“Sou madeirense, sou escritora e sou dirigente regional e técnica superior de educação na UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta). Para quem não nos conhece, explico que a associação trabalha sobretudo com a prevenção primária da violência de género nas escolas, e também atuamos no terreno em alguns municípios. Somos ativistas, sim, reivindicamos aquilo que nos parece mais justo e fundamental.
Trabalhamos sempre em coletivo, porque só em coletivo podemos ter real impacto na sociedade. O nosso foco é no empoderamento pessoal, sobretudo de meninas e raparigas que são ainda preteridas em muitos aspetos, no que podem fazer e no que podem ser. Isto não significa que negligenciemos os rapazes, porque o caminho para a igualdade inclui todas as pessoas. Por isso, mesmo nos rapazes trabalhamos muito as emoções, sentidas e expressadas.
A maioria dos nossos eventos são abertos ao público – podem partilhar experiências, saberes, conhecimentos, ideias, opiniões e, entre todas/os, refletir, debater e atuar nas várias esferas da nossa sociedade. E todo este mecanismo, que no fundo dá vida a uma associação, tem sido extremamente benéfico. Na nossa associação, todas as mulheres têm com o que contribuir.
Também sou autora na ‘Aurora’, que publica apenas mulheres e envolve o máximo possível de mulheres no desenvolvimento de um livro (revisão, design gráfico, etc.) e tem sido mais um espaço onde tenho reaprendido que sermos unidas – e não rivais como desde sempre nos incutem – só traz vantagens: publicação de bons livros escritos por mulheres e sobre mulheres, mais vozes femininas a circular no mercado editorial e discussão de assuntos que, muitas vezes, não são abordados sob o ponto de vista feminino.
O meu livro ‘Vertigens’ aborda a amizade e a solidariedade entre duas mulheres. É um assunto que vemos pouco na literatura e quando vemos é tratado nos extremos: ou inimigas para a vida ou melhores-amigas-que-nunca-brigam. A amizade e solidariedade entre duas mulheres pode ser imperfeita, construída de tempos e momentos, como qualquer relação humana. E isto eu tenho aprendido de várias maneiras com as mulheres que fazem parte da minha vida pessoal, profissional e ativista.
A solidariedade feminina está agora a sofrer avanços e recuos porque fomos formatadas, durante muito tempo, para sermos sozinhas, individuais, competitivas, melhores que as outras, e mudar esse chip é uma aprendizagem constante que tem momentos de dúvida e incerteza para qualquer mulher. O saber ouvir, o dar espaço à outra para brilhar, o elogiar, o incentivar, o partilhar, são verbos que não costumavam fazer parte das relações entre mulheres mas que se têm mostrado fundamentais e têm sido uma aprendizagem nos últimos anos. Cresci e cresço nesse alimento, delas para mim e de mim para elas. Tenho mesmo a certeza de que juntas somos muito mais fortes.”