A História da Economia tem sido narrada através de perspetivas masculinas, sublinhando as contribuições dos homens e os seus pontos de vista. Como prova, basta olharmos para o Prémio Nobel dedicado a pessoas ou organizações que se destacaram nesse campo: desde 1969, foi atribuído a 90 homens e apenas três mulheres.
Claudia Goldin, renomada economista de Harvard, foi a terceira laureada, a 9 de outubro de 2023, pelas décadas de pesquisa sobre disparidades salariais entre géneros. Não foi uma vitória só dela, mas de todas as mulheres na área.
Onde estão as mulheres?
Historicamente, a Economia tem ignorado o papel das mulheres. Mesmo quando o estudo da economia familiar ganhou força na década de 1970, os modelos tradicionais tendiam a simplificar os processos de tomada de decisão dos agregados familiares, ignorando as contribuições das matriarcas. Isto levou os economistas a subestimar o trabalho doméstico não remunerado e a perpetuar papéis de género estereotipados nas suas análises.
Goldin desafiou essas narrativas tradicionais centradas no homem. Através da sua investigação inovadora, chamou a atenção para os papéis e desafios económicos no feminino. As suas descobertas revelam as complexidades das disparidades salariais, enfatizando questões como os desafios que surgem após o parto. Por exemplo, as interrupções na carreira, como a licença de maternidade ou a redução do horário de trabalho para cuidar dos filhos e de outros parentes, podem reduzir os rendimentos e as perspetivas de emprego a longo prazo.
De sublinhar que a investigação da economista não atribui as disparidades salariais entre géneros à discriminação patronal. Em vez disso, as suas ideias defendem o estabelecimento de sistemas de apoio robustos. O reforço das estruturas de acolhimento de crianças, a melhoria das políticas de licença parental, a oferta de flexibilidade no local de trabalho e o reforço de políticas que apoiam as famílias com crianças podem desempenhar um papel fundamental na resolução do fosso salarial, sugerem as suas conclusões.
Na ausência de tais apoios, as mulheres continuarão a ganhar menos do que os homens depois de terem filhos.
Uma vitória de todas
O Nobel de Goldin desafia o desequilíbrio histórico de género em prémios tão proeminentes, representando um reconhecimento há muito esperado pelas contribuições das mulheres para a Economia. Dá esperança às jovens economistas de que o seu trabalho também possa alcançar tal renome.
Além disso, a sua nomeação para o prémio sublinha um ponto crucial: a Economia é uma disciplina rica e complexa que vai além das questões monetárias e financeiras tradicionais. É sobre parentalidade, cuidados infantis, as lutas das pessoas e mudanças sociais.