*artigo publicado originalmente na revista ACTIVA de maio de 2018
Ainda há muitas confusões em redor do glúten. Comecemos pelo princípio: afinal, o que é o glúten? “É uma proteína presente em vários cereais, como o trigo, o centeio e a cevada”, explica Rita Jorge, nutricionista da Associação Portuguesa de Celíacos. “Um celíaco reage a esta proteína. Tem uma doença autoimune crónica e já nasce com ela, que pode ativar-se em fases diferentes da vida.”
A doença celíaca é portanto uma resposta do organismo, que reage com uma inflamação das mucosas que revestem o intestino delgado, diminuindo a absorção dos nutrientes. Pode causar vários sintomas: inchaço abdominal, diarreia ou obstipação, perda ou aumento de peso, irritabilidade, vómitos, etc. No caso dos adultos há sintomas que podem ser mais atípicos, como anemias, alterações psiquiátricas, carência de vitaminas e minerais e até infertilidade.
Principais carências
Alguns celíacos podem ter níveis reduzidos de vitaminas e minerais, principalmente vitaminas do complexo B, D, E e os minerais cálcio, zinco, ferro e selénio. Níveis reduzidos de ácido fólico e vitamina B podem causar anemia, a deficiência de zinco pode causar lesões na pele, níveis reduzidos de vitamina D e cálcio podem comprometer a saúde óssea, a falta de selénio pode afetar o funcionamento normal do sistema imunitário e da tiroide, e causar mesmo problemas reprodutivos.
Dos celíacos aos intolerantes
Também há quem não seja celíaco mas intolerante ao glúten. “Uma intolerância não é genética, não é para a vida e não tem uma componente imunitária, embora os sintomas sejam principalmente gástricos e intestinais”, explica Rita Jorge.
Se passou muito tempo sem ser diagnosticada, a pessoa pode apresentar carências em vitaminas e minerais. “Depois de diagnosticada, é suposto a pessoa recuperar. Mas tudo depende da alimentação: fruta, legumes, carne, peixe e ovos devem ser ingeridos.” Há casos em que é preciso fazer uma suplementação, embora geralmente uma alimentação variada seja suficiente.
Um celíaco costuma ser diagnosticado entre os 6 e os 20 meses, quando é pela primeira vez exposto aos cereais. “Mas pode chegar a adulto sem saber que é celíaco, porque o gene pode, ou estar adormecido, ou os sintomas não serem valorizados pelos médicos. Grande parte da população tem o gene mas nem toda a gente desenvolve a doença.” Mesmo que se sinta melhor quando retira o glúten, nunca o deve fazer sem antes ser testada, porque pode estar a ‘mascarar’ um verdadeiro diagnóstico. “Não cumprem a dieta a 100% e mais tarde podem ter patologias graves e nunca vão conseguir confirmar o diagnóstico porque vão ser ‘falsos negativos’. A quem não for intolerante ou celíaco, não faz sentido retirar o glúten.”