Rita Corrêa Mendes

Passou pelas áreas de moda e beleza e agora junta-se à Ó Capital e à Sara do Ó, para lançar a Hug, empresa que aborda o processo de envelhecimento de forma holística, num novo desafio profissional que encara como uma grande oportunidade de fazer a diferença numa sociedade que ainda vê a velhice como tabu.

A ACTIVA falou com a empreendedora para ficar a saber mais sobre a Hug, que conta já com uma rede de apoio domiciliário a nível nacional, duas lojas geriátricas e que, em breve, vai abrir um Clube, que promete devolver a vontade de viver aos idosos.

Como surgiu a ideia de criar a Hug, depois de anos ligada à beleza e à moda?

Cresci e sempre vivi com uma sede imensa de me desenvolver pessoalmente e de elevar cada vez mais a minha consciência enquanto ser humano. A minha própria vida pessoal se encarregou disso, mas também toda a minha vida profissional foi um grande impulsionador e professor neste desenvolvimento. O impacto emocional que a beleza tem na vida das pessoas sempre foi o que mais me atraiu neste setor e contribuiu sem dúvida para a busca incessante de aliar propósito à minha atividade profissional.

Para além disto, sempre fui uma pessoa com vontade de desafiar o status quo e de trazer para a discussão temas tabu ou pouco convencionais, e o envelhecimento é um tema que é obrigatório trazer para discussão para mudar mentalidades e fazer mudanças.

Por tudo isto, sei que a Hug inicia um capítulo na minha área profissional que quem me conhece não estranha! Há convites na vida que nos batem à porta e que nos fazem ganhar uma clareza de consciência tão forte que perante ela é impossível ficar de braços cruzados. E foi de braços abertos que me juntei à Ó Capital e à Sara do Ó, Presidente do Conselho de Administração da Ó Capital, que me desafiaram, no final do ano passado, a juntar-me à equipa para continuar a desenvolver e liderar este projeto tão ambicioso.

 A Hug é sem dúvida uma nova oportunidade de aplicar este desejo persistente de fazer a diferença no mundo ao meu redor e contribuir para a mudança de paradigma do que é o envelhecimento e como se deve vivê-lo e encará-lo.

Qual a mais-valia da Hug em relação a outros serviços nesta área?

A Hug é a primeira empresa que olha para o processo de envelhecimento através de uma abordagem e oferta 360° alicerçada numa visão holística que incorpora as necessidades de cuidados a longo prazo em termos físicos, psicológicos e sociais para o bem-estar e a qualidade de vida da pessoa idosa, através de Serviços de Apoio Domiciliário, Lojas Geriátricas e um Clube com programas e atividades que permitem combater o isolamento e simultaneamente fomentar a atividade física e intelectual dos nossos clientes.

Partimos, convictos, da premissa de que não há nada como envelhecer em nossa casa, envolvidos pela familiaridade do nosso bairro, dos nossos amigos e de tudo o que compõe a nossa vida. Valorizamos os detalhes da vida quotidiana, e mais do que os cuidados físicos e logísticos queremos assegurar que trazemos alegria e estímulo intelectual ao dia a dia do idoso, resgatando prazeres perdidos, reavivando antigas paixões perdidas e que no meio do processo de envelhecimento foram esquecidas pelo medo ou pela falta de esperança e espontaneidade que o declínio e a perda das nossas faculdades provocam.  Não são mudanças abruptas, mas sim valorizar e honrar pequenos tesouros que conseguem combater o envelhecimento e promover um envelhecimento mais alegre.

Conhecer a história de cada idoso, ouvir e conseguir identificar de que forma podemos impactar cada vida, com a ajuda e envolvimento da família sempre que possível. Honrar a sua história, o tanto que já contribui para a nossa sociedade e fazer a diferença no seu dia-a-dia.

Nascemos com o propósito de ajudar a impulsionar a mudança deste paradigma social e contribuir decisivamente para o incremento da qualidade de vida e da felicidade dos mais velhos e suas famílias, nas suas casas.

A Hug serve como ‘garantia’ da qualidade das cuidadoras?

Tem de servir, se não nada disto faz sentido. Pretendemos ser um selo de garantia da qualidade das nossas cuidadoras e de uma experiência de serviço, que vai muito para além do físico, e centra-se sobretudo na alegria e estímulo intelectual do idoso. É por isso que temos uma equipa dedicada ao recrutamento e processo de seleção criterioso das cuidadoras e uma equipa dedicada a garantir este serviço de excelência em casa do idoso. Juntas identificam o melhor cuidador para cada casa.

A par deste processo, temos o investimento em formação dos nossos cuidadores, onde criámos um passaporte de formação que dá acesso a várias regalias e muito importante uma pessoa dedicada a cuidar dos nossos cuidadores, vigiar e ajudar no seu bem-estar: O Gestor de Sonhos.

O mais importante de um cuidador: estar nesta área por vocação e ter o coração no sítio certo. Cuidar é um dom.

Não existem homens cuidadores?

Existem sim. E temos cuidadores homens muito qualificados a trabalhar connosco. Mas constituem ainda uma minoria.

Quais os principais problemas que enfrentam as famílias atualmente no que diz respeito à terceira idade?

