigada por esta oportunidade,
um globo de ouro nas mãos de um ser tão falho
Há quem tenha muita sorte,
a sorte, a mim, tem-me dado muito trabalho.”
Carlão, que, com os restantes membro dos Da Weasel, ganhou o Globo de Ouro para Melhor Actuação, na mesma categoria, viria depois a dirigir-se a Cátia no seu próprio discurso de agradecimento: “Garota Não, mataste isto hoje!”