*artigo publicado originalmente na revista ACTIVA de agosto de 2018
Lâmina, cera ou laser? Ao chegar à idade adulta, a maioria das mulheres já escolheu a sua arma na luta contra os pelos, mas enquanto nas pernas ou nas axilas a questão estética não tem grande impacto na saúde, nos genitais a remoção dos pelos é nociva para a saúde. Quando, em 2000, a série ‘Sexo e a Cidade’ dedica um episódio à decisão de Carrie Bradshaw fazer uma depilação à brasileira (remoção total dos pelos púbicos), percebeu-se que a moda ia pegar. Se juntarmos a isso o facto de muitos adolescentes terem um primeiro contacto com corpos nus em sites pornográficos, a ideia com que ficam é que não ter nenhum pelo é o que está certo. Mas não pense que é uma tendência moderna. Já no Antigo Egito, Grécia Antiga e Império Romano, era comum as mulheres – sobretudo as de classes abastadas – removerem todos os pelos, inclusive nos órgãos genitais, porque era visto como um sinal de pureza, civilização e de higiene (para fugir à ‘visita’ indesejada dos piolhos púbicos).
No entanto, no outro lado do mundo, na China, a atitude era a oposta e a sua abundância era vista como um sinal de paixão e sensualidade. Até os termos chineses que os designam são muito poéticos: ‘erva fragrante’, ‘rosa negra’, ‘musgo’ ou ‘terraço do sol’.
Serão então apenas um ornamento dispensável de acordo com a nossa ideia de estética? Não! Vários estudos confirmam uma ligação entre a ausência de pelos púbicos e o aumento de infeções sexualmente transmissíveis, como verrugas, candidíase, herpes, gonorreia ou HPV (vírus do papiloma humano). Dizemos-lhe porquê.
Se existe, logo penso!
A Natureza não faz nada ao acaso, por isso, se temos pelos púbicos é porque servem para alguma coisa. “São um mecanismo de defesa contra a entrada de microrganismos nocivos”, alerta a ginecologista M.ª Augusta Rebordão. Além de protegerem da fricção e manterem os genitais à temperatura adequada. Ao removê-los, a pele fica irritada, sofre microabrasões, pequenas feridas que são uma via rápida de entrada de vírus e bactérias. No fundo, estamos a retirar uma barreira física contra a entrada de“microrganismos nocivos que provocam infeções vulvovaginais. Estas são tratadas com medicamentos, mas podem tornar-se recorrentes e criarem resistência à terapêutica e assim darem origem a problemas de saúde crónicos”, alerta a ginecologista. E não podemos esquecer que “vivemos em constante stresse, o que diminui a nossa imunidade; usamos e abusamos de antisséticos, de antibióticos, optamos por vestir roupa muito apertada, que não deixa a pele respirar, e cuecas fio dental que prejudicam o equilíbrio da flora cutânea e vaginal e facilitam o aparecimento de infeções bacterianas ou por fungos, por exemplo. Tudo isto vai ter impacto na nossa saúde! Não posso proibir as pessoas de fazerem o que querem, mas aconselho sempre as minhas pacientes a não fazerem remoção total dos pelos. Por uma questão estética, talvez só tirar nas virilhas”, remata a especialista.
Uma questão de higiene
Este é ainda o argumento usado por muita gente para rapar tudo, mas enquanto em outros tempos esta era a prática aconselhada para evitar ou acabar com infestações de bicharada incómoda, atualmente sabe-se que é mais higiénico para os órgãos sexuais femininos manter a sua pilosidade natural porque ajuda aquela zona a ‘respirar e transpirar’. Para estar tudo num brinco basta ter alguns cuidados básicos, como tomar banho diariamente com um simples sabão neutro e água morna.
Reação e contrarreação
São muitas as celebridades que têm vindo a público defender um look au naturel ali em baixo. Cameron Diaz foi uma delas e até publicou o ‘The Body Book’, com um capítulo dedicado à defesa dos ‘pubes’: “Os pelos púbicos são como uma bela cortina que torna tudo mais misterioso e despertam a curiosidade de um amante que queira ver mais de perto o que tenhamos para oferecer.” Também nos filmes e televisão, o corpo feminino passou a ostentar alguma pilosidade. Em fevereiro deste ano, na Semana de Moda de Nova Iorque, o criador coreano Kaimin deu que falar porque as suas modelos desfilaram na passerelle meio nuas mas com perucas vaginais. Também as vozes de atrizes como Gwyneth Paltrow, a socialite Khloe Kardashian, a modelo Ashley Graham, fizeram-se ouvir a favor dos pelos púbicos. Pode ser que aos poucos estas vozes aumentem e consigam mudar ideias-feitas de que só as mulheres e os homens depilados é que são atraentes. A noção do que é belo depende de cada um e não nos deve ser imposto, nem devemos fazer algo que nos incomode só para agradar aos outros. Já nos basta os comentários que se ouvem todos os dias ‘demasiado baixa, demasiado alta, demasiado magra, demasiado gorda…’, agora que tem nas suas mãos informação sobre este assunto depende de si soltar o grito do Ipiranga, qualquer que seja a opção final!