Da nossa experiência, o principal problema que as famílias encontram é sem dúvida a falta de preparação e apoio para lidar com os problemas que surgem em idades mais avançadas. Na maior parte das vezes contactam-nos numa fase do processo de envelhecimento já avançado e grande parte das famílias já trazem na voz muito cansaço e exaustão física e psicológica pela situação que estão a passar. Vemos também muitas casas que não estão preparadas para esta nova realidade e o acompanhamento e vigilância da parte da segurança do idoso é essencial para evitar quedas e agravar problemas já existentes.

O principal motivo com que nos procuram é para assegurar o acompanhamento físico do idoso de forma a estarem em segurança, cuidarmos da sua higiene diária, alimentação e medicação. A isto acrescentamos o estímulo intelectual, companhia de qualidade, e a preocupação genuína em trazer alegria à vida dos nossos idosos. Como? Fazendo tudo aquilo que é necessário e que estiver ao nosso alcance para o conseguir. É uma forma de estar da empresa e de todas as pessoas que aqui trabalham.

 Vivemos tempos desafiantes (inflação, taxas de juro, etc). Quando lançou a Hug teve isso em conta?

Tive, sim.

Muitas vezes, o preço destes serviços pode ser um desafio para as famílias. Qual a proposta da Hug a este respeito e que posição assume neste mercado?

Queremos acima de tudo prestar um bom serviço e ir além do que se faz atualmente em Portugal na área de apoio domiciliário. Estamos muito focados no recrutamento, na formação e no acompanhamento que damos aos nossos idosos e queremos ser reconhecidos por isso.

Fala-se muito de cuidados de saúde. Fala-se pouco da saúde mental dos idosos?

É exatamente essa a nossa preocupação. Os cuidados de saúde são a razão pela qual nos procuram, mas o nosso grande foco (não descurando a saúde e os cuidados físicos) é precisamente a saúde mental. Segundo dados do INE de 2019, mais de 30% da população idosa apresenta sintomas de prevalência de depressão. Os principais motivos associados são o isolamento, a desconexão social e o desenvolvimento de outras patologias do foro mental. E nós conseguimos ver isto de forma muito clara nos nossos clientes. Mas infelizmente é uma parte ainda descurada e pouco valorizada pelas famílias, a saúde física acaba sempre por ser mais gritante e obrigar a uma intervenção mais rápida. No nosso atendimento, quer seja em fase de diagnóstico, quer seja em fase de acompanhamento do idoso estamos atentos, fazemos os alertas às famílias e temos disponível, caso a família concorde, a possibilidade da intervenção de psicólogos para seguirem os idosos nas suas casas. Mas é uma decisão final das famílias, onde importa conta muito a colaboração do idoso e a capacidade financeira para suportar o custo.  

Tendemos a infantilizar os nossos idosos e a perder algum respeito por eles?

Infelizmente, em muitas culturas e sociedades, tende-se a infantilizar os idosos e, por vezes, a perder o devido respeito por eles.

É um dos preconceitos que fazem parte do fenómeno do idadismo e que acaba por ser provocado pela própria sociedade onde vivemos: culto da juventude e da beleza, falta de contato social com a comunidade e com assuntos da atualidade, falta de literacia sobre o envelhecimento e pouca empatia e sensibilidade com o próximo.

Por isso falamos muito em defesa da dignidade dos idosos na nossa abordagem: igualdade, respeito, integridade física e emocional e autonomia.

O que tem de fazer uma pessoa para ter acesso à rede de cuidadoras e ao clube?

Estamos disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana por telefone, no site grupohug.pt, nas redes sociais e nas nossas lojas aberta de 2ª feira a Sábado em Campo de Ourique e em Alvalade.

O Clube ainda não está a funcionar mas será um espaço dedicado e inspirado por pessoas de valor, experiência e sabedoria. Pretendemos que seja um lugar onde haja espaço para voltar a sonhar, e onde mais do que sonhar, iremos ajudar a tirar os sonhos do papel. Um espaço onde a juventude e vitalidade se podem encontrar com a maturidade e a experiência de uma vida, formando uma combinação única e enriquecedora. O objetivo é formar grupos de interesse e desenharmos planos o mais personalizados possível aos grupos que tivermos. Teremos mais novidades em breve. 

Já existem duas lojas Hug, em Campo de Ourique e Alvalade

O que podemos encontrar nas lojas?

As nossas lojas pretendem, desde logo, fazer uma separação da típica loja de produtos geriátricos – muito focadas na medicalização, onde o idoso é muitas vezes retratado como uma pessoa incapaz e onde as lojas têm um ambiente frio, impessoal e inóspito. 

Entrar numa loja Hug é como entrar numa casa – com as memórias, pertences e vivências que isso implica – e encontrar todos os nossos produtos no ambiente e contexto em que são utilizados. Representamos a casa de uma pessoa idosa – com o quarto, a cozinha, a sala, etc. – adaptada com os serviços/produtos da Hug. Muitos idosos desejam permanecer nas suas casas nesta fase da vida, mas muitas vezes as habitações não se encontram adaptadas à perda de mobilidade e de capacidades que vêm com o envelhecimento. Queremos mostrar que é possível os idosos envelhecerem tranquilamente nas suas casas, com o apoio e assistência necessários. Essa é a ideia que invocamos nas nossas lojas. Queremos acima de tudo que se sintam em casa, na casa Hug. Bem acolhidos, bem-vindos, sempre, a qualquer hora e por qualquer razão!

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