
Apaixonadas por flores desde sempre, Johanna Rochel e Francisca (Xica) Souto Moura criaram a Blumen, que começou por oferecer um serviço de subscrição de flores. Entretanto, o negócio evoluiu. “É um estúdio de arte floral sustentável, dedicado a criar ambientes que evocam uma sensação nostálgica, em harmonia com a beleza da natureza e com a arquitetura portuguesa, tanto antiga quanto moderna.” Usam flores sazonais e, sempre que possível, de origem nacional, aplicam técnicas ecológicas – não usam espuma floral, por exemplo – privilegiando sempre um estilo o mais natural possível.
Qual a vossa formação e percurso profissional?
Johanna: Licenciei-me e sou Mestre em Direito e trabalhei como advogada na Alemanha e em Hong Kong. Trabalhei também como advogada em escritórios e, por último, em empresas na área de Direito societário.
Francisca: Licenciei-me em Relações Internacionais e Ciência Política e completei um mestrado em Direitos Humanos, ambos em Inglaterra. Depois fui trabalhar para uma agência de comunicação em Londres, em seguida trabalhei num gabinete governamental português, e mais tarde, numa ONG internacional. Antes ainda cheguei a frequentar Belas-Artes e agora, depois de mais de uma década, acredito que voltei ao meu lado mais criativo.
Porque vieram para Portugal?
Johanna: Durante a pandemia, eu e a minha família decidimos sair de Berlim para nos aventurarmos noutro país. Como já falava um pouco de português – tendo vivido no Brasil em criança – escolhemos Portugal, e também pelo clima, gastronomia, mar e outros encantos.
Francisca: Nasci em Portugal, mas aos dois anos mudámos para o estrangeiro. E durante a pandemia, após vários anos em Londres, eu e a minha família sentimos vontade de voltar a Portugal.
Como se conheceram?
Através de uma amiga comum. Ficámos logo amigas e dois meses depois estávamos a iniciar o nosso negócio.
Como se lembraram deste negócio?
Francisca: Em Londres, tinha uma assinatura de flores semanais, Freddie’s Flowers, e vivia entre muitas floristas deslumbrantes, como, por exemplo, a Scarlet & Violet. Conhecemos também a equipa da Tattie Rose Studio – um estúdio de design floral e de cenografia, inovador e inspirador, com sede em Inglaterra.
Johanna: Em Berlim vivia ao pé de floristas contemporâneas, como a Marsano, e sempre acompanhei a minha mãe na jardinagem e no cultivo de flores de rua. Ambas tivemos vontade de experimentar e fazer arranjos com um toque nórdico, algo de diferente. Tirámos uns cursos e a seguir decidimos criar um plano de assinaturas de bouquets.

O que vos motivou a avançar? Afinal, já havia muitas outras empresas do género…
Inspiradas pelos movimentos ambientalistas na indústria das flores na Inglaterra e na Austrália decidimos criar um compromisso com a sustentabilidade. Inicialmente, vendíamos apenas ramos de flores, mas a crescente procura por arranjos para festas e eventos levou-nos a expandir a nossa oferta. Embora existam muitos floristas em Portugal, poucos têm este compromisso com a sustentabilidade. Ao mesmo tempo, a popularidade de Portugal como destino de casamentos tem aumentado, com um número crescente de pessoas que procuram opções mais ecológicas. A Blumen ambiciona fazer parte desse movimento em Portugal, impulsionada não apenas pela criatividade mas também pela conscientização ambiental.
Que principais desafios enfrentaram?
Gerir todas as áreas de um negócio – desde o financeiro até o marketing –, além de estabelecer metas e objetivos. E ao mesmo tempo estamos ativamente envolvidas na criação e execução do nosso trabalho, e também em construir relações pessoais com os nossos clientes e parceiros. Não é algo que possamos delegar. Gerir tudo torna-se desafiador, especialmente para quem tudo isto é novo, e para pessoas como nós, que vieram de estruturas muito institucionais. A parte de gestão de negócios, em particular, não é intuitiva para nós. Além disso, tem sido desafiante penetrar o mercado de eventos em Portugal por sermos novas no mercado.
Como se complementam?
Francisca: Acreditamos que o segredo do crescimento da Blumen é devido à maneira que nos complementamos. Somos as duas compreensíveis e flexíveis. Mas, por outro lado, eu tenho muito mais aversão ao risco que a Johanna, que é mais aventureira, e isso, acredito, permite-nos crescer.
Johanna: Para além disso, procuramos sempre a opinião uma da outra: tomamos decisões com uma abordagem de consultar e consentir. Se uma está a gerir um projeto, procura sempre a opinião da outra. Se existir divergências significativas, ao fim ao cabo a decisão final é da líder do projeto, enquanto a outra consente. A tensão construtiva, a diferença de opiniões e a direção artística servem para evoluirmos.

O que vos dá mais gozo no trabalho que fazem?
A parte criativa e as relações com outras pessoas – clientes, parceiros, colaboradores e outros floristas que respeitamos e admiramos.
Que conselhos dariam a uma pessoa que está a pensar criar um negócio?
Antes de começarem, façam uma pesquisa de mercado exaustiva. Falem com outras pessoas e procurem mentores que vos possam ajudar a pensar fora da caixa. Procurem programas de mentoria, ou para empreendedoras, e ferramentas financeiras, e definam bem os vossos objetivos e como lá chegar. É importante rodearmo-nos de pessoas que admiramos e que acreditam em nós, e que nos promovem, dizem a verdade e nos desafiam. Procurem complementar outros na vossa indústria, criar relações com essas pessoas e não os verem apenas como concorrência. Ser ambiciosa mas adaptável. Lembrar que falhar faz parte do processo por mais frustrante que seja.
Qual a vossa combinação de flores favorita?
Francisca: Cosmos e damas do bosque, em brancos, rosas, lilás e azuis. Simples, leve e bonito.
Johanna: Zínias e peónias. Adoro a explosão de cores das zínias e a delicadeza suave das peónias.