As mulheres que usam hijab têm um emoji que as representa graças a Rayouf Alhumedhi, que tinha apenas 15 anos quando pôs o projeto em andamento.
A jovem teve a ideia em 2006, no seu quarto em Berlim, onde vivia há cinco anos, após mudar-se com a família da Arábia Saudita para a capital alemã. Tudo aconteceu enquanto criava uma conversa de grupo no WhatsApp e apercebeu-se de que não havia um símbolo gráfico criado à sua imagem e semelhança.
Após ler um artigo que detalhava o processo surpreendentemente burocrático de criação de emojis, decidiu enviar contactar o serviço de apoio ao cliente da Apple, sugerindo a adição de um emoji com lenço na cabeça e diferentes tons de pele.
A seguir, reservou dois dias para escrever uma proposta de 10 páginas com os motivos pelos quais o emoji devia ser implementado.
“Enviei-o ao Unicode Consortium, o órgão responsável pela padronização dos caracteres do teclado, e aguardei ansiosamente por uma resposta. Decorridos alguns dias, recebi uma resposta de Jenny 8. Lee, membro do subcomité Unicode Emoji, e trabalhei com ela para tornar a proposta o mais robusta possível”.
O passo seguinte foi fazer campanha. Alhumedhi foi entrevistada por vários meios de comunicação para partilhar a sua história e a importância da representação. Também conseguiu o importante apoio de Alexis Ohanian, cofundador do Reddit.
“Atualmente, a representação é extremamente importante”, disse à BBC em setembro de 2016. “As pessoas querem ser reconhecidas, especialmente no mundo da tecnologia. Isto é importantíssimo. Os emojis estão por toda a parte”, continuou. “Há tantas mulheres muçulmanas neste mundo que usam hijab. Pode parecer trivial, mas é diferente quando nos revemos no teclado ao redor do mundo. É ótimo ter essa experiência”.
Rayouf foi convidada para fazer um pitch presencial da ideia à Unicode em San José, na Califórnia. Ao mesmo tempo, tornou-se o tema central do documentário “The Emoji Story”, que se estreou no Festival de Cinema de Tribeca. Uma semana depois da apresentação, recebeu notícias entusiasmantes: o emoji tinha sido aprovado e seria lançado dali a um ano.
“Quando finalmente chegou o dia do lançamento, atualizei ansiosamente o meu telefone, rodeada pela minha família e pela equipa de documentário na nossa sala de estar. Juntos, celebrámos, deleitando~nos com a realização de um ano inteiro de trabalho”.
Muito mais do que um emoji
Rayouf Alhumedhi decidiu agir em plena crise de refugiados, tendo acompanhado de perto a retórica em torno da entrada substancial de pessoas provenientes de vários países muçulmanos, incluindo a Síria, na Alemanha.
Segundo a própria, neste período, houve um aumento da islamofobia, fortemente propagada por grupos de extrema-direita. Um estereótipo predominante era a representação dos homens muçulmanos como ‘bárbaros’ e das suas mulheres como ‘oprimidas’. O hijab tornou-se um ponto focal desta narrativa, sendo usado como justificação para a afirmação de que as mulheres muçulmanas não têm autonomia na escolha do seu vestuário. Esta noção incomodava a jovem profundamente.
Como tal, a adolescente sentiu-se compelida a desafiar a crença generalizada de que todas as mulheres muçulmanas carecem de agência e a dissipar a ideia de que são um grupo monolítico.
“Ver-nos como tal não é apenas profundamente erróneo, mas também dá continuidade a uma perceção unidimensional que é muito comum para muitas minorias étnicas, independentemente dos seus feitos, reconhecimentos e sucesso”, explica ao Feminist. “Como utilizadora do hijab, tenho plena consciência de que muitas vezes é a primeira coisa que as pessoas notam em mim. O meu objetivo era confrontar essa perceção ‘unidimensional’”.
De sublinhar que, ao desafiar a narrativa, Alhumedhi não ignora o facto de existirem mulheres muçulmanas subjugadas a práticas que dificultam a sua liberdade de escolha. “No entanto, alegar que meio milhão de mulheres que usam lenço na cabeça são oprimidas é uma visão demasiado simplista e redutora. É este tipo de raciocínio que promove uma justificação moral equivocada para defender a proibição do hijab em vários países europeus”.
Rayouf escolheu o emoji como veículo para partilhar a sua mensagem com o mundo por três motivos: a sua ludicidade e representação do avanço tecnológico, ambos raramente associados ao hijab; e o seu amplo alcance.
A designer de produto usou as suas habilidades para o bem, iniciando um projeto que desencadearia um diálogo frutífero e ajudaria outras mulheres muçulmanas a sentirem-se vistas e representadas. Desde então, apareceu na lista 30 com menos de 30 anos da “Forbes” e foi destacada como uma das adolescentes mais influentes pela revista “Time”.