A amamentação é muito importante para todos os recém-nascidos. Desde 1991, a Organização Mundial de Saúde, em associação com a UNICEF, tem vindo a empreender um esforço mundial no sentido de proteger, promover e apoiar o aleitamento materno. As recomendações são as seguintes: início do aleitamento materno dentro da primeira hora após o nascimento; aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses; amamentação continuada por dois anos ou mais, juntamente com outros alimentos, nutricionalmente adequados e apropriados para a idade, a partir do sexto mês.
A amamentação tem particular importância para os bebés que nasceram antes do tempo: os prematuros têm aumento do risco de várias complicações de saúde, e portanto os componentes bioactivos do leite materno podem ter um papel absolutamente crucial.
Os prematuros têm compromisso da resposta imunitária, órgãos imaturos (pequenos e pouco desenvolvidos), incluindo o cérebro, e são susceptíveis à lesão inflamatória e a stress oxidativo (potencial de lesão de todos os componentes celulares). Como exemplo podemos enumerar a diminuição do risco de infeções graves, retinopatia da prematuridade (que pode provocar a perda de visão) e displasia broncopulmonar (uma doença pulmonar crónica). Para além disto, os bebés prematuros alimentados com o leite das suas mães tendem a ter alta mais cedo do que os que são alimentados com leite de fórmula e, também, têm menos probabilidade de serem readmitidos no hospital no primeiro ano de vida. A longo prazo melhora o desenvolvimento mental e físico.
Só em Portugal a prematuridade corresponde a cerca de 8% de todos os nascimentos, sendo que a maioria destes prematuros são os chamados “prematuros tardios”, ou seja bebés que nascem entre as 34 e as 36 semanas e seis dias de idade gestacional.
Embora estejam bem documentados os benefícios do leite materno nesta população vulnerável, os estudos mostram que a amamentação – o seu início, duração e de ocorrer de modo exclusivo são significativamente menores que em bebés de termo.
Porque é que isto acontece?
Existem muitos mitos em relação à amamentação neste grupo etário que dificultam o sucesso. Por exemplo, muitas pessoas pensam que todos os bebés prematuros precisam de leite de fórmula, ou que os bebés prematuros não podem ser colocados à mama, ou ainda que necessitam de aprender a mamar em tetinas/biberão.
Na realidade a amamentação direta na mama deve ser a primeira alimentação oral oferecida ao bebé prematuro, sempre que a situação clínica assim o permita.
As mães podem necessitar de extrair leite para suplementar as necessidades nutricionais do seu filho prematuro, pois o bebé pode não ter ainda a maturidade suficiente para transferir a quantidade de leite necessária ao seu crescimento, por outro lado a mãe assim pode manter a adequada produção de leite.
Para além dos mitos, existem também dificuldades inerentes à prematuridade: por causa da sua imaturidade, os prematuros podem adormecer com mais facilidade antes de terem terminado uma mamada (o que muitas vezes é erradamente interpretado com estando saciados) e terem menos energia e mais dificuldade com a pega, sução e deglutição do que um bebé de termo. Para além disto, têm maior dificuldade em manter a temperatura corporal, aumento da vulnerabilidade à infeção, aumento do atraso da excreção da bilirrubina (podendo resultar em icterícia patológica) e maior instabilidade respiratória que o recém-nascido de termo. Maior risco de hipoglicemia, perda de peso excessiva, desidratação, má progressão ponderal, desidratação, rehospitalização e falência da amamentação.
No serviço de Neonatologia do Hospital CUF Descobertas estão, com frequência, internados recém-nascidos prematuros. A equipa está muito sensibilizada para a promoção do aleitamento materno neste grupo, e tem a formação e competência para ajudar os pais. Os bebés prematuros ficam junto das mães sempre que possível, as mães são incentivadas a extrair leite precocemente quando afastadas dos seus filhos (por motivos clínicos), a amamentação direta na mama iniciada o mais breve possível, assim como o contacto pele-a-pele.
É dado apoio durante o internamento e, não menos importante, após a alta, pois sabemos que este acompanhamento é fundamental para o sucesso do aleitamento materno neste grupo em particular.
A abordagem da amamentação nos prematuros é desafiante, quer para pais, quer para profissionais de saúde, pois estes têm maiores dificuldades quando comparados com recém nascidos de termo. Só quando este conceito está presente, é possível fazer resultar a amamentação neste grupo etário.