Um recente estudo científico publicado recentemente na revista oficial da Academia Americana de Pediatria (The American Academy of Pediatrics) revelou que o tratamento com células estaminais favorece a rápida recuperação de crianças com Síndrome Inflamatorória Multissistémica em Crianças (MIS-C), doença rara que surge na sequência da infeção por SARS-CoV-2. Em Portugal, dezenas de crianças já foram afetadas.
Foram incluídas no estudo duas crianças, de 4 e 10 anos, diagnosticadas com a doença, tratadas recorrendo a um produto de terapia celular – designado Remestemcel-L – à base de células estaminais mesenquimais da medula óssea. A opção por este tipo de células teve em conta os seus efeitos anti-inflamatórios, de regulação do sistema imunitário e de estimulação da reparação de tecidos danificados e da formação de novos vasos sanguíneos. As crianças receberam duas infusões intravenosas de Remestemcel-L, com 2 dias de intervalo, que resultaram na normalização da função cardíaca e da inflamação. Esta recuperação permitiu que tivessem alta entre 2 a 5 dias após o segundo tratamento com células estaminais.
Ambas as crianças tinham sido inicialmente tratadas com medicação convencional, incluindo corticosteroides e anticoagulantes. No entanto, embora se tenha observado alguma melhoria no estado clínico, houve vários parâmetros importantes que continuaram a apresentar valores anormais, nomeadamente os marcadores inflamatórios e de insuficiência cardíaca (regulados, posteriormente, com o Remestemcel-L).
A Dr.ª Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, explica: “tendo em conta o sucesso do tratamento destas duas crianças, a utilização de células estaminais mesenquimais parece constituir uma opção terapêutica promissora no tratamento da síndrome inflamatória multissistémica pediátrica associada à Covid-19”. Até à data, aproximadamente 1100 pessoas, incluindo 311 crianças, foram já tratadas com o Remestemcel-L, com um perfil de segurança e eficácia favorável.
A MIS-C pode surgir devido a uma desregulação do sistema imunitário, na sequência da infeção pelo vírus. Desde a primeira vez que foi descrita, na Europa, em abril de 2020, a sua prevalência tem vindo a aumentar. Febre alta persistente, erupções cutâneas, conjuntivite e dores no corpo são sintomas comuns em crianças com esta doença, que podem ser seguidos de sintomas mais severos, decorrentes da insuficiência cardíaca que frequentemente desenvolvem. A taxa de mortalidade é baixa, mas a doença requer internamento hospitalar e pode levar a consequências graves, como a falência de vários órgãos